Capítulo 34

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Anastásia

— Mãe, por favor.

— Não, Ana. Nós não vamos atrás do seu pai, eu não quero que você se sobrecarregue tanto assim. Chega.

Eu estou desesperada, não consigo pensar no que o meu pai pode fazer. Ele estava de um jeito que eu nunca tinha visto antes, o meu pai sempre foi tão calmo, sempre resolveu as coisas com cautela.

Ele nunca tinha sequer levantado a mão pra mim.

— E de qualquer forma o Ethan está com o Raymond.

Eu sinto calafrios só de pensar que o meu pai pode ir as vias de fato com o Christian, e pior, que o meu pai pode se prejudicar de alguma forma com isso.

Por minha causa.

Eu causei tudo isso.

— Eu sei que você está com medo, mas depois do que o Raymond fez aqui, eu não vou permitir que você faça essa loucura.

A Eva surge na sala com a caixinha de curativos e medicamentos.

— Aqui, Carla.

— Obrigada, Eva. — a minha mãe pega a caixinha, abre e uma puxa gaze. — Agora vamos arrumar essa bagunça.

Ela limpa o meu lábio inferior, o lugar do corte, e faz um pequeno curativo.

A minha mãe também faz uma pequena compressa na minha bochecha, exatamente onde o meu pai me bateu.

— Aqui, querida. — a minha mãe me estende um comprimido. — Para que você não sinta dor. Pode ficar despreocupada, não vai fazer mal para o bebê.

É o que menos me importa agora.

Eu tomo o remédio.

— Obrigada, mãe.

A dor que eu estou sentindo não é física. As palavras e atitudes do meu pai doeram muito mais do que a agressão física.

A minha mãe se senta do meu lado, ela beija a minha bochecha e agarra a minha mão.

— Só quero que você saiba que independente do que aconteça eu estou do seu lado. Sou a sua mãe e vou
te apoiar e ajudar no que eu puder, mesmo que o seu pai não faça o mesmo, mesmo se o Christian resolver se comportar como um moleque e fazer o que muitos homens ainda fazem por aí.

— Obrigada, mãe. De verdade.

A minha mãe beija a minha testa.

Deito no seu colo.
Fecho os olhos, a minha mãe acaricia os meus cabelos.

— Mãe. — Ethan. Abro os olhos.

Ele olha pra mim, e palavras não precisam ser ditas, eu já consigo imaginar o que aconteceu.

— O Raymond não veio com você? — a minha mãe pergunta, eu sinto decepção na sua voz.

— Não... As coisas não aconteceram como o meu pai queria... — ele olha pra mim. — Sinto muito, Annie.

Eu já sei exatamente o que aconteceu:
O meu pai explodiu, porque o Christian obviamente deve ter se comportado como o idiota que ele é.

Eu já esperava.

***

Eu passei os último dois dias trancada no meu quarto. Eu não consigo sequer ver o meu pai sem ter vontade de chorar.
O meu pai sai cedo e chega em casa tarde. Ele sai para beber todos os dias, um dos maiores motivos de brigas dos meus pais. Eles estão vivendo uma crise no casamento. Eu nunca tinha visto os dois discutindo como agora.

— Ana. — minha mãe entra no meu quarto com uma bandeja nas mãos. — Você precisa comer.

— Estou sem fome, mãe.

Ela se aproxima da cama.

— Ana, vamos, você precisa se alimentar. — eu me sento.

— Eu não quero comer nada.

— Mas vai comer pelo menos um pouco, já tem dias que você não se alimenta direito. E principalmente agora precisamos dar atenção a sua alimentação, você está grávida.

Aperto os olhos.

— Talvez não por muito tempo. — sussurro.

— O que, Anastásia?

— Eu não quero esse bebê, mãe. Eu não quero ser mãe agora.

Minha mãe deixa a bandeja com o café da manhã de lado e senta na cama. Ela segura a minha mão e respira fundo.

— Eu sabia que uma hora precisaríamos conversar sobre isso. Eu entendo que você está com medo e magoada, porque eu sei que alguma coisa séria aconteceu. E eu também sei que por algum motivo você não quer me contar.

— Mãe, o meu pai me odeia por causa dessa gravidez. Eu vou precisar parar com a minha vida quando esse bebê nascer. Eu não quero isso.

Eu não quero que a minha vida vire de cabeça para baixo de uma hora pra outra.

— O seu pai está agindo mal, e nós duas sabemos muito bem disso, ele está agindo como se uma gravidez fosse um monstro de sete cabeças e as coisas não são bem assim.

— Eu não quero ser mãe, eu não quero um filho do Christian.

Seria um laço eterno. E eu só quero distância de alguém tão baixo e egoísta como o Christian. Eu quero que aquele desgracado fique longe de mim. Esse bebê me lembraria todos os dias sobre o que aconteceu, sobre como o Christian brincou comigo e me magoou.

— Você tem certeza que quer fazer um aborto?

Esfrego o rosto.

Eu nunca pensei que um dia eu precisaria cogitar a ideia de pensar em fazer um aborto em algum momento, aqui em Nova York o aborto é legal, então essa parte não seria o problema. O maior problema é se eu teria de fato coragem para prosseguir com isso.

— O direito sobre o seu corpo é seu, apesar de não concordar nada com isso, e de não querer que você faça isso consigo mesma, eu vou procurar te entender de alguma forma.

— Eu não quero esse bebê, mas eu tenho tanto medo... — digo chorando.

— Eu também tenho medo de que um dia você sofra, porque você sabe que pode se arrepender e se culpar por isso em algum momento.

Eu sei que eu posso me arrepender algum dia se decidir seguir em frente, porque sei que o processo vai ser marcante e definitivo.

— Tudo ainda é muito recente, você é muito jovem para ser mãe, e eu devo confessar que eu não esperava ser avó agora. Mas penso que se aconteceu é porque tem uma razão. — abaixo a cabeça. — Eu não vou te condenar por pensar em algo que querendo ou não é um direito seu. Mas é uma decisão que você precisa avaliar e ter maturidade na hora de decidir o que fazer.

— Mãe, eu só quero que isso tudo acabe. Eu não aguento mais. — minha mãe me puxa para um abraço. — O Christian nunca vai aceitar esse bebê.

— O Christian pode não aceitar, mas você pode aceitar e escolher ter esse bebê. E eu tenho certeza que você vai se sair muito bem nesse papel de mãe. Basta você aceitar, filha. A escolha é sua.

Deito a cabeça no seu ombro.

De certa forma a escolha é minha.

Minha escolha.

















{...}

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