Grande amor.

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Aviso de conteúdo extremamente sensível.

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Desceu as escadas que davam para um salão principal que tinha o palco principal do lado e o primeiro bar do outro. Percorreu os olhos pelo cômodo vazio, por um lado sentiu saudade do local movimentado e cheio de música, por outro sentiu desgosto ao lembrar o quanto se estressava e o quanto era difícil lidar com tanta gente bêbada.

Lá fora o sol começava a cair e o silêncio dentro daquele casarão causavam uma sensação muito estranha no peito, talvez solidão. A solidão lhe fazia recordar dos seus momentos sozinha na rua, vagando pelos cantos até achar esse lugar, não foi o que imaginava, mas fôra o único que abriu as portas para uma mulher foragida da polícia acusada por homicídio.

Aceitou a oportunidade que a vida lhe deu e se apegou a única amiga chamada Maria, dona daquele cabaré, que havia lhe dado um voto de confiança... Por fim, passou a ganhar lugar até que se tornou a mulher que ali mandava, obedecendo sempre as ordens dela, mas a única confiável o suficiente. A única que permaneceu e que ganhou em troca aquela casa inteira para morar, além de uma boa quantia em dinheiro que dava para viver até que o inferno da sua cidade se acalmasse.

Inclusive, decidiu fechar as portas do estabelecimento por esse tal inferno. Entendia que o clero havia começado com sua caça as bruxas com a tentativa forçada de conversão que resultava em morte de todas, apesar de não conhecer muito sobre feitiçaria e imaginar que poderia até ser boa nisso, ainda sim era uma mulher solteira e proprietária de um cabaré onde continha tudo aquilo que a igreja condenava, claramente sua vida não seria poupada. Pior, estava de romance com uma outra mulher que agora sim, era bruxa. Tinham um potencial altíssimo de passar horas sendo torturadas por aqueles homens.

Tudo foi questão de estratégia para sobrevivência, acordado com Maria que permitiu as atitudes. Encerraram as programações, quem era de ir, foi embora e Jesebel fez dali a sua casa, criando a esperança de que poderia ser seu lar com a sua amada. Voltaria até a abrir, Maria não gostaria que ficasse fechado, para ela a festa tinha que acontecer sempre, mas entendia o momento de recolhimento.

Foi descuidando da entrada, quebrou o letreiro e deixou de varrer a porta, tudo para dar a impressão de abandono. E até conseguiu, saia quando necessário e escondida, não precisava de muito, tinha tudo em casa e por ali mesmo se entretia.

Andou pelo salão observando aquelas garrafas de bebida, saltou para pegar impulso e sentou em cima do grande balcão de madeira, se rendeu a um riso porque a memória visual lhe atingiu. Quando estava bêbada deitava por ali, às vezes ficava conversando alcoolizada mesmo com os clientes da boate e brincava que iria continuar bebendo mesmo jogada de qualquer jeito naquela superfície.

Foi assim que em um dia, totalmente desestabilizada deitou-se naquele lugar, forçando para ganhar espaço até que conseguiu se esticar, ficando de lado e observando a movimentação. Suas orbes acompanharam a mulher castanha passando pela porta, usava um lenço que cobria a cabeça e trajava um vestido longo de alças finas.

Algo em si pulsou bem mais, mal sabia ela que estava de frente para o seu grande amor. Iria até virar mais um shot, seguiu com o copinho na mão acompanhando-a até que atraísse a sua atenção, e conseguiu.

Descobriu então que ela era a cartomante que havia contratado para saber sobre o seu amado, por instantes foi capaz até de esquecer a obsessão que sentia por aquele homem. A puxou logo para o quarto que era exclusivo seu e esperou que a tal Genevive lhe agraciace com as informações de que seu homem iria voltar, estava disposta a fazer qualquer coisa.

A expressão de vitoriosa irritou a cartomante, parecia até que ela estava com o jogo ganho e a feiticeira fez questão de mostrar que não era bem assim que a banda tocava. A encarou seriamente e sem problema nenhum em falar tudo na lata, deixou bem claro que não estava ali para agradá-la. Leria seu caminho e aconselharia aquilo que parecia mais saudável para ela, não mudaria isso, não colocaria sua dignidade em jogo e nem faria feitiço algum que movesse pedras no caminho que não deveriam ser movidas. "Estou aqui para lhe dizer o necessário, não aquilo que quer ouvir", disse sem nenhuma enrolação, em seguida iniciou com seu jogo.

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