CAPÍTULO 62

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                                                                           Ara Blanche





Confesso que foi uma luta, sair daquela sala onde estão os meus filhos estão. Mesmo relutante com  Helena, ela não permitiu que ficássemos mais tempo por lá. Pois, preciso  repousar e os meus filhos também.

A Helena disse que pegaria alguma coisa para mim comer, mesmo eu afirmando que não quero nada, que não seja ter os meus filhos em meus abraços. Estou deitada na cama aguardando por ela faz meia hora.

A porta do quarto é aberta, e quem passa por ela não é a Helena, mas o Alessandro que está vestido ocasionalmente , com calças pretas, uma camisa de frio. Seus cabelos estão perfeitamente alinhados, e traz sacolas brancas em suas mãos.

— Oi… ainda bem que não está dormindo.  —  Sorriu encantador.

— Achei que você  não voltaria. — Falei pela primeira vez, estando surpresa com a sua presença de novo.

— Alguma vez quebrei uma promessa feita a você ?— Falou pousando as sacolas na pequena mesa, que estava perto da janela.

—  O que tem nas sacolas ?. — Desconversei, dando ênfase ao que ele carregava antes.

— Pensei que depois de um ano. — Apontou para mim. —Você não evitaria fugir de minhas perguntas, como antes. — Balançou a sua cabeça em negação.

Sempre  que estou perto de Alessandro , minhas atitudes são impulsivas. Eu não pensava que algum dia o veria novamente. Após um ano sobre domínio das atrocidades  de Lúpus Mazzarella. Achava que nunca poderia ter a minha liberdade de volta.

— Lembra do nosso primeiro almoço juntos ?—  Assenti, pois eu nunca me esqueceria desse dia. — Achei que você gostaria de provar novamente aquele  Ravioli. — Balançou a sacola.— Que você tanto gosta, já que passou tanto tempo fora do país.

Droga! Como é que ele sabe dessa história. Será que ele acha que estive  esse tempo todo fora da Itália, e agora voltei.

— Agradeço.  — Sorri. — Mas não deverias  preocupar-se tanto comigo. — Ele arrumava os pratos na mesa. — A enfermeira vai trazer alguma coisa para mim.  

— Que enfermeira , a senhorita Helena ? — Confirmei.  — Eu creio que não, cruzei com ela no corredor e informei que estava trazendo o seu almoço, ela sorriu afirmando que estava tudo bem.

Essa informação  deixou-me incomodada. Não por ciúmes de Alessandro. Mas, sim pela negligência de Helena. Tudo bem que seja o Alessandro , mas se não fosse ele!

Poderia ser qualquer pessoa , principalmente os membros do clã ou Salvatore. Não posso cair nas mãos desses homens novamente , agora que Lupus Mazzarella morreu, a minha liberdade não tem um dono.

— Agora faz todo sentido a sua demora.— disse a contragosto, vou conversar com ela depois.

—  Come antes que esfrie, o gosto não será o mesmo.

Sua aproximação , fez com que inalasse o cheiro do seu perfume inebriante, o seu cheiro é o mesmo há um ano. Recebi o prato e comecei a comer com gosto. Ele puxou uma cadeira para estar perto e começou a comer também.

Enquanto a gente comia, os  nossos  olhares cruzavam a todo momento. Eu vejo incertezas no seu olhar, e pesar.  Sei que ele tem inúmeros questionamentos sobre tudo isso. 

— Acho que a sua sogra não gosta de mim.— expressou insatisfeito. 

Eu também percebi que Amelie, não gostou muito do senso de proteção de Alessandro comigo. Por outro lado,  ela tem razão, não posso envolver pessoas inocentes na mira da máfia.

— Não diga isso Alessandro.— discordei de si, contornado a situação. — Eu sou muito grata por aparecer naquela estrada,  e ter salvo a minha vida e a dos meus filhos.

— Não precisa agradecer.— Levantou e levou os pratos vazios.— Desde saiba que, os seus filhos são lindos parabéns Ara! — Sorriu verdadeiro, sentando novamente.

— Devo admitir que sim.— Afirmei.— Não vejo a hora de pegar eles em meus braços de novo.

— Desculpe ser invasivo.— Segurou as minhas mãos. — Ara porque foi embora ? A sua família sabe que você voltou e agora é mãe? 

Eu sabia que o Alessandro tinha muitos questionamentos, mas eu não tenho o que responder.  Como vou falar para ele sobre tudo que eu passei nas mãos daquele homem.

A minha família nem sabe o que está acontecendo. Não posso falar para ele, que nesse momento a minha cabeça está a prêmio dentro da organização mais perigosa do país. 

Provavelmente quando eu falar , ele vai sair correndo para a delegacia. Eu gostaria que fosse assim tão fácil. Mas acredito que até na polícia , exista integrantes do clã, e podem encontrar os meus filhos e matar o Alessandro por saber demais. 

— Para a deixar ciente que não importa onde posso estar — pressionou as suas mãos no meu maxilar.— Você nunca terá a sua liberdade de volta!

Lembranças invadem os meus pensamentos, e lágrimas escorrem pelo meu rosto. Alessandro me abraçou forte, repouso minha cabeça em seu peito, estou  sentindo um nó na minha garganta.

Nos seus braços, eu tenho a sensação de segurança.  Ele acaricia meus cabelos com carinho.

 — Não tenha medo, você sabe que pode confiar em mim!— Assenti para ele, ainda em seus braços.— O pai de seus filhos , onde ele está? — O seu tom de voz alterou, como se soubesse que ele fez alguma coisa contra mim.

— Alessandro, por favor. —  Desfez o abraço. — Não quero falar dele agora.— Desvio o meu olhar do seu. 

— Tudo bem, mas eu juro que vou matar ele.— Apertou seu punho.—  Caso saiba  que, ele  fez algum mal a você.— A seu modo de falar , deixou-me assustada, nunca o vi desse jeito.

— Você não é um assassino , não fale bobagens.

— Eu não sou. — Segurou meu rosto em suas mãos. — Para a proteger sou capaz de tudo. — Suas palavras eram sinceras, isso confortou meu coração.

Olhei para sua mão e não vê aliança, que estranho. A essa altura ele já estaria casado, Graziella disse que achou que o meu sumiço era devido ao casamento de  Alessandro .

— Como está a sua esposa? — Quebrei o contato visual, afastando o meu corpo.

— Não casei, e nem cheguei a realizar a festa de noivado.— Não entendo, a minha expressão é de pura confusão.  — Eu tenho que lhe confessar algo.— Seu olhar foi até minha boca. — Mas antes, preciso fazer uma coisa!

Sem permissão, seus lábios tocam os meus. Fecho os meus olhos , sentindo leveza naquele beijo inesperado, sua mão segura meu rosto com delicadeza intensificando o beijo. A porta do quarto foi aberta e nos separamos com rapidez.

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