𝐏𝐈𝐋𝐀𝐍𝐓𝐑𝐀 - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.

001. DIGNIDADE.

SP📍

Lorena Viana

Nunca vão encontrar minha dignidade.

Eu perdi ela quando tinha 15 anos e estava desesperada pra perder minha virgindade por pressão psicológica do meu grupo de amigos do colégio. Resultado, transei com um adolescente qualquer que nem sequer perguntou meu nome antes de tirar minha roupa.

E desde então hoje é minha segunda perca de dignidade, porque o que eu tô passando nesse aeroporto é brincadeira.

– Como assim perderam minhas malas?

– Não perderam suas malas, elas estão por aí. — o moço me responde na maior tranquilidade.

– Estão por aí aonde diacho? — meu sotaque nordestino faz ele rir. – Eu tenho uma mala só aqui e eu trouxe outras três.

– Senhora, calma.

– Senhora calma. — imito ele com a voz mais fina. – Você tem noção que todas as minhas coisas estavam naquelas malas né!?

– É? E nessa aí tem o que? — ele pergunta rindo.

– Meus livros e calcinhas. — depois que eu respondo que vou pensar que ele não tinha que saber disso. – Não te interessa.

Ele gargalha e esse jeito tranquilo dele está me estressando.

Pego meu celular e ligo pra única pessoa que pode me salvar dessa enrascada.

– Alô? Já chegou é? — a voz de Lara me trás uma tranquilidade que me faz suspirar, fico aliviada por ela ter atendido, porque geralmente ela sempre está com a boca ocupada, se é que vocês me entendem.

– Amiga, eu cheguei tomando no rabo já. — ela solta uma risada. – Sumiram com minhas malas.

– Você tá brincando? — solto uma risada frouxa. – Que azar hein!? Acabou de chegar.

– Tem como você vim me buscar, por favor? — faço beiço mesmo ela não me vendo.

– Claro que... — uma pausa silenciosa e eu escuto Lara xingar Piquerez no fundo e logo em seguida o Richard. – CARA, VOCÊS NÃO ME DÃO PAZ. — afasto o celular do rosto. – Eu tô indo amiga, me espera aí.

Dou risada quando ela desliga o telefone.

Conheci Lara por acaso em um site de mobília, ela estava caçando uma casa pra morar com seus dois machos e eu  procurava por um apartamento aqui em São Paulo. Acabou que o apartamento que eu me interessei era o que ela morava e a gente começou a conversar, e quando a gente se encontrou pela primeira vez, a conexão bateu de primeira e viramos amigas do nada.

Antes de mudar completamente pra São Paulo igual estou fazendo agora (ou pelo menos tentando fazer), eu já vim aqui pra passar as férias com minha melhor amiga Helena, que se mudou pra cá aos 14 anos com os pais e me deixou lá sozinha, perdida naquele nosso grupinho sem noção.

Sem noção não, muito apocalípticos como falam hoje em dia. Eu vivi tão intensamente minha adolescência que hoje não tenho energia pra mais nada. Meu negócio agora é comer, dormir, ler um bom livro e só.

Sou uma jovem de 23 anos, com mente de idoso. E me sinto bem assim.

Na verdade não. Não vou mentir que às vezes dá vontade de viver um romance intenso, aquelas coisas bem loucas igual dos livros que eu costumo ler. Porque é neles que eu me afogo quando estou sozinha. Fugindo da realidade. Das pessoas a minha volta. Imaginando cada cena daquilo que eu estou lendo. Como se eu estivesse ali dentro... Mas infelizmente não estou, quem me derá se estivesse.