Uma tormenta.

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— Que história é essa de festa de São João? — O clubinho da fofoca agora acontecia ao redor do bebedouro de água em meio ao expediente, diferente das outras vezes que normalmente era em horário de almoço. — Eu estava falando com a Mainá em um momento e ela me contou sobre, até falou que ia e estava toda animada, acredita? — Mentiu descaradamente.

— Ela sempre vai, mas fica o tempo inteiro distante e vivendo longe de todas as experiências que passamos juntos. — Lamentou dando de ombros, achando a mulher um tanto enjoadinha demais, ela nunca se misturava.

— Milagre estar empolgada assim. — A secretária desconfiou daquela declaração, conhecia a outra e sabia que apesar de ela gostar da época e do evento, não conseguia largar suas obrigações para curtir. Portanto, aquela viagem era apenas uma mudança de lugar onde precisava fazer as mesmas coisas, resolver pendências do trabalho.

— Me conta mais. — Pediu, atenta.

— Todo ano tem, normalmente a visita da megera durante esse mês é justamente pra falar sobre essa festa com Jesebel. — Morgana respondeu enchendo sua garrafinha térmica.

— E como é que é isso? — Genevive arrumou os óculos no rosto e aproveitou para também ajustar as roupas em seu corpo.

— A gente entra em recesso de São João e a chefe passa uns dias antes pra saber quem vai, ela aluga um ônibus pra levar e pra trazer.  Meio que temos um espaço imenso, com direito a tudo pago e atrações de cantores, durante três dias. Bebida, comida, dormida, conforto, fogueira, tudo o que minha alma cansada precisa. — Vanessa sorriu abertamente, contando em empolgação e impressionando a nova funcionária que até semicerrou os olhos, imaginava que a psiquiatra não fazia parte de pelo menos um terço da organização ou participação daquele evento. — Acontece de tudo.

— O que acontece lá, fica lá. — A outra complementou.

— Senti malícia, deve acontecer até o inimaginável. — A psicóloga riu junto as outras.

— Até que não, mas digamos que não nos tratamos como colegas de trabalho. É muito bom. — Confessou sorridente.

— O que é muito bom? — E mais uma vez ela surgiu de surpresa no meio da conversa, logo sua presença foi notada e logo o lugar foi tomado pelo seu característico perfume. Gen sentiu a mão dela repousar em suas costas, deslizou até seu ombro e apertou, nada bruto ou invasivo.

Entre todas, Morgana e Genevive eram as únicas que tinham acesso demonstração de carinho por meio de contato físico partindo de Jesebel, ainda sim, mesmo sendo nova no mundo dela, a psicóloga os recebia com mais frequência. A pergunta que pairava em sua cabeça era "Por quê?", não que fosse desagradável, longe disso, mas por qual motivo a psiquiatra se sentia a vontade para tal.

— Posso saber o motivo dessa reunião de condomínio durante o horário de serviço? — Ergueu as sobrancelhas, meio cômica, foi bricalhona pois sua intenção não era brigar, mas se informar. Afinal, eram mulheres adultas que sabiam muito bem o que deveriam estar fazendo naquele horário, mas uma pausa para descanso era completamente aceitável pela chefe.

— Sua festa de São João que tem arrancado suspiros ansiosos dos participantes. — A psicóloga se adiantou em informar, notando que ela parecia não querer tirar a mão do seu ombro tão cedo, permitiu que permanecesse lá.

— É mesmo? Acabei de deixar a lista pra vocês assinarem lá na mesa de Morgana, vou mandar mensagem no grupo avisando, mas se possível peço para que informem aos outros. Não quero ouvir ninguém dizendo que não sabia, tenho prazo de entrega pra devolver. — Informou pacientemente para todas ali presentes. — E você? Vai? — Se direcionou para Gen, curiosa. Novamente, sua mão desceu e fez mais um carinho nas costas dela até se contentar e retirá-la dali.

Quer se divertir? É só mandar uma mensagem. - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora