035. DIA DIFÍCIL.

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Lorena Viana

Um microfone, um crachá, uma prancheta, duas canetas e uma câmera no pescoço. É assim que eu desço pela vigésima vez a escada que dá acesso ao campinho de treino do São Paulo.

Fala sério, parece que eu sou a única que trabalha com mídia nesse lugar hoje. Eu literalmente tô fazendo tudo, tirando as fotos, editando, fazendo vídeo do treino, postando story, interagindo no twitter. Às vezes, parece que eu sou o departamento inteiro de comunicação, mas é isso aí, né? Explora da novata, porque ela não vai poder reclamar.

– É essa aqui? — lá vem o Luciano me encher o saco pela décima vez. – Fiquei sabendo que você namora rival.

Minha vontade de mandar ele ir a merda é tão grande.

– Ué, quem namora rival pode trabalhar aqui? — Arboleda entra na onda.

– Porque que ao invés de me encher o saco, vocês não me ajudam a tirar foto dos seus companheiros, hein!? — entrego a câmera na mão do Luciano.

– Eu não, não tô aqui pra isso. — ele nega com a cabeça. – Eu sou jogador, não repórter.

– Sério? Se você não falasse. — respondo irônica. – E que você quase não tá jogando, pensei que já tivesse virado um móvel daqui do CT.

Arboleda caí gargalhada, enquanto Luciano me encara surpreso com minha resposta. Mas é aquele ditado né!? Perco o emprego, mas não perco a piada.

Ele balança a cabeça, meio incrédulo, enquanto Arboleda se recupera da risada.

– Não dou um mês pra você ser demitida. — ele insiste na encheção de saco.

– Ainda bem que você é um mero jogador, e não tem esse poder de decisão. — estalo a língua no céu da boca.

– Já tão enchendo o saco da menina de novo? — Lucas chama a atenção deles. – Bora treinar, vamos, vamos. — bate palmas.

A rotina do treino recomeça, mas agora com um toque mais leve de descontração. Parece que as provocações e piadas são parte essencial do ritmo deles no CT, e eu, mesmo sendo alvo, já me sinto parte disso.

Passo o resto da manhã filmando eles, as brincadeiras, e escutando cada vez mais eles enchendo meu saco. Agora, Arboleda e Luciano ganharam a companhia do Diego Costa. Parece que os jogadores estão se unindo para fazer o meu dia menos pesado, ou talvez seja apenas a maneira deles lidarem com a rotina intensa dos treinos. Eu, pelo menos, tô aproveitando cada provocação e risada nesse momento.

Dado a hora do almoço, eu dou graças que sou liberada primeiro que eles pra comer em paz. Mas a paz durou pouco.

– Lorena. — um senhorzinho que trabalha aqui me chama. Olho em sua direção lentamente. – O Muricy tá te chamando lá no RH.

– Muricy? Sério? — respondo surpresa, colocando a bandeja na mesa e me levantando. – Tô indo lá então.

Caminho até a sala do RH, com pensamentos voando sobre o que poderia ser. Ao entrar, vejo Muricy sentado atrás da mesa.

– Lorena, senta aqui. Precisamos conversar. — ele diz com um semblante sério.

– Aconteceu algo? — sento, meio apreensiva com o que ele quer me falar.

Muricy olha para mim com um sorriso amigável e diz:

– Lorena, tenho notado o ótimo trabalho que você vem fazendo aqui no clube. Suas coberturas dos treinos e jogos estão excelentes, e os jogadores parecem gostar muito de você.

𝐏𝐈𝐋𝐀𝐍𝐓𝐑𝐀 - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora