Calma.

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Com a ligação chiando e já perdida demais, Genevive resolveu parar de andar porque se concentrar somente em uma coisa era bem mais fácil do que focar em várias ao mesmo tempo.

Um passo de cada vez. Calma.

Seu momento de recuperação e tomada de racionalidade por total precisou ser de apenas um segundo, ela precisava desse segundo. Adotou a postura seria e deixou que todo seu profissionalismo tomasse conta da sua mente, das suas reações, do seu comportamento, da sua fala, do jeito em que colocava suas perguntas e até mesmo da sua respiração.

Calma.

Aumentou todo o volume e ali ficou, esperando o reconectar da linha enquanto precisava lidar com o que havia acontecido anteriormente, com seu celular vibrando com mensagens e com suas emoções que queriam a todo custo tomar conta da situação. Não podia, jamais, deixar que acontecesse, por isso o policiamento precisou ser triplo.

— Bruna, se estiver me ouvindo, por favor me responda verbalmente. — Ordenou, adotando o tom mais sério que conseguia. — Bruna? — Perguntou novamente ao ouvir as tosses e o choro compulsivo.

— Sim. — Ela disse em meio ao seu desespero.

— Você está sozinha em casa agora? — Perguntou traçando um plano em sua cabeça.

— Não. — Informou jogando-se no chão do banheiro, exausta.

— Nós duas precisamos tomar uma atitude, certo? — Usou do termo "nós" para mostrar que a psicóloga estava com ela e que o seu ato seria mediado, estaria acompanhada e que Genevive consequentemente após lidaria com as consequências. — Certo? — Repetiu querendo uma confirmação. — Se você ligou pra mim, é porque confia em mim. — Evidenciou, querendo guiá-la em uma linha de pensamento que fizesse a moça ficar mais sucetivel a aceitar a tomada de decisão. — Você me pediu socorro, eu estou te socorrendo. Certo, Bruna?

— Certo. — Concordou com a cabeça, meio zonza.

— Você vai abrir a porta e irá chamar a pessoa responsável por você aí agora. — Exigiu, colocando a mão na testa e apertando. — Agora. — Ordenou e ouviu a moça obedecendo. — Agora você irá colocar os dedos na garganta e provocará o vômito, ao máximo que conseguir. — Não dava brechas e nem tempo para reclamações. — Ceda seu celular para sua mãe e deixe que do restante eu tomo conta. — Informou, ao escutar de fundo a voz da mulher madura desesperada por não saber o que estava acontecendo.

Genevive seguiu a dar ordens para a mãe intervindo qualquer tipo de reclamação ou punição, o momento era de socorro. Sabia que a mãe da sua paciente era preocupada e que faria de tudo para salvar a filha, portanto seguiu a conversar com ela até que tivesse a confirmação de que a ambulância estaria chegando, de que Bruna ainda estava acordada e de que a mais velha tomaria as atitudes cabíveis para o momento. Assim que pudesse prestaria o apoio psicológico, sabia que seu papel ali era guiar até que a situação chegasse nas mãos de um responsável que pudesse resolver no momento. Um médico era necessário e somente então após a estabilidade do quadro de Bruna, que passaria por efeitos colaterais pela ingestão exacerbada de medicamentos, que o assunto iria ser tocado, cautelosamente, por alguém que tivesse manejo suficiente para tal.

Seu trabalho havia sido realizado, Bruna estava em boas mãos e era sua hora de desligar. Um bom profissional sabe ter discernimento suficiente para entender em que ponto deve parar de intervir. Sua atuação agora só apareceria novamente no final do dia, para acompanhar o quadro de saúde da moça, para conversar um pouco com a mãe a fim de lhe dar conforto e para confirmar a presença dela em um momento oportuno.

Desligou a chamada e no mesmo momento em que iria se recompor, colocar suas emoções de volta em seus devidos lugares e dar uma bela respirada de alívio, o som da moto parando ao seu lado juntamente com o gelado do cano da arma na parte desnuda da sua cintura, lhe atingiram tão brutalmente quanto o "passa o celular e a bolsa", ordenado de maneira agressiva pelo homem que pilotava.

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