Vento forte.

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Desde o momento em que se encontraram, Genevive percebeu uma inquietação muito grande em sua namorada. Estava ansiosa e alheia, era óbvio, o olhar vazio não conseguia encará-la ou manter uma conversa por muito tempo e por isso a psicóloga tentou trazê-la de volta para o agora, mas ficou só na tentativa.

Ao sentar à mesa da sala onde se encontrariam com Felícia, Jese a acompanhou, acomodando-se ao seu lado e ficou quieta, abraçada em uma pasta de documentos cheia de papéis, olhando para a frente com a respiração agitada enquanto sua perna mexia-se.

Preocupada, Gen depositou sua mão na coxa dela, acariciando até que atraísse a atenção, afinal o correto era fazê-la perceber o próprio comportamento, porque caso se sentisse a vontade a ouviria falar sobre, e não forçá-la a encerrá-lo. Se o comportamento acontecia, era porque a ansiedade estava arranjando um jeito de sair do corpo sem que fosse de maneira verbal, obrigá-la a parar era obrigá-la a acumular a agitação interna que podia crescer potencialmente a ponto de virar uma crise.

Lembrava sempre, se não é danoso deixa fazer, se é, substitui aquele comportamento por outro ou direciona-o para outro canto, ou forma, que não seja danosa.

— Oi, meu amor. — Estava tão perdida em sua própria cabeça que parecia lembrar de falar com ela somente agora. — Que péssima namorada você tem... — Pensou alto demais em um comentário autodepreciativo enquanto pegava a mão dela e cruzava seus dedos. — Bom dia, como está? Tudo bem? Me desculpe por estar tão agitada assim.

— Não diga isso. — A repreendeu pelo pensamento. — Estou preocupada com o seu estado. — Confessou conseguindo atrair o olhar dela e recebeu um breve sorriso gentil. — Sei que hoje é um dia de muitas cargas, mas tenho certeza que você dará conta. — Beijou o ombro da companheira. — Estou aqui com você, tá bem? — A viu assentir. — Está segura?

— Preciso estar. — Suspirou cansadamente e cedeu a vontade de entregá-la um selinho rápido. — Mas antes... — Checou o relógio e deduziu que daria tempo de fazer o que queria. — Gostaria de conversar com você. — Pontuou recebendo toda a atenção da namorada.

— Estou te ouvindo. — Deu-lhe outro selinho porque ela pediu, era amorosa e carente até quando estava nervosa.

— Recebi uma ligação de Dalila mais cedo, o que me acordou porque ela levanta com os galos. — Riu brevemente. — Mãe não costuma me ligar, normalmente sou eu quem vou atrás dela.

— Realmente, ela espera ser chamada. — Refletiu pensando no comportamento reservado da mãe de santo.

— Veio sondar, perguntar se estava tudo bem, puxou assunto como quem não queria nada... — Apertou mais as pastas com os documentos, parecia estar protegendo seu ouro. E de fato estava, sua vida era inegociável. — No final ela sempre manda a pedrada, né? Como se soubesse de tudo o que está acontecendo? E sei lá, talvez saiba, eu não dúvido dos poderes daquela mulher.

— Potente ela, não dá pra esconder nada. — Fez a namorada rir ao concordar das vezes que tentou e ela descobriu.

— Filha, quando quiser me contar algo, pode contar. Não esquece que a mãe tá aqui, vou te apoiar no que precisar. Sou puxão de orelha, mas também sou colo... Esses e entre outros comentários que ela faz questão de dizer quando sabe que eu tô passando por alguma coisa e me faz chorar todas as vezes. — Puxou a cadeira para mais perto da psicóloga. — É o único lugar que a Lorena não se aproxima, sabia?

— O terreiro da Dalila? Seu terreiro? — Ergueu as sobrancelhas e a viu assentir, se rendendo a uma risada sincera.

— As escondidas eu visitava a casa da mãe de santo de Lila, mas um dia eu bolei para o santo e viram que Iansã estava pedindo feitura. Não quis saber de absolutamente nada, tirei todo o dinheiro que tinha na minha conta, comprei as coisas da iniciação e me recolhi junto com Attena que já ia fazer feitura em Iansã também por urgência. Paguei as minhas coisas e algumas dela porque ela não tinha dinheiro na época. — Cruzou as pernas e se encostou em Genevive. — Lá fiquei por um mês, sem estresses, sem ser provocada, sem celular, sem nada. Quando Lorena descobriu porque eu não estava atendendo as ligações, foi atrás de Dalila com gosto de gás.

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