Catarse.

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Aviso de conteúdo sensível.

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Ao invés de se desvencilhar por completo, num resquício de atitude que Jesebel ainda tinha, abraçou a cintura da sua companheira e repousou sua cabeça no busto dela enquanto chorava. A venceu pelo cansaço, Genevive não teve saída a não ser acolhê-la ao retribuir.

— Eu posso explicar tudo se você estiver disposta a ouvir. — Surgiu em meio aos soluços.

Por meio do silêncio a psicóloga deu a sua confirmação e esperou acarinhando-a para aquele choro, de muita dor, mas também de alívio, passasse.

A mentira pesa, sustentar algo daquele tamanho, uma segunda personalidade, pesa ainda mais. Só consegue ficar tranquilo com relação a isso é quem mente patologicamente porque acredita no que mesmo cria e fala; E quem tem ausência de sentimentos pelo outro, um psicopata por exemplo. Esse não é o caso de Mainá.

Qualquer pessoa, dentro da curva de normalidade, que sustenta uma segunda personalidade se envolvendo sentimentalmente com um outro alguém, ficaria aliviado por finalmente a verdade vir à tona. Por mais que no momento exato da exposição da verdade isso lhe causasse dor, sofrimento, angústia ou muita raiva, o alívio estaria presente ali mesmo minimamente.

Na psicologia, na vertente psicanalítica criada por Sigmund Freud, existe um fenômeno que descreve muito bem esse misto de sensações. "Catarse" é o nome dado para um acúmulo de tensão/ sentimentos ruins que logo mais trarão alívio ou prazer... Como quando um indivíduo se sente desesperado estudando para uma prova, porém consegue tirar uma nota boa e isso lhe traz alívio; Ou talvez quando você passa por um momento de aflição muito grande e tem uma crise de choro, mas em seguida dorme e acorda bem melhor. Isso havia acontecido com Jesebel, passar por um momento de nervosismo e tensão muito grandes, mas logo em seguida ser descoberta e simplismente poder gozar do prazer de estar livre de ter que fingir ser outra pessoa para quem ela menos queria fingir. A psiquiatra havia passado por um momento de catarse.

Estavam muito cansadas da viagem e teriam compromisso pela manhã, mas devido o assunto, a urgência da conversa era grande e a madrugada foi adotada como uma saída.

Após um tempo, se sentaram na cama e Genevive acariciava as costas da companheira enquanto teorizava inúmeras informações que só seriam respondidas em uma conversa. Portanto decidiu que ouvir era melhor que deduzir... Estava na hora de conversar.

— Se sente melhor e mais calma? — Surgiu, no meio do silêncio, a mesma pergunta que fazia para os seus pacientes.

— Sim. — Assentiu depois de já ter cessado seu choro, seu rosto nem estava mais molhado.

— Bom... Então suponho que podemos começar. — Sugeriu recebendo um assentir de Mainá em concordância. — Não sei nem que pergunta eu preciso te fazer para receber a explicação.

— Prefiro inciar deixando muito claro e dito que eu nunca tive nada com Lorena, mesmo ela falando como se nós tivessemos. — Vomitou aquilo que estava preso na garganta como um nó.

— E de onde isso veio? — Perguntou perdida no meio de tanta informação.

— Morávamos juntas na casa da minha avó desde muito pequenas. — Justificou e fez Gen erguer as sobrancelhas. Provavelmente aquela casa era o palco dos abusos. — Eu estava me descobrindo enquanto menina que gostava de menina e em um bendito dia simplesmente atraída por uma criança que tinha no meu dvd musical favorito, aproveitando que estava sozinha fui me aproximando de pouquinho em pouquinho na televisão e beijei a tela. — Fechou os olhos reacessando a memória e sentindo a mesma dor que sentiu no momento. — Ela me pegou no flagra e ameaçou contar tudo para a vó, que era meu bem mais precioso na vida, mas era uma pessoa extremamente preconceituosa. — Começou a fazer biquinho para não chorar e isso comoveu mais uma vez a psicóloga que ouvia. — Me praguejo por esse dia, por esse maldito beijo, por tantas vezes... E as vezes eu sinto dó de mim, de uma criança que só estava tentando entender o que se passava em seu próprio corpo e acabou sendo pega por alguém muito maldoso.

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