016. PROBLEMÁTICO.

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Lorena Viana

Cara... Eu quero me matar.

É isso. Eu vou me matar.

E não por causa do Raphael, jamais me mataria por causa de homem nenhum desse mundo. Mas sim por causa de toda essa situação que EU escolhi passar.

Sério Lorena, qual a necessidade de passar tanta vergonha? SÉRIO.

– Tá tudo bem? — ele me pergunta, passando pela moça que estava a sua frente. – Bruna entra.

Bruna. Então o nome da loira é Bruna.

– Ué, por que? — ela cruza os braços sobre o peito. – Tem segredinhos com essa aí? — aponta pra mim.

– Não é da sua conta. — ele cerra os olhos pra ela. – Lorena, aconteceu alguma coisa? — ele levanta meu rosto tocando no meu queixo.

– Na-não. — gaguejo. – Eu... Eu... — porra, porque ele tá me encarando. – Só estou com um pouco de dor de cabeça e tô sem remédio, vim perguntar se você tem... Sei lá, um dipirona?

Será que colou essa desculpa? Merda, eu só quero me afundar nesse chão e não sair nunca mais. E ele sabe que eu tô mentindo, ele sabeee. O maxilar marcado, e os lábios tão pressionandos que suas bochechas ficam vermelhas.

– Por que você não ligou pra alguma farmácia? O Veiga não é médico. — a tal Bruna abre a boca mais uma vez. – Pelo menos não que eu saiba.

Eu não falo nada. Ele também não fala nada. E silêncio constrangedor só se encerra quando o barulho dos chinelos de Veiga se faz presente. Ele entra no apartamento e em poucos segundos saí com duas cartelas de remédio na mão.

– Toma. — me entrega. – Dipirona e Dorflex.

– Obrigada. — ofereço um sorriso sem mostrar os dentes. – Bom... Vou indo.

Viro as costas sem nem querer ouvir oque ele estava prestes a falar.

Me sinto uma idiota. Sério. Há minutos atrás eu tava reconsiderando essa postura de cafajeste dele, tentando achar uma desculpa pra ser uma armadura ou sei lá o quê, mas não, parece que ele é assim mesmo.

A sensação de ter caído em mais uma cilada mistura com decepção e raiva, e o que antes era uma tentativa de entender agora é só uma sensação de ter sido enganada.

Entro no meu apartamento e dou um suspiro pesado. A sala tá escura, mas a luz fraca da casa dele ilumina o suficiente pra eu perceber que as coisas estão do jeito que deixei antes de sair.

Eu me pergunto por que me deixei envolver novamente nesse tipo de joguinho, esse joguinho de homens. Pensei que talvez pudesse mudar alguma coisa. A realidade, porém, é que parece que eu só caí mais fundo na mesma armadilha. O nó na garganta aperta, e agora só resta encarar a situação de frente e decidir o que fazer a partir daqui.

– Não sou mulher de correr atrás de ninguém e com ele não vai ser diferente. — converso comigo mesmo. – Isso é uma promessa.

Raphael Veiga

A única coisa que passou pela minha cabeça quando vi Lorena naquela porta foi o meme do Whindersson Nunes; "Fudeu. Agora fudeu de vez."

Na minha cabeça, ia acontecer um barraco. Ela ia sair arrastando Bruna pelos cabelos, ia me xingar de todos os nomes horríveis possíveis, e a coisa toda ia virar um episódio dramático digno de novela mexicana.

Mas, não. Não foi isso que ela fez. E, de certa maneira, sua reação foi até surpreendente. Continuou com a postura ereta, conversou olhando no meu olho, gaguejou um pouco, mas nada fora do comum. A normalidade da situação cria uma atmosfera estranha, como se eu tivesse esperando o fogo e só recebesse uma brisa suave.

𝐏𝐈𝐋𝐀𝐍𝐓𝐑𝐀 - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora