Tudo culpa do chá.

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— Joaquim, não me responda. — Levantou o dedo para ele em ameaça, querendo demonstrar autoridade. — Você anda muito respondão, seu malcriado. 

— Malcriado! — Ele repetiu imitando-a. Era de costume que ela o chamasse dessa maneira.

— É sim. — Concordou com a cabeça. — Isso é coisa da sua mãe Genevive, que fica lhe mimando o tempo todo, aí quando ela saí, o senhor vem cheio de ousadia para o meu lado. — Cruzou os braços, observando-o e ouviu a esposa entrar pela porta da frente. — Que pai Oxóssi me perdoe, mas você me estressa, rapaz. — Resmungou baixinho sabendo que o papagaio era um animal protegido pelo orixá. Orixá esse que era pai de Genevive, talvez por esse motivo ela e o bicho se dessem tão bem.

— Joaquim, cara. — Disse em um tom de desabafo, porém o chamamento também servia para atrair a atenção de Jese. — Cê acredita que o preço da banana aumentou? Assim tá complicado de fazer teus gostos, você está me saindo um filho muito caro. — Resmungou tirando o casaco e arrumando os cabelos. — E o pior, tá tudo cheio de veneno. Vou ter que dar um jeito de botar uma bananeira aqui no quintal. — Se aproximou da sua mulher e fez biquinho, esperando que ela lhe desse um selinho.

Até largou o que estava fazendo e ofereceu a bochecha para que a psicóloga beijasse, ela aproveitou, mas não se contentou com somente aquele contato, por isso tentou de novo, de novo e de novo, ficando bem intrigada com a postura evitativa de Mainá.

— O que foi, dengo? — Franziu o cenho e repousou suas mãos na cintura dela.

— Estamos de mal, se recorda? — Questionou, se desvencilhando dela e indo para a frente da pia. — Por favor, doutrine esse seu papagaio porque faz horas em que ele está gritando seu nome. — Resmungou e ouviu a gargalhada da sua mulher. Quase se desmanchou, mas seu mal humor estava conseguindo se sobressair. — Estou até com dor de cabeça.

— Não se revolte. — Pediu achando graça da situação. — Ele só não aprendeu seu nome ainda.

— Eu tenho certeza que você subornou ele. — Acusou apanhando a bucha. — Irei colocar câmeras nessa cozinha.

— Pode colocar, meu encanto está em ser filha do caçador. Omo odé. — Deu de ombros, se achegando mais e abraçando-a por trás.

— Você acha que eu não sei? Eu sei bem disso. Odé até serpente encanta. — Mostrou que não lhe era nenhuma novidade e seguiu em seu processo de limpeza. — Não venha tentando me ganhar não, Genevive.

— Mas o que foi que eu fiz de tão errado para não merecer ao menos um beijo da minha esposa? — Questionou beijando o trapézio dela, ignorando completamente a repreensão.

— Genevive... — Chamou seriamente, parando imediatamente o que fazia. Era um sinal, estava avisando antes de soltar os cachorros.

— Ô dengo, não faz assim. — Pediu com sua melhor voz manhosa, apertando bem mais o abraço e explorando o pescoço dela. Até a observou se arrepiar.

— Quando receber o coice, não venha reclamar de dor pra mim. — Avisou continuando as suas tarefas, revoltada.

— Ainda está revoltada por causa do chá? — Lembrou-se, repousando o queixo no ombro dela. Poderia dar o coice que fosse, mas não largava ela de jeito maneira.

— Sim, tudo culpa do chá. — Concordou ironizando aquela provocação.

— Você também já me derramou café, estamos quites. — Assim que terminou, ouviu o riso maldoso da esposa e ali sabia que tinha atingido o limite.

— Tá certo. — Concordou e chegou no seu nível extremo que era o de não discutir, era o de ficar silenciosa. O bico fechou, as sobrancelhas franziram e ela seguiu realizando seus afazeres.

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