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Xote dos milagres.

Durante a madrugada, o chão de axé estava em movimentação. Lumanda não voltou atrás com a sua palavra, apesar de saber que suas filhas de santo estavam muito nervosas com o procedimento, ainda sim o realizou porque sabia que ficar postergando aquele momento poderia causar coisas piores. Certos laços precisam ser cortados assim que se tem a oportunidade, haja vista que ao olhar para o futuro, nenhum benefício traria ele.

Haviam muitas coisas que sabia e não externalizou, fazia parte do sacerdócio também calar quando se era necessário, falar sobre tudo não lhe era recomendado por inúmeros motivos, um deles era o medo e a sensação de incapacidade ao lidar com esse tipo de situação. Estava sendo aterrorizada por pesadelos sangrentos e assustadores, todos eles envolviam Lorena e Vicent, consequentemente Jesebel e Genevive.

Com seu tempo de experiência, compreendia que muitos espíritos malignos ficam revoltados ao serem desafiados ou caso as pessoas a quem eles assombram, ameacem se livrar, afinal eles se alimentam das más energias que causam e sem elas, não teriam forças suficientes para permanecer aqui, por esse motivo, em casos de ataque, um dos primeiros passos era manter a calma e não se mostrar amedrontado.

Eles podem ser muito cruéis, criar delírios, alterar realidades, criar situações, mas isso conforme a força em que se dá, quanto mais sentimentos negativos se produz, mais eles se fortalecem e enxergam o potencial das suas maldades. O que é ótimo para eles, afinal em sua grande parte são extremamente egoístas, isso já se mostra somente pela sua espécie, não querer desencarnar de verdade porque se está tão apegado aos bens materiais e são capazes de atazanar a vida de alguém em benefício próprio até que se vinguem, até que façam a pessoa perder o controle da própria vida, até que façam essa pessoa perder a oportunidade que eles não tem... A oportunidade da vida, de tentar de novo em calma, de poder ser uma nova pessoa.

Somente pelo jeito de Lorena em Terra, já dava seus indícios de que se tornaria um espírito assim, não querer desapegar por nada de um sentimento criado em sua própria cabeça, naquela profundidade, era óbvio que retornaria em busca da sua obsessão.

O que deixava Lumanda em uma situação complicadíssima, a de saber demais e não poder externalizar isso para quase ninguém. Tinha que tomar uma postura calculista e felizmente, para sua sorte era bastante estrategista. Forneceu o básico de informações, somente as necessárias para agir.

Não contou que via Lorena rondando sua filha de santo; não contou que ela fazia de tudo para produzir pesadelos na cabeça de Jesebel para que sofresse com terrores noturnos e se afogasse em inúmeros remédios; não contou que era ela quem estava sendo a causadora do comportamento estático da sua filha, deixando a psiquiatra revivendo aqueles maus momentos o tempo todo; Não contou que via Lorena enforcando-a a todo instante, sempre que possível; Não contou que a via sorrindo quando conseguia estressar Genevive com coisas bobas; Não contou tanta coisa. Nem a própria Lorena sabia disso.

A importância de ser sacerdote e ter os cuidados devidamente tomados com o seu próprio espiritual, servia nesse caso. Trabalhando sua proteção, conseguia com que Lorena não arranjasse uma brecha para consumir seus pensamentos também, isso lhe dava a oportunidade de criar um plano sem que ela tivesse acesso e pegá-la de surpresa assim que possível. E foi o que fez.

Realizou todo o procedimento, riscou o chão com seus elementos sagrados, preparou a mente e o corpo das suas filhas, definiu e ordenou o que precisariam fazer. Atraiu a mulher e consequentemente o marido que estava extremamente apegado, foi uma discussão horrenda, ela não queria de jeito nenhum deixar esse mundo porque jurava amar mais que tudo Jesebel e que seria capaz de levá-la junto porque se não podia provar desse amor, ninguém mais iria. Seus ataques foram para todos os lados, revoltada, querendo quebrar tudo, sobrou até para Rosalinda que se mostrou bem firme e impressionou sua mãe de santo por ter uma cabeça de liderança muito grande.