CAPÍTULO 60

503 56 7
                                    

 ARA BLANCHE

As contrações não cessaram, sentia dor pelo meu corpo inteiro. Minha cabeça dói muito, o suor escorre pelo meu rosto. 

— Ahhh… está doendo muito!

— Você está pálida! — Desviou olhar da estrada para mim. —  Aguente um pouco a gente está a caminho do hospital.

— Estou perdendo os meus filhos. — suspirei, e uma tontura me atingiu. — Me ajude, por favor, estou perdendo os meus filhos. 

— Não desmaie Ara… — Meus olhos pesam. — Fique comigo, eu estou aqui com você. — Apertou minhas mãos.

Estou sentindo o sangue escorrer novamente em minhas pernas. Essa dor é insuportável, meu coração está acelerado. Passei as mãos entre minhas pernas, me apavorei sentindo a cabeça saindo.

— Amelie para o carro, o meu bebê  está nascendo. — Soltei um grito abafado.

O carro freou rapidamente, a estrada está vazia , há muitos arbustos ao redor.  Amelie desceu dando a volta, e abriu a minha porta às pressas.

—  Não podemos esperar , essas crianças precisam vir ao mundo agora.

Estava muito fragilizada, o meu corpo estava  suando frio, e a dor só piorava a cada segundo. Amelie abriu uma garrafa de água, molhando o meu rosto, e descalçou meus pés.

— Olhe para mim! — Agarrou meu rosto. — Você precisa trazer os seus filhos ao mundo, respire  fundo.

Ouvimos o som de um carro se aproximando, meu corpo ficou em alerta. Amelie sem demora retirou uma arma do porta luvas, escondendo-a dentro de suas calças.

—  Minha senhora está tudo bem? — O homem desconhecido falou se aproximando, eu conhecia aquela  voz, meu Deus não pode ser ele.

— A minha nora está entrando em trabalho de parto. — O seu tom é inseguro.

— Vou ajudar a senhora. — Deu alguns passos.—  Aonde está a sua nora? — expressou firme, quando seu olhar encontrou o meu. — Não pode ser! — O seu corpo paralisou. —  A-Ara é você … ?

Não é uma alucinação, é mesmo ele. Sua barba por fazer, cabelos espessos e roupas de treino. Seu rosto continua o mesmo, sua feição transparece dúvidas.

— Alessandro… mas como! AHHHHH. — As minhas partes íntimas ardem.

— Ela está sangrando muito, precisamos a levar para o hospital. — Alessandro, fala desesperado para Amelie.

— Não temos muito tempo. — Contestou Amelie. — O parto deve ser feito agora!

O meu assento é inclinado, e minhas pernas estão expostas fora do carro. Faço inspirações e aspirações  com esforço. Meu vestido é levantado até a altura do meu peito.

— Você tem alguma coisa no seu carro, para limpar? — Amelie diz, mas o seu olhar ainda está em mim.

—  Tenho toalhas e uma garrafa de água, vou lá pegar. — Ele saiu correndo.

—  Seja forte querida, tudo vai correr bem. — Acenei com a cabeça concordando, apertando meus lábios.

—  Estão aqui, senhora. — falou ofegante. —  Aproveitei e trouxe um canivete esterilizado.

— Agradeço , por favor, molhe as toalhas. — Ele prontamente o fez.  — Você precisa fazer força , o primeiro já está saindo, querida.

— AHHHHH… eu não consigo Amelie.

— Não pare querida, está quase. — Alessandro segurou minhas mãos.— Não tenha medo , estou aqui não vou sair do seu lado.  — Acariciou meu rosto com sutileza.  

 Fechei meus olhos, derramando lágrimas,  apertei suas mãos com vigor. Fazendo força, empurrei até ouvir um choro alto e sofrido .

— Nasceu, meu deus é um menino… é um menino. — esbocei um pequeno sorriso, meu filho. —Não… não, por favor não desista Ara, está faltando o outro. — Amelie balançou o bebê em seus braços, olhando para mim em desespero.

— Ela está morrendo, precisamos a levar ao hospital agora!

Sua voz é de aflição, ouço o choro do meu filho ao fundo. Eu senti meu sentido  enfraquecendo e tudo ficou preto diante dos meus olhos. 




(...)







Desperto sentindo minha boca seca, estou deitada em uma cama, com um soro em minhas veias. Tento me acostumar com a luz. Meus músculos parecem adormecidos, lembro do que aconteceu, assustada toquei com dificuldade minha barriga. 

  — Meus filhos… onde estão os meus filhos. — Sussurrei

— Você acordou, como está? O que está sentindo? Acho melhor chamar o médico. — Amelie se aproximou da cama e sorriu alegremente.

—  Não… eu quero os meus filhos! Aonde estão Amelie? — Tentei sentar na cama,  mas fui impedida.

— Nem pense em fazer esforços, você sofreu uma cesariana. — A informação deixou- me perplexa.

— Como assim…?

— O primeiro bebê você fez o parto normal , no segundo você desmaiou. A trouxemos com urgência  à clínica de Ernesto. — suspirei aliviada.  — Ara você teve uma menina, o seu segundo bebê é uma menina linda.

Os meus olhos estão marejados, uma menina! Eu sou mãe de uma menina e um menino, o meu coração dá até um aperto estranho.Amelie olha para mim com satisfação. 

— Quero ver os meus filhos … por favor leva-me até eles.

— Querida você perdeu muito sangue, os médicos a induziram a um coma por quatro dias, só a despertaram hoje. — Estou surpresa. — Os seus filhos estão bem, mas a gente tem um outro problema para resolver!

Ela afastou-se do meu campo de visão, estou abismada com o que vejo! Alessandro está dormindo no pequeno sofá da sala totalmente desajeitado.

 — O que ele faz aqui Amelie? — Questionei nervosa.

— Quem é esse homem ?— Como explicar a ela. — Ele está a quatro dias aqui no hospital e não saiu do seu  lado de jeito nenhum.

Não é possível que ele tenha passado este tempo todo aqui comigo. Porque  o fez, sei que de certa forma ele sempre teve esse lado protetor com todos à sua volta.

— A gente precisa conversar sobre isso, não esqueça que não estamos seguras aqui. — O meu corpo arrepiou, só de imaginar. — Eu vou acordar ele!

Ela caminhou até ao sofá e sacudiu os ombros de Alessandro, sem delicadeza nenhuma. Ele pulou assustado , mas ficou calmo quando viu ela. Seu olhar perdido percorre o quarto inteiro, e para na cama. Seus olhos brilharam ao encontrar os meus.

—  Você acordou, que alívio. — Caminhou a passos largos até a cama, e segurou minhas mãos. — Você está bem? Sente alguma dor?

Eu só conseguia responder com gestos, nenhuma palavra sai de minha boca, estou muito nervosa por sua aproximação , eu jurava que nunca mais o veria e hoje ele está aqui segurando minhas mãos.

— Senhor Alessandro , por favor chame uma enfermeira, e avise que a Ara já despertou, ela precisa ser examinada. 

Amelie cortou aquela aproximação. Ele se afastou envergonhado e saiu da sala. Eu conhecia perfeitamente aquele olhar de Amelie, e é de reprovação.

CONTRAVENTOR Onde histórias criam vida. Descubra agora