Conversa comigo.

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Como de costume, Jese esperava sua amada para que pudessem tomar café juntas. Desde o primeiro dia era sempre assim, ficava pronta mais rápido, sentava à mesa e não tocava em nada até que sua companheira estivesse consigo.

Nutria uma angústia por causa do seu sonho, porém, ao mesmo tempo, uma sensação de alívio queria nascer. Apesar de saber que encontrou seu amor de maneira espontânea e natural, ainda se acostumava com a ideia de tê-la agora, bem como as cenas da morte dela e da sua morte haviam sido aterrorizantes e doloridas.

— Está mais séria hoje. — Pontuou observadora ao acompanhar sua companheira sentando. Naquela altura do campeonato, Genevive já teria feito dar tanta risada, porém era um dia que estava mais calada.

— Pensativa. — Respondeu calmamente e deu um breve sorriso para tranquilizá-la.

— Quer compartilhar? Eu sei que eu sou meio desequilibrada, mas na maioria das vezes sei ser um bom ouvido. — A fez rir e sentiu o coração aquecer por isso.

— Ai meu Deus. — Expressou tapando a boca sem conseguir parar de rir. — Que ódio, Jesebel. — Em um bom humor saiu tendo uma crise de riso que contagiou sua parceira mesmo que não entendesse muito bem o motivo. — Eu não deveria rir dessas suas piadinhas depreciativas, mas elas saem de maneira tão natural de você. — Pressionou os lábios por um tempo, se forçando a parar. — Me pegou desprevenida.

— Da próxima vez eu aviso. — Deu uma piscadela divertida e a viu negar com a cabeça. — Mas é sério, o que aconteceu?

— Cheguei a conclusão de que nunca chegamos a conversar de fato sobre nós duas. — Pontuou mostrando que aquilo era importante para si, o diálogo sempre era. Já tinha aprendido sobre o quão essencial é a comunicação em qualquer relação. — Sentar e realmente falar sobre o que aconteceu. Sobre nós, sobre isso aqui que a gente tem.

— Compreendi... Fiz algo de errado? — Pendeu a cabeça para o lado, meio confusa apesar de falar totalmente o contrário.

— Fique tranquila. — Disse de pronto para acalmá-la. — Não sei como foram suas relações passadas, como era a questão do diálogo... Mas eu espero que compreenda que esse é um fator essencial pra mim, entende? — Falava tudo com um tom terno, estava somente exercendo a parte de precisar discutir sobre as coisas, todo relacionamento necessita disso. — Na verdade em todo relacionamento, às vezes pode ser desconfortável, no final de tudo é sempre libertador.

— Lembro de Dalila dizer que o que você fala, cura, mas o que você guarda, adoece. — Mostrou que a entendia e que se colocaria vulnerável para que desse certo a relação.

— É isso. — Assentiu com a cabeça. — Eu sei que às vezes a gente só quer guardar tudo, às vezes a gente quer ignorar, às vezes é desconfortável, dolorido, é aborrecedor, é chato, é vergonhoso... Mas comunicar ao outro sobre aquilo que está passando em sua cabeça, faz com que ele te compreenda e te conheça melhor. — Conseguiu alcançar os olhos meio esverdeados que estavam até mais claros naquela manhã. — Não sei se já contei, mas eu jogo tarot.

— Nossa, senti meu coração acelerar. — Riu anasalado e pousou sua mão ali por um tempo. — Não por medo e nem nada do tipo, mas por tanta semelhança com a Genevive... Aquela Genevive antiga. — Se referia ao seu amor de época e a psicóloga entendeu. — Não sabia que era tão presente na espiritualidade.

— Ando meio descuidada agora, mas eu sou. — Concordou compreendendo a colocação porque jogar tarot não era só jogar um baralho normal. Para quem realmente leva a sério é preciso muita dedicação e estudo, foco e muito comprometimento com a própria espiritualidade. — Eu jogo há muito tempo, na verdade. — Admitiu sorridente. — Eu já perguntei sobre você, óbvio. Mais especificamente sobre a nossa relação. — Suas perguntas foram em vão, o que não é pra gente descobrir, não é e acabou. E esse foi o caso, Genevive quis apressar as coisas, queria saber se García era Mainá, no final terminou bloqueada e sem respostas. Não adianta querer pular etapas, mas de maneira respeitosa, recebeu dicas do que poderia enfrentar. — Ele nos apontou movimentação e que tínhamos um defeito, a nossa comunicação baixa. Muito nos falávamos, porém pouquíssimo sobre nossa verdade.

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