029. PRESENTE.

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Raphael Veiga

Gostei bastante dessa versão. — Lorena morde um sorriso.

Desabafar me aliviou muito. Pode ser que eu tenha soltado mais do que devia, mas ver que ela realmente entendeu, foi incrível pra caramba.

Pera... Só eu desabafei. — ela me olha. – Você não tem nada pra me contar? Nenhum trauma?

– Olha, o meu trauma foi a anos atrás, na minha adolescência, quando a Helena se mudou e eu me senti meio... Perdida, sabe!?

– E foi lá e fez merda.

– É, eu meio que... — coça a nuca. – Perdi minha virgindade com um cara que eu mal conhecia, e foi uma bosta. — seguro a risada. – Não ri Raphael.

– Desculpa, mas é porque eu tava esperando outra coisa.

– É porque vocês homens não têm noção do quanto a virgindade é importante pra nós mulheres. — ela olha pro chão. – Eu me senti um lixo depois, porque ele simplesmente não disse uma palavra quando terminou, sendo que o...

– Pós sexo diz muito mais que o sexo em si.

– Exatamente. Até você entende isso. — dou risada. – E cara, eu nem queria ter nada sério com ele, eu nunca fui apegada a ele ou coisa do tipo, mas... Nossa, era o mínimo.

– Ás vezes a gente só quer o mínimo mesmo, mas parece que até isso é pedir demais. — respondo, mantendo a leveza na conversa. – Mas e aí, o que você fez sobre essa situação?

– Fiquei com um certo trauma dessa coisa de ir direto ao ponto com qualquer cara. — franzi o cenho. – Mas apareceram outros, que me mostraram que o problema não era comigo.

– Outros? No plural? — ela gargalha.

– Variedade ué, é sempre bom experimentar.

– Percebi que você curte experimentar, até caiu no encanto de certas pessoas. — ela me encara e eu desvio o olhar.

Não vou esconder que fiquei revoltado por ela ter ficado com o Arrascaeta, isso me tirou do sério. Foi tipo um soco no estômago, uma mistura de incômodo com raiva. Não sei, é difícil explicar, mas essa situação toda mexeu comigo mais do que eu esperava, e eu precisei lidar com isso sozinho.

– Só pra constar, eu não fiquei com o Arrascaeta pra te atingir. Sinceramente, você foi a pessoa que eu menos pensei enquanto estava no Rio.

– Caraca, vai devagar.

Dou risada do gargalho que ela deu.

– Você tem que parar com essa mania Raphael. — nega com a cabeça.

– Que mania?

– De achar que o mundo gira ao seu redor.

– Eu sei que o mundo não gira ao meu redor. — arqueo as sombrancelhas. – Já você... Não posso dizer o mesmo.

Ela revira os olhos, mas não nega.

A partir daí, ficamos em silêncio. Um silêncio confortável, onde aproveitamos a brisa fria da noite e um céu mais estrelado que o normal. Pra quem mora em São Paulo, ver as estrelas é uma dádiva.

Às vezes, é nas pausas que rola uma compreensão mútua, e ali, com as estrelas de testemunha, parecia que a gente tava dando um tempo nas diferenças.

– Vai passar o Natal onde? — pergunto, fazendo ela desviar o olhar do céu para me encarar.

– Provavelmente vou ficar em casa mesmo. — responde meio cabisbaixa.

𝐏𝐈𝐋𝐀𝐍𝐓𝐑𝐀 - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora