A APOSTA

Capítulo 6

Anastásia

— Uau, você e o Elliot então? — Kate ruboriza com a minha pergunta.

Mia passa o pincel do esmalte, cobrindo a unha com o rosa com glitter e solta uma risadinha.

— Bom, nós estamos nos conhecendo... Vocês sabem... Eu quero ir com calma.

— Eu vou amar ter a minha amiga como cunhadinha. — Kate morde o lábio inferior, disfarçando o sorriso. — Aliás, as minhas amigas! — Mia olha para mim. — Já pensaram nisso? A Kate e o Elliot e a Ana e o Christian! Seria incrível.

Eu me engasgo, tossindo compulsivamente.

Meu rosto queima e eu desvio os olhos dos de Mia, olhando para Kate que arqueia uma sobrancelha.

Kate sabe dessa obsessão idiota que eu tenho por Christian Grey desde os meus doze anos de idade.

— Mia, você diz cada coisa. — eu tento disfarçar o meu rubor.

— Ué, eu só estou falando a verdade. Eu prefiro que os meus irmãos namorem com as minhas amigas, do que com qualquer umazinha. — ela diz como se fosse algo simples. — Ana, diz a verdade, o Christian não é o cara perfeito pra você? Vocês são bonitos e gostam de estudar números, aposto que fariam um casal e tanto.

Batidas na porta interrompem o raciocino de Mia. Ela olha sobre os meus ombros.

— Mia, onde estão as chaves do meu carro? — uma voz que eu bem conheço pergunta.

Christian.

Mia revira os olhos e abre a gaveta da mesinha do lado da cama.

— Obrigadinha, irmãozinho. — Mia levanta da cama e entrega as chaves ao Christian, tomando cuidado para não borrar as unhas recém pintadas. Ela fecha a porta e volta a se jogar na cama.

E então eu me dou conta.

Será que o Christian ouviu alguma coisa?

Ou pior, será que a Mia já comentou com ele sobre isso?

Meu Deus.

O que ele vai pensar?
O que ele pensa sobre isso?

Meu Deus!

Não seja idiota, Anastásia. Não interessa o que Christian pensa ou deixa de pensar, nós nunca passamos de um diálogo de mais de dez palavras. Eu e ele nunca tivemos e nem teremos nada, nunca.

E óbvio que parte dessa certeza vem de como ele me olha, Christian nunca pareceu se interessar por mim, salvo pelo episódio de alguns dias atrás, na piscina.

Aquele dia foi estranho...

— Que tal se nós fôssemos ao shopping e fizéssemos algumas comprinhas? — Mia sugere, ela deita a cabeça no meu ombro.

— Mia, o meu irmão volta amanhã. Eu quero ajudar a minha mãe e a Eva.

Mia gruda ainda mais no meu ombro, agarrando o meu braço e me olhando com os olhos azuis pidões.

— Ana, por favorzinho. Você pode comprar um presente para o Ethan no shopping!

Eu considero, olhando entre Mia e Kate.

— Tudo bem, mas nós precisamos voltar antes do jantar.

Mia pula da cama e corre para o seu closet.

Kate olha para mim, com aquele olhar afiado que eu bem conheço.

— Assim ela vai perceber.

— Kate, não faz a menor diferença se a Mia souber ou não. Nunca aconteceria nada, você sabe.

— Se a Mia perceber, no mesmo dia o Christian vai ficar sabendo, você sabe como a Mia é, Ana. — ela pula da cama. — Se você não quer isso, é bom começar a disfarçar. — Kate estica a mão para mim, seguro e ela me puxa para o seu lado. — Você é linda, sabe que sim. Talvez seja hora de esquecer o Christian e pensar mais em você, Ana. Tem tantos caras legais e bonitos por aí. — ela diz. — Talvez você precise sair para beber e dar uns beijinhos por aí, quem sabe você não encontra um gatinho só seu como aconteceu comigo? — solto uma gargalhada sincera.

— Quem diria hein, Katherine Kavanagh toda apaixonada?

Kate ri enquanto seu rosto cora em um vermelho escarlate.

— Não seja boba. Agora vem, vamos às compras!

***

— Hmm, olha só quem chegou. — Eva é a primeira a notar a minha presença. Dou um beijo na sua bochecha.

Eva trabalha aqui em casa desde muito antes do meu irmão e eu nascermos. Ela me viu crescer e cuidou de mim desde sempre. É como alguém da família para nós. Na verdade ela já é alguém da família.

— Fui ao shopping com as meninas. Comprei um presente para o Ethan. — digo exibindo o embrulho de presente.

— Já estamos terminando com as sobremesas.

Deixo o presente e as minhas bolsas sobre o banquinho e me aproximo da minha mãe. Deito a cabeça no seu ombro enquanto observo ela colocando os morangos no topo do bolo de red velvet. O bolo preferido de Ethan. Remete a nossa infância, mamãe sempre fazia esse mesmo bolo em todos os nossos aniversários ou comemorações em família.

— Você sabe que horas ele chega amanhã? — pergunto enquanto roubo alguns morangos.

— O voô é as nove da manhã, então ele deve chegar antes do jantar.

Ethan foi estudar direito na faculdade de Oxford, no Reino Unido. Minha mãe surtou, claro. Ela não suportava a ideia de que um de nós fosse para tão longe. Apesar de irmos para Europa visitar o meu irmão sempre que possível, não é a mesma coisa para os meus pais. E eu entendo eles. Se eu sinto falta do meu irmão, posso imaginar o que a nossa mãe sente. Ethan e eu sempre fomos bons amigos. E ele é apenas quatro anos e alguns meses mais velho que eu.

— Você nos acompanha amanhã no aeroporto, querida? — concordo.

Fico mais um pouco conversando com a minha mãe e Eva, e vez ou outra roubando morangos e mais alguns docinhos. Faço o meu caminho para o meu quarto, tomo um banho quente e leio o artigo da eletiva dessa semana. Não quero acumular conteúdo.

Nosso próximo encontro é a sexta-feira, para termos algum dia para fazer a análise do artigo.

Respiro fundo, minha cabeça explodindo quando eu deito na cama.

Então a cena de mais cedo no quarto de Mia me atingindo com força.

Eu gemo de frustração.

Não é como se Christian fosse vir atrás de mim ou algo assim, mas o meu lado irracional gosta de me pregar peças me fazendo acreditar que sim.

Me forço a fechar os olhos e enterrar os pensamentos.

Seja racional, Anastásia.

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