O sol.

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Ao atendê-la na porta, Genevive a cumprimentou da maneira correta como deveria e como havia sido ensinada a fazer. Recebê-las em sua casa lhe trazia muita alegria e sabia que a felicidade também chegaria em sua namorada, por esse motivo ansiou para o momento em que se encontrariam.

Conversaram por um tempo, falaram por alto sobre os assuntos que precisariam dialogar e Gen teve de tomar uma atitude responsável. Apesar do cunho positivo da visita, existia um negativo também e havia ficado nas mãos da psicóloga decidir se ele seria exposto ou não. Por fim, escolheu de maneira madura, era melhor que a verdade fosse dita do que não dita.

Notando a postura ansiosa da namorada, Gen adotou um comportamento apaziguador. Jese tinha acordado nervosa, mas lidou com seus sentimentos da maneira em que podia. Se arrumou por inteiro e sentou-se esperando as tais visitas que chegariam.

Ouviu algumas vozes diferentes e depois as batidas na porta, que abriu revelando Genevive com um sorrisão imenso no rosto, sabendo que as mulheres fariam bem a namorada.

— Olha só quem veio te ver. — Pronunciou dando passagem para que elas entrassem.

Assim se mostraram, Jese viu a mulher negra alta que trajava um vestido de costume, típico seu e tinha os cabelos cinzas em tranças longas que iam até as coxas, estava cheia de acessórios e na mão carregava um grande buquê de flores. Sua melhor amiga Dalila e mãe de santo Lumanda, duas em uma só, sua saudade materializada em pessoa.

Logo depois apareceu Elizabeth, compartilhando do mesmo sorriso, tinha os cabelos soltos e também usava vestido, rapidamente se escondeu atrás da esposa para dar passagem a outra. Attena, sua irmã de alma, irmã de barco, irmã de renascimento para o orixá, irmã de batismo. No pescoço carregava a guia vermelha da orixá das duas, uma igual que Jese também estava usando naquele dia.

— Como é que minha menina está? — Lila perguntou em bom humor e foi só ouvir a voz dela que Jesebel desabou em um choro copioso. Era um choro de pedido de perdão por ter se distanciado sem dar justificativa, um choro de saudade pelos momentos com a melhor amiga e um choro de alegria por estar vendo ela novamente. — Que saudade de tu, Jesebel.

Levantou em um rompante e correu até ela, abraçando-a tão apertado enquanto chorava que até Dalila precisou respirar fundo pra mandar suas lágrimas retornarem e não conseguiu, precisou limpar seus olhos no meio do abraço mesmo. A mãe de santo sentiu o corpo da outra começar a tremer e logo interrompeu de pronto, achando bonito o momento, mesmo que tivesse que impedi-lo. Na mesma hora até Attena já colocou as mãos do lado esquerdo do abdômen e fechou os olhos, se balançando.

— Opa, calma. — Segurou Jese pelos ombros que retornou para si. — Não queremos chamar ninguém aqui.

— Tá querendo me virar, é? — Attena brincou ao voltar ao normal também, fazendo todo mundo rir por causa do susto.

O que havia acontecido era comum em momentos de muita emoção para pessoas que tinham se inicado para o orixá não faziam-se muitos anos. Primeiro, era porque provavelmente o interior de Jesebel estava em um turbilhão e sua santa, Iansã, havia identificado aquilo, querendo vir em Terra para socorrê-la; Em segundo, era sinal de que havia reconhecido Dalila como autoridade hierárquica, como mãe de santo, afinal foi ela quem implantou a energia da orixá em Mainá diretamente; Em terceiro, era um reconhecimento de Iansã como uma "volta para casa", um lugar seguro, um grito de socorro para tornar a ser cultuada e poder ajudar, interferir de fato, na vida da sua filha.

A reação de Attena também era natural, ela e Mainá haviam renascido juntas e isso significava que tinham ligação direta, havia um elo que as deixava conectadas até o final da vida. Então se estivessem as duas em um mesmo ambiente e Jesebel recebesse Iansã, a Iansã de Attena também descia na mesma hora, independente de qualquer coisa ou motivo, seja por fortes emoções, seja por engano, seja por ter sido realmente chamada. Até mesmo na morte, se uma delas chegasse a falecer e a outra fosse ver o corpo, em algum momento a orixá desceria em reconhecimento, seja no velório, estando dentro do caixão, antes de entrar no cemitério ou até mesmo para enterrá-la.

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