022. VIDEOZINHO.

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Fones de ouvido, música da sua preferência.
A minha foi Love The Way You Lie, Eminem e Rihanna.

Raphael Veiga

Havia prometido pra mim mesmo que não questionaria Lorena sobre o possível boato dela ter dormido com o Arrascaeta.

Mas, isso está me incomodando tanto, eu fiquei remoendo essa confusão durante o resto da viagem. E estou remoendo agora enquanto ela está deitada sobre o meu peito mexendo no celular. Mesmo depois da noite que tivemos ontem, eu não consegui relaxar. A vontade de saber tá falando mais alto que a promessa que fiz.

– Vou no banheiro. — ela levanta, veste uma blusa minha e anda até o banheiro.

Mas o telefone continuou aqui, sobre a minha barriga. Desbloqueado.

Um demôninho na minha cabeça fica mandando eu pegar o telefone e dar uma olhadinha, enquanto o anjinho do outro lado me repreende e diz que isso não é o certo a se fazer.

Solto um longo suspiro. Não sei por que isso tá mexendo tanto comigo, sério, pareço um adolescente inseguro. Talvez seja hora de encarar de frente essa bagunça de sentimentos e descobrir o que diabos está acontecendo comigo.

E o telefone dela vibra, ainda desbloqueado, ainda em cima da minha barriga. E então, o demôniozinho vence.

Arrascaeta
Esqueceu de mim, cariño?
Manda o videozinho aí por favor
Só pra matar a saudades.

Videozinho? Matar a saudades?
MAS QUE PORRA É ESSA.

Observo que mesmo que o número do Arrascaeta esteja salvo, é a primeira conversa deles. Mas eu decidi vasculhar o resto, instagram, twitter, até no gmail eu entrei.

Escuto a torneira do banheiro sendo ligada e isso faz com que eu apresse minha curiosidade até a galeria.

Rolo meu dedo pela tela, sentindo meu coração pulsar tão rápido que é como se saísse pela boca. Meus dedos suam e deixam marcas úmidas pela tela do celular de Lorena.

Entro na pasta de vídeos, e o mais recente chama minha atenção. A iluminação roxa, o vídeo meio escuro.
E é nele que eu dou play.

E foi a pior decisão que eu já tomei na minha vida.

– Fuçando meu telefone? — ela pergunta com a braços cruzados sobre o peito.

Que nojo. Que sensação horrível. Minha respiração tá tão desregulada que sinto minha boca tremer. Um suor frio escorre da minha testa e eu engulo seco tentando falar alguma coisa.

– Que porra é essa Lorena? — viro o telefone em sua direção. E aumento o volume de propósito, pra que ela veja e escute.

O som do vídeo ecoa no quarto e isso me faz sentir uma raiva sobrenatural. Ela arregala os olhos, e o silêncio tenso se instala.

– Você tem merda na cabeça caralho? Qual o seu problema? — levanto da cama. – Qual sentido filmar isso?

– Veiga, eu...

– Mano... — respiro fundo. – Namoral Lorena, se isso aqui foi uma tentativa de me atingir, parabéns. — bato palmas. – Você conseguiu.

– Esse é o seu problema. Você acha que o mundo gira ao seu redor. — ela toma o telefone da minha mão. – Você não tem o direito de mexer nas minhas coisas.

– Essa é sua preocupação? Você jura? — meu maxilar está tão trincado que dói.

– Esse surto seu está sendo hilário. — ela ri. – É assim que você pensou que eu fosse reagir quando vi você com a Bruna?

– Lorena, ele gozou dentro de você. — ela me encara. – Vocês transaram sem camisinha. Sabe o risco que você correu? Que eu corri?

– Pensa pelo lado bom, se eu engravidar, o filho não vai ser seu. — estala a língua no céu da boca.

Cada palavra dela atinge como um soco, a raiva fervendo dentro de mim, me faz gritar.

– QUAL É O SEU PROBLEMA?

– VOCÊ É O MEU PROBLEMA. — grita em cima do meu rosto.

Me sinto à beira do abismo, a confusão e a dor se misturam, deixando meu coração acelerado. O silêncio que se instala é um campo de batalha onde ainda tudo ecoa de maneira desastrosa na minha mente, uma tempestade emocional se desenha diante de nós.

– Você é homem do caralho pra me cobrar as coisas, e achar que é meu dono. — ela continua. – Mas quando é com VOCÊ. — bate com o dedo no meu peito. – Dói mais né?

As palavras dela cortam como faca, e a irônia dela bate forte. Fico sem palavras, só encarando, enquanto a verdade que ela joga na minha cara faz meu peito apertar. O silêncio tenso paira entre nós, cheio de mágoa e ressentimento, criando uma distância que parece difícil de superar.

– Então você tá assumindo? Está assumindo que tudo isso é pra me atingir? — me aproximo, meu rosto fica perto do seu e eu observo os olhos dela marejados.

Ela engole em seco, desviando o olhar por um instante antes de encarar de volta.

– Isso não é sobre mim. Nunca foi. — sussurra, sua voz carregada de uma tristeza que eu não esperava. – Não é sobre o que eu faço ou deixo de fazer, até porque, isso não te diz respeito.

Quem eu estou tentando enganar, todas as vezes que eu falei que não tínhamos nada, eu só estava reforçando que a gente tinha sim alguma coisa.

E ela tá claramente levando isso pro coração, interpretando do jeito que eu queria que interpretasse. Que a gente não tem nada.

Mas, que merda, as coisas mudam pra caramba.

– Eu sou orgulhoso, pra caralho. — ela anda pra trás quando percebe que eu estou indo em sua direção. – E se você está esperando que saia da minha boca um eu te amo. — dou uma risada irônica. – Esquece, isso não vai acontecer.

Porra, o clima fica mais pesado ainda. O que eu tô falando?

– Eu odeio você. — Lorena solta, a voz trêmula faz eu sentir mais raiva ainda de toda essa situação, como se só eu estivesse errado.

O ódio, tão cru e direto, se instala entre a gente, formando uma barreira emocional tão densa. Cerro meus olhos pra ela, tentando ler suas expressões, entender se o que ela está dizendo é verdade ou só mais uma tentativa de manter longe.

Mas sua expressão realmente está diferente, seus olhos não estão mais marejados, e suas bochechas têm um tom quente de raiva.

Meu estômago embrulha, isso atinge meu orgulho. A mudança no rosto dela mostra uma outra vibe que eu não tava esperando, e a raiva que substitui a tristeza deixa tudo ainda mais confuso.

Quando ela sai debaixo do meu rosto e tenta alcançar a porta, fecho os punhos, pensando se devo impedir ela ou não.

Fico naquela dúvida do que fazer, se devo segurar ela ou deixar ir. O clima tenso deixa tudo mais confuso, e eu tô ali, parado, sem saber qual movimento fazer.

E então ela saí, sem deixar rastros, sem falar tchau, e muito menos olhar pra trás.

Uma onda de sentimentos me atinge. A culpa. O ressentimento. A raiva. O orgulho. E por último, a pena.

Tenho pena dela, que me conheceu assim, desacreditado. Dá vontade de começar do zero e falar; "Desculpa, é que passou alguém por aqui que já levou tudo."

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Autora: A briga veio... Confesso que fiquei com um pouco de pena.😅

Mas quero a opinião de vocês sobre esse capítulo, vou estar lendo e respondendo os comentários de vocês.

𝐏𝐈𝐋𝐀𝐍𝐓𝐑𝐀 - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora