𝐏𝐈𝐋𝐀𝐍𝐓𝐑𝐀 - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.

020. TRABALHO.

📍DE VOLTA PRA

SÃO PAULO.

Lorena Viana

Tive que voltar mais cedo da minha "mini" viagem pro Rio de Janeiro. Motivo? A moça do RH do São Paulo finalmente me ligou e marcou uma entrevista.

– Você já tem alguma experiência como social mídia? — me pergunta com os olhos fixos no meu currículo.

– Só como estagiária. — junto minhas mãos por debaixo da mesa. – Na verdade não tem muito tempo que eu terminei minha faculdade e... Tem pouco tempo que me mudei pra São Paulo.

– É, estou lendo aqui... — me olha por cima dos óculos de grau. – Você é nordestina né? Formou lá?

– Sim. Eu morava em uma cidadezinha bem pequena do nordeste e pegava ônibus todo dia até Fortaleza pra fazer minha faculdade. — ela larga o papel pra prestar atenção em mim.

– Imagino que tenha sido complicado. — sorri com os lábios.

– Não vou mentir pra senhora não viu, foi e muito. — prendo os lábios. – Eu pensava por várias vezes em desistir, mas... Eu também queria dar orgulho pra minha família e conseguir melhorar nossa situação.

Falar sobre como minha vida foi difícil no nordeste é meio complicada pra mim. Não quero que as pessoas sintam pena de mim e me olhem com aquela cara de tipo; "nossa coitadinha, ela sofreu tanto."

Minha vida não era fácil, verdade. Morávamos numa casinha pequena, dividindo quarto apertado com meus dois irmãos. A grana era curta, mas nunca passei fome, meu pai se desdobrava pra garantir o básico.

E quando eu consegui minha vaga na federal de Fortaleza, nossa, foi motivo de festa pra todo mundo lá em casa. Minha mãe fez até um bolinho de cenoura com chocolate pra gente comemorar, meu favorito.

E poxa, eu queria tanto retribuir tudo que eles fizeram e fazem por mim sabe!? Por isso que eu me mudei pra São Paulo, na expectativa de conquistar minhas coisas e conseguir trazer todos eles pra cá.

É meio louco pensar nessa jornada, mas tô aqui tentando correr atrás dos meus sonhos e também dos deles.

– Imagino como deve ter sido difícil pra você deixar eles lá. — mordo a parte interna da bochecha. – O que me tranquiliza é saber que você é nova e terá outras oportunidades de emprego.

Bacana. Já entendi agora.

– Porque aqui é só pra você pegar experiência. — franzi o cenho. – Está contratada Lorena, você começa Segunda-feira que vem. — entende a mão.

– Você está falando sério?

– Claro, seu currículo é quase impecável. — sorri. – Só te falta uma experiência, e é aqui que você vai ter essa chance.

Solto um suspiro aliviada.

– Muito obrigado, de verdade. — aperto sua mão. – Não sei como agradecer.

– Pode começar apagando seus vídeos em cima do trilho do Palmeiras... — meu corpo paralisa e eu fico gelada com medo dela estar falando do que aconteceu naquele dia. – Infelizmente, pra evitar confusão com os nossos torcedores, precisamos que eles pensem que todo mundo que trabalha aqui é São Paulino ou não torce pra time nenhum.

Mais um suspiro de alívio. Meu Deus, quase infartei.

– Ah sim, claro. Eu apago sim. — ofereço pra ela um sorriso.