Capeta de saia.

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— Partindo do ponto em que eu já vou deixar sua agenda aberta desde hoje, só preciso questionar duas coisas que ficaram pendentes. — Ela salientou, batendo vez ou outra a caneta entre os lábios enquanto olhava para o papel conferindo os dados com os óculos bem na ponta do nariz. — Com qual temática você prefere lidar?

— Oi? — Genevive até estava acompanhando a fala da mulher, mas a partir do momento em que ela começou a morder o bocal da caneta, sua mente foi em outro universo. — Desculpa, me perdi.

— Com qual temática você prefere lidar? — Repetiu em paciência, agora capturando-a com seus olhos claros.

— Na verdade, tenho especialização em psicopatologia. Lido com crianças na terceira infância com Autismo, TDAH, TOC, enfim... E também sou especialista em saúde LGBTQIA , com o público alvo do jovem adulto até o idoso. — Listou parte do seu currículo e com os olhos atentos observou sua chefe conter um sorriso breve.

— Ótimo, então desde já a deixo o aviso de que todos os casos, nesse perfil, que passarem pela minha avaliação serão encaminhados para você caso haja uma necessidade do acompanhamento psicológico e da psicoterapia. — Justificou largando os papeis e se acomodando melhor na cadeira. — Existe algum quadro no qual você não trabalha? Afinal, profissionais também tem os seus gatilhos.

— Até então, não tenho ressalva sobre nenhum assunto sensível. Mas pode deixar, caso seja descoberto algum, avisarei. Afinal é de compromisso meu para com meus pacientes dar a eles o melhor tratamento, isso inclui reconhecer que sou humana e que pode haver determinado assunto sensível no qual posso não dar conta de prosseguir agindo profissionalmente para a evolução dele. — Se mostrou extremamente profissional e isso agradou a dona daquela clínica que pensava que havia feito uma ótima escolha em contratar Genevive.

— Certo, é bom já observar que você tem uma postura ética e atenciosa com aquele que será seu paciente. — Fez questão de expor o seu pensamento para a psicóloga que estaria em constante avaliação. — Bom, a sua sala eu já mostrei onde fica, você pode personalizá-la da maneira em que preferir. Coisas pessoais como porta retrato, quadros e enfim, são por sua conta. Coisas para atendimento clínico como brinquedos, jogos, livros, são por nossa conta, inclusive depois quero que me entregue uma lista solicitando-as pois providenciarei tudo. — Seus olhos atentos ainda percebiam Genevive um tanto nervosa, mas seguia a falar, acreditava no potencial dela. — Em relação ao seu horário, você já sabe e o tempo máximo de uma consulta é uma hora, mas caso seja preciso um pouco mais de tempo, caso você tenha um paciente vulnerável que acredita que não é bom libera-lo antes de ter uma segurança maior de que ele realmente se recuperou parcialmente da sessão possivelmente pesada, é só colocar no sistema e avisar as atendentes que elas fazem o remanejamento. — A via assentir e por isso prosseguia. — Eu sinto muito se você é do time manual, de escrever em diário, mas no fim do mês preciso dos prontuários de todos os pacientes atendidos, todos digitalizados, o acesso é mais fácil até porque a maioria dos seus pacientes também serão meus e imagino que nós devemos trabalhar em conjunto. — Sorriu brevemente ao evidenciar que a relação das duas deveria ser ao menos amigável. — Tendo dúvidas em relação ao sistema ou chegou em algum lugar no qual você não sabe mexer ou desenrolar, pode interfonar na minha sala que eu mesma irei te explicar, certo?

— Certo. — Assentiu aceitando uma pasta amarela cheia de documentos seus.

— Alguma dúvida, Genevive? — Afastou um pouquinho da mesa e cruzou os calcanhares, agora voltando toda a sua atenção e olhos apenas para a mulher. Sentou-se mais despojadamente.

— Em questão da vestimenta, existe algum fardamento? — Lembrou-se de questionar. — Alguma obrigatoriedade com cores ou um tipo de roupa?

— É outra coisa que eu deixo livre, a gente sabe que a vestimenta também acaba mostrando um pouquinho sobre como nós somos e por esse motivo todo mundo tem o direito de se expressar como quiser. Desde que, é claro, respeite a instituição. — Passou a arrumar os seus pertences em cima da mesa. — Em relação ao jaleco, eu não imponho de usar porque vai de você, né. Se você gosta de trabalhar com ele, use, se não, não use. Mas exijo que durante alguma prática clínica, onde se tem uma manobra física, enfim... Pegou um paciente tendo uma crise e vai precisar usar do seu físico e do físico dele para retirá-lo daquele estado, o uso do jaleco é essencial, nós sabemos da biossegurança. Não importa o estado corporal em que ele esteja, vai usar do físico? Vista o jaleco. Por esse motivo, é sempre bom andar com ele fácil.

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