024. CONVERSA.

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Lorena Viana

Não consigo pregar o olho. Tem muita coisa rodando na minha cabeça ao mesmo tempo. Muitas perguntas, muitas respostas, muitos flash's de momentos. Porra, sinto que vou enlouquecer.

Decido deixar minha insônia vencer e levanto da cama indo até a cozinha preparar um chá, tomar algum remédio pra dormir, sei lá, eu preciso dar um jeito de parar minha mente.

Sabe aquela sensação de peso? Por estar com uma situação mal resolvida? Tipo, por mais que eu sei que tenho total razão em manter a distância e não falar nada, eu queria que houvesse pelo menos um diálogo.

Uma conversa sincera, em que ambos confessam o que está passando na cabeça. Ou que só se desculpem e concordem que não dá e é isso. O silêncio pra mim é uma tormenta.

Mas ainda bem que o remedinho pra dormir fez efeito, e eu capotei igual um neném no sofá da sala mesmo. Acordei com o corpo dolorido e atrasada pra encontrar com Helena na loja de vestidos de formatura. Daqui alguns dias a gata será oficialmente veterinária.

Vou direto pro banheiro tomar um banho, vestir uma roupa e em seguida tomar meu café na varanda. Minha varanda está aberta, dormiu aberta, e eu me vejo curiosa como sempre, olhar a varanda do "vizinho".

Ele tá lá na cozinha, dá pra ver a sombra, e de repente, ele aparece na sala e se joga no sofá. Raphael tá todo equipado com roupa de academia, mas a coisa que mais me chama atenção é a faixa apertada no braço. E, sério, a camiseta branca tá coladinha, tipo, muito coladinha, e a bermuda... bom, não dá pra ver direito.

Mas o que raios é essa faixa no braço? Tô morrendo de curiosidade. Será que rolou uma academia pesada ou tá querendo esconder alguma tatuagem nova?

Por que eu quero saber disso também? Pelo amor de Deus Lorena, até dias atrás vocês dois estavam quebrando o pau.

Mas ele olha pra varanda, ele olhaaaa.

E assim, eu esperei que viesse uma piadinha como sempre, ou que ele chegasse perto da varanda. Mas não, ele simplesmente só acena e depois sai.

Confesso que mexeu um pouco com meu ego. Cara, que ódio. É só pedir desculpas, Raphael, só pedir. Abre a merda da boca e fala; "desculpa por aquele dia, Lorena". Às vezes, parece que ele têm um bloqueio em dizer essas palavras simples. É como se fosse a coisa mais difícil do mundo admitir que errou.

E se ele está esperando que eu vá atrás. Eu tenho é dó. Vai morrer esperando.

Saio de casa já sem paciência. O barulho do meu tênis saí como marcha até o elevador que estava quase fechando, mas adivinha quem segurou a porta pra mim? ADIVINHA.

Um completo silêncio no elevador. Chega a ser até constrangedor. Ele não fala nada, eu não falo nada, e assim os dois ficam escutando o barulho dos números descendo.

Sabe o que é pior? Eu consigo perceber que ele quer falar alguma coisa. O maxilar dele tá mexendo, e tenho quase certeza que ele está me dando leves olhadinhas de lado. Que clima bosta, sinceramente. Às vezes, a comunicação entre duas pessoas parece mais complicada do que física quântica. Por que não podemos simplesmente soltar o que tá entalado na garganta? O elevador desce, e o peso do silêncio aumenta a cada andar.

Começo a me questionar se eu deveria abrir a boca, pra que ele pelo menos perceba que não estou tão brava quanto ele pensa. Mas, na real, ele deve pensar isso sim. Vacilou feio. A tentação de mandar uma indireta tá grande, mas também não quero parecer desesperada. Só queria que essa merda de elevador chegasse logo. Não quero passar a impressão de que tá tudo de boa, porque não tá.

𝐏𝐈𝐋𝐀𝐍𝐓𝐑𝐀 - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora