Era noite, e o príncipe andava até a ferraria pela escuridão gélida, pois mesmos seu casaco de pele cheio de pelos não conseguia mantê-lo aquecido o suficiente. Não era acostumado ao frio do lado de fora do castelo, por isso necessitava de um abrigo antes que congelasse.
O clima no castelo estava pesado a dias, e dês do dia em que seu tio anunciou a todos que o reino havia falido que ele não sai de seus aposentos, angustiado, culpando-se a si mesmo por toda a desgraça que aconteceu. Até seu pai se entristeceu, a ponto de chorar escondido nos cantos do castelo pelo estado do irmão.
Mas diante de todo o sofrimento alguém mantia o meio ruivo feliz, e este alguém era o ferreiro que esperava ver. Não sabia se ele foi trabalhar hoje por conta de seu machucado, mas mesmo assim veio, preocupado para ver como ele está.
Seu coração bateu mais rápido quando viu uma luz vindo da janela do estabelecimento do Midoriya, sentindo seu corpo frio se aquecer. Ao entrar percebeu a diferença de temperatura de fora para dentro, apreciando o calor da fornalha em suas bochechas o acolhendo com um abraço quente e aconchegante.
Era como se tivesse atravessado as portas do paraíso.
Notou o mesmo sentado atrás de seu balcão olhando para o nada, tão distante que nem sequer o ouviu entrar, assustando-se consigo quando o notara alí.
— Hei senhor Todoroki! Tem treinado os golpes de espada do jeito que lhe ensinei?! — disse com um sorriso, abandonando aquele ar sério e pensativo de segundos atrás.
Aquele sorriso.
— É o que mais tenho feito, e você e sua mão, estão bem? — a mesma não parecia tão inchada ou pulsante quanto antes, não dando para ver sua coloração por conta da faixa.
— Estamos melhor sim! Ainda dói quando a movo, porém vou melhorar — falou ainda imerso em seu mundo, concentrado em algo de sua cabeça, voltando com sua expressão seria sem sequer perceber.
— Senhor, hoje falei com um amigo que estava partindo de Musutafu, e ele me disse que era melhor eu fazer o mesmo, antes que o inverno chegue — falava mais consigo mesmo de que para o outro, inerte em seus problemas.
— Acho que ele tem razão — completou, afirmando o que planejava.
Nem sequer notando, o bicolor pausa seu cérebro apenas para admirar o outro, curvando a cabeça para o lado também entrando em conflito com seus pensamentos.
Você tem que falar seus sentimentos para ele, é agora ou nunca, a parte emocional de seu cérebro suplicava. Enquanto a outra, a racional, gritava que não, que o destino dele era deixar de lado, depois esquecer desse sentimento e fingir que ele jamais existiu.
Um sentimento de urgência se apoderou de Shoto, não poderia deixá-lo partir sem saber o que sentia, porém algo o segurava, e isso era o medo. Medo de sua reação, e se ele rejeita-lo? Ou sentir nojo de si? Ou pior, contar para a igreja que o meio albino tem estes sentimentos impuros.
E se escolher não contar e o ferreiro for embora? Talvez eles nunca mais se vejam.
Porquê tinha que ser tão confuso?
— Senhor, está me ouvindo? — saindo de seu mundo de devaneios, sacudiu a cabeça para focar na realidade.
— Estava falando sobre uma teoria que tenho de Bakugou, porém acho que não estava prestando atenção..... aconteceu alguma coisa? — perguntou ao ver que o outro quase o ignorou novamente, por causa de seus pensamentos.
— Eu....... — virou para Izuku, que com olhos grandes o observava. Talvez devesse ir embora antes que fizesse algo que irá se arrepender, não poderia contar mesmo se quisesse.
Com um ato de intimidade o esverdeado toca o braço do outro com a mão esquerda, esfregando o local como sinal de apoio.
— Sabe que pode me contar qualquer coisa, somos amigos, não somos? — um nó se formou na garganta do príncipe, queria tirar a mão dele dali e correr de volta ao castelo.
Mas não fez, dane-se.
Aproveitando que o outro estava perto de si, agarrou suas bochechas fartas para rapidamente pressionar seus lábios nos dele, querendo transmitir sem palavras tudo o que sentia com aquele beijo de dois segundos.
O tempo pareceu ter parado, pois o Midoriya não teve reação alguma, tanto pela rapidez do acontecido tanto pela confusão de sua cabeça. Por isso não o empurrou, muito menos retribuiu, apenas ficou estático até o outro se afastar.
Os olhos cor de esmeralda do ferreiro encontravam-se maiores do que o normal, ele estava obviamente assustado e incomodo com a situação, por isso o meio ruivo não tardou para se levantar. Já arrependido da burrada que fez.
— Perdão — foi o que disse, antes de dar as costas e andar rapidamente até a saida com o estômago revirando, deixando o outro para trás ainda perplexo.
Abriu a porta, sentindo o frio gritante do lado de fora bater sobre si. E se retirou, abandonado o pedaço de céu agradável e caloroso para o ar gélido, se segurando para não chorar.
Só quando ouviu o bater da porta que Izuku voltou a realidade, tentando raciocinar e entender o ocorrido. Ele o beijou, afinal por que ele fez isso?
É errado.
Com as mãos na cabeça parecia que entraria em pânico a qualquer momento, nunca imaginou que o outro faria algo assim, também nunca imaginou que um garoto poderia lhe beijar.
Nunca pensou nele desta forma, sim gostava bastante do Todoroki, porém não deste jeito. Sempre que lembrava-se dele, a única palavra que vinha em sua mente era amigo.
Estava com os nervos à flor da pele, então decidindo se acalmar para não tomar nenhuma decisão precipitada. Respirou fundo sentado atrás do balcão da ferraria, onde apenas os estalos do fogo eram ouvidos, pensava no que iria fazer.
Não queria prejudicar o outro, nunca faria isso com seu amigo.
Amigo, lembrava das coisas boas que ambos passaram juntos, de quando se conheceram pessoalmente, aquele foi um dia agitado. E quando eles começaram a treinar juntos, soria apenas recordando de como o bicolor era desengonçado.
O dia em que dançaram na ferraria, ele estava mais alegre e descontraído do que o normal, até mais bonito, pois os sorrisos presos dele saiam livremente quando dançavam. Também de quando foi visita-lo no castelo, aquele foi o mais estranho de todos, a forma em que se encararam e trocaram carícias sem almenos notar, nunca havia feito isso com ninguém, pra falar a verdade, nunca tinha parado para pensar.
Pensar em como o outro era importante para si, em seus olhos mestiços que brilhavam enquanto ele acariciava seu rosto, quando estavam deitados nos aposentos dele. Não, não terá estes pensamentos, só está com estas minhocas na cabeça porque ele o beijou, não sente nada, pois ele é um garoto, e você gosta de meninas, seu serebro gritava para convence-lo.
Mas ele mesmo não tem certeza disso, tentava repassar todas as suas memórias na cabeça e encontrar alguma vez em que se apaixonou por uma garota, porém nada encontrou. Nunca tinha ligado para romance, apenas pra trabalho, sonhos, sua mãe e amizade.
Mas aquele beijo o fez raciocinar, o lábios macios do meio albino nos seus mesmo que fosse apenas por poucos segundos, o fez pensar mais do que as muitas declarações de amor que as garotas fizeram para si. Refletindo nisso, inconscientemente passou a língua em seus lábios, ainda sentindo o doce do beijo neles.
Porém cessou brutalmente ao ouvir a voz de sua consciência bradar em sua cabeça, dizendo para ele parar, pois aquilo era pecado, e se continuasse a ira das escrituras iriam cair sobre o esverdeado.
— Já chega!! — disse em alta voz, erguendo-se da cadeira onde estava para cessar todos aqueles pensamentos.
Nada daquilo importava agora, pois precisava ir atrás de seu amigo e resolver isso, não deixará a amizade deles acabar assim.
Com esta certeza, pegou sua bolsa e andou firmemente até a porta para abri-la, e se deparar com uma pedra segurando um bilhete dobrado no chão em frente a ela, com as palavras "de KB para Deku."
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Fantasy •Armyo_taku• BNHA (Concluído)
RandomUm plebeu, um príncipe e um criminoso. Três realidades diferentes com pensamentos e mundos distantes, em um tempo medieval onde as regras da igreja são como leis.