Meu alguém.

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Após ajustar o microfone em seu rosto, esperava na entrada do palco para ser chamada. Respirou fundo ao ouvir seu nome e enfrentou o tablado depois de vários meses sem pisar em um.

Não havia nada mais prazeroso para si do que falar sobre aquilo que gostava. E gostava demais do seu trabalho.

Acenou para todos, apresentou-se de maneira descontraída e procurava como fuga um ponto no meio de toda aquela platéia de colegas de trabalho que estavam prontos para julgá-la a qualquer mínimo erro breve que fosse em sua apresentação.

Achou um alguém, o seu alguém, que tinha um sorriso tímido no rosto e estava atenta a tudo o que fazia, empolgada, mas sem se demonstrar muito.

A psiquiatra fez a sua apresentação pessoal obrigatória para mostrar qual era a sua "importância", qual eram seus enfoques e seu nível com relação a formações e outros títulos, assim como precisou listar algumas de suas passagens em lugares de relevância. E então esperou o melhor momento para expor o título da sua temática, focou bem nos olhos de Genevive e preparou-se.

— Hoje eu fui convidada para falar sobre os pontos positivos do uso medicinal do canabidiol em casos de epilepsia, em como ele pode ajudar e até amenizar as convulsões. — Apresentou e a acompanhou arregalar os olhos, instigando-se por completo no tema.

Quando recebeu o convite, havia ficado animada para revelar isso a sua companheira porque havia acompanhado um pouco da luta dela com o caso da irmã que tinha crises com constância. No entanto, preferiu que o melhor seria fazer uma surpresa, preparou-se com mais vontade com relação ao tópico e planejou uma aula bem didática sobre, apresentando também uma saída desconhecida que estava começando a se popularizar nos meios médicos, para Genevive.

A cannabis é um grande tabu no meio das pessoas, por isso que usou de todo seu manejo para montar uma apresentação baseada em artigos científicos na intenção de abrir não só a mente dos seus colegas de trabalho conservadoes, mas também da sua companheira, mesmo não sabendo qual era o posicionamento dela com relação a substância. Queria deixar muito claro e evidente que falava sobre o extrato da planta Cannabis, não da maconha/droga.

Dali em diante tinha certeza que ia cumprir a missão com sucesso. Após atrair a atenção de todos por causa do choque ao tocar em um assunto sensível dentro da sociedade, despojou-se no tablado, brincou e o mais importante de tudo, explanou bem sobre o tema e foi muito bem elogiada. Então no fim, realmente só tinha motivos para comemorar, tinha alcançado uma grande vitória e merecia se esbaldar mesmo no jantar.

Por isso voltou para hotel, sabendo que sua companheira já não estava mais lá porque quis lhe dar a devida privacidade e tempo para que pudesse aproveitar. Tomou seu banho, cuidou dos cabelos, escolheu uma bela langerie, vestiu o vestido, se maqueou, se perfumou, se hidratou e ignorou as ligações de Lorena enviando-a um único comprovante de depósito em sua conta que foi capaz de deixá-la em paz rapidinho.

Chamou um carro e foi até o restaurante tentando controlar-se no meio do caminho por tamanho nervoso. Era tanta ansiedade e alegria juntas que não sabia nem como se portar direito, ficava tal qual uma menina, fantasiando como aconteceria tudo, como sua companheira se sentia, como deveria estar ainda mais linda do que já era.

Na entrada teve um certo problema com o nome da reserva até compreender que o seu havia sido feito em seu pseudônimo, García - cabine 69, estava lá escrito em vermelho. Já sabia que ela lhe esperava, respirou fundo e enfrentou, mesmo com o coração prestes a fugir do peito, as pernas ameaçando falhar e o frio na barriga que tomava tudo.

O engraçado e o instigante da fantasia é esse, mesmo sabendo bem quem estava presente a sua espera, ainda sim, tudo estava ocorrendo como se fosse vê-la pela primeira vez na vida.

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