Me nota!

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Seguiu a alimentar seu perfil do mesmo jeito, afinal não o fazia para ninguém, apesar de provocar usando-o. Havia parte do exercício de autoamor ali, apesar de serem fotos de cunho sensual, se ver daquela maneira até achar um bom ângulo, tirar foto e ainda postá-la, era para si um ato de coragem muito grande porque vinha de alguém que tinha começado a se admirar sem usar as lentes de outras pessoas sobre o seu corpo. Primeiro, precisava se achar bonita.

Interagia, dessa vez, de maneiea muito mecânica porque seu interior não escondia que a vontade era de ter um comentário específico por ali... Ele normalmente era dado somente um minuto após a publicação, seguido de outros que lhe faziam rir e aumentavam sua vontade de seguir naquela rede.

Procurava incessantemente com os olhos, como se ele fosse surgir em meio aos outros e em uma tentativa de se enganar que talvez suas orbes tivessem lhe traído e a tal interação passou por despercebida. A atitude que temos quando estamos com fome e abrimos a geladeira diversas vezes como se alguma comida fosse brotar a qualquer momento nas prateleiras, era mesma que tinha abrindo toda hora os comentários e notificações.

Desistiu, revoltada.

Por mais que quisesse mostrar que estava tocando sua vida naturalmente com a ausência, que seu íntimo já tinha acostumado com sumiços, agradecia mentalmente pela liberdade de poder externalizar sua angústia sozinha em casa, longe do celular.

Não era possível que ela, depois de tantos dias, não tivesse dado as caras. Não era possível que depois de tantas interações intensas aquela mulher tão coração mole tenha se mostrado tão insensível a ponto de não aparecer nem para dar uma breve justificativa ou colocar um ponto final para, por fim, dar um basta na aflição.

Não era possível que ela fosse só uma sacana manipuladora de boa lábia... Não é possível que ela fosse igual as outras.

Sua parte sentimental tentava convencer disso, mas já havia se visto tantas vezes nesse mesmo lugar e no final, era sim, era tudo de ruim que já podia ter cogitado e tentado fazer sua mente mudar de perspectiva, a ponto de não acreditar na realidade, somente para se convencer da boa índole de outra pessoa.

Precisava cuidar de si, validar seus pontos de vista e acima de tudo respeitar os limites daquilo que disse que não iria mais tolerar. Não iria mais se obrigar a se colocar em lugares que não gostaria mais de estar. Isso sim era um grande voto de auto cuidado.

O celular vibrou novamente durante o dia e novamente era um pedido de solicitação, nunca havia recebido tantos em tão pouco tempo e o seguinte só veio para comprovar a tese de que era a mesma pessoa.

De início o perfil se mostrava com foto preta, sem descrições e após ser recusado, tornou a novamente solicitar algumas outras várias vezes, na intenção de vencer por insistência, mas não conseguiu. Sua sorte foi García não ter bloqueado, dando-lhe uma chance de então retornar como deveria para ser notado.

"ME ACEITA PELO AMOR DE DEUS, SOU EU!", Estava escrito em negrito na biografia, por seguinte em suas postagens haviam fotos que já eram conhecidas pela mulher.

Não pode controlar, era inato, o coração acelerou rapidamente em puro nervosismo e esperança, antes mesmo de sua cabeça começar a cogitar inumeras situações de que poderia ser alguém se passando por ela ou seja lá o que fosse, aceitou.

Rapidamente a chamada brotou na tela sem nem lhe dar chance de se preparar psicologicamente, apenas ativou o efeito de voz e aceitou a ligação, mantendo-se em silêncio. Ela deveria dar o primeiro passo.

— Meu pai do céu, graças a Deus. — Surgiu do outro lado em um suspiro de alívio em meio a respiração agitada. — Sou eu! — Expressou sofregamente. — Que mulher difícil de entrar em contato... — Resmungou em uma escapatória de comemoração.

Quer se divertir? É só mandar uma mensagem. - Lésbico.Onde histórias criam vida. Descubra agora