Passe de mágica.

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Andavam devagar no meio daquela movimentação toda, aquele povo que ia e vinha, todos ligados nos 220 volts. A pressa de viver presente no comportamento, nas falas, nos gestos.

Não tomavam a calçada justamente para não incomodar e empacar o trânsito de pessoas que queriam andar rapidamente.

Não conversavam, estavam distraídas demais sugando os canudos do milk-shake. A psiquiatra cutucou, cutucou e cutucou a mão da psicóloga, até que conseguiu apanhar, cruzando seus dedos e mostrando que havia verdade no que disse mais cedo. Recebeu um belo sorriso em troca, Genevive havia sido, mais uma vez, pega desprevenida.

— Como está Rosa? — Lembrou-se que mal havia perguntado da moça nesses tempos, tinha interesse em saber.

— Está bem. — Disse apertando mais seus dedos, cruzando-os bem e trazendo-a para mais perto. — Ela não teve mais crises ultimamente e isso me leva a pensar que...

— Que? — Atentou-se ainda mais.

— Me desculpe caso eu esteja sendo leiga em partes, você é uma psiquiatra e já deve ter visto casos de epilepsia. Já deve ter discutido isso com seus colegas neurologistas também. — Pontuou logo retratando-se e sem aguentar, desvencilhou seus dedos e passou um braço por cima do ombro dela, queria andar pertinho. — Apesar de saber como o espiritual age, sempre me neguei a acreditar que o problema de Rosa era sobre isso e essa tal Madalena tivesse algo interligado de verdade nas histórias passadas dela, apesar de estar evidente, a gente sempre nega aquilo que está óbvio.

— É verdade. — Assentiu em concordância, livrando-se do copinho de plástico no lixo mais perto.

— Dalila conversou comigo esses dias, disse que ela está tão presente nas giras que está pensando em aceitá-la como filha da casa. — Precisou rir negando com a cabeça. — Você não imagina quantas vezes tentei levar a minha irmã no terreiro, ela chegou até a ir me ver, se consultou, mas depois muita luta. Pra você ver como as coisas acontecem no tempo que tem que acontecer, eu viajei e do nada ela foi sozinha. — Fazia carinho na extensão do braço de Jesebel. — Lila disse que se surpreendeu, alguém batendo na porta do nada em uma gira fechada só para os filhos da casa. Deixou ela entrar porque já tinha costume, as vezes os donos das almas aparecem lá e não sabem porque, no fim descobrem que estavam precisando de socorro. — Resolveu parar por ali, no meio da ponte, só para admirar um pouquinho a paisagem. — Acabou que Rosa quis se consultar com uma entidade e a própria Dalila acabou recebendo a cigana para responder a moça, conversaram em espanhol e tudo. Desde esse dia Rosa vai a todas as giras em que é chamada e virou amiguissima de Lila, vê se pode?

— Fico feliz que ela esteja sendo acompanhada no âmbito espiritual também, a mãe Lila tem muito conhecimento, não poderia estar em mãos melhores. — Confessou, afinal era filha de santo da moça também, sabia bem como a sacerdote cuidava dos seus filhos. — Irei guardar minha língua para não ficar chamando ela de irmã de santo ainda. — Riu brevemente e aceitou o abraço apertado da sua companheira. — Olha só, estava demorando... — Evidenciou o celular que tinha a tela acesa e vibrava, a víbora realizava uma chamada.

— Gostaria de pegar o celular e atendê-la. — Respondeu observando a chamada evidente. — Mas como não posso. — Passeou os olhos por sua companheira se desvencilhando do abraço e virando de frente para a paisagem.

— Eu poderia jogar esse celular longe, não poderia? — Compartilhou o pensamento intrusivo que lhe apareceu e fez a outra rir de novo, se praguejando pelo jeito em que ela fazia as piadas no momento certo.

— Vamos, você consegue. — A encorajou apertando os ombros dela. — Não deixe o diabo mais bravo do que ele já está.

— Que foi? — Atendeu já arrogante, soltando a pergunta sem nenhum interesse de realmente saber o que havia acontecido.

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