049. ESTRANHO.

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Lorena Viana

Raphael tá estranho desde a reunião. Entrou no carro calado, fez o trajeto inteiro calado, só me ouvindo e respondendo "aham, sei, tá bom". Sinais claros de quem não está afim de conversa.

Então eu me calei, durante todo o caminho até nosso prédio. Ele saí primeiro do carro, abre a porta pra mim, entrelaça a mão na minha, tudo isso em silêncio. Um silêncio que não acontece a muito tempo entre nós. Esse silêncio é desconfortável. Me deixa inquieta. Nervosa.

– Você tem certeza que está bem? — pergunto, mais uma vez. – Quer conversar? A reunião foi ruim?

Raphael me olha, prende os lábios e solta um suspiro.

– Está sim, eu só estou... Um pouco cansado. — sorri com os lábios.

Ele está mentindo. Sei que está mentindo. Não conseguiu olhar no meu olho quando respondia.

E.. poxa, eu quero ajudar. Só quero saber o que aconteceu lá dentro que eu não vi.

– Tudo bem, se você não quer falar, vou te respeitar. — mordo a parte interna da bochecha. Me sinto mal por parecer cuidadosa demais, talvez ele me ache chata, e que só queira um tempo pra pensar.

Ao chegarmos na minha casa, ele não faz o que tem costume. Não tira a camisa. Não me ajuda a tirar os saltos. Não me oferece um banho quente ou um vinho. Ele só... Senta, no sofá, com às mãos sobre a cabeça.

Me sento ao lado dele, tentando desvendar as expressões no seu rosto tenso. As mãos sobre a cabeça denunciam uma angústia difícil de expressar. A casa, normalmente cheia de calor e risadas, agora guarda um silêncio pesado. Respirando fundo, tento encontrar as palavras certas para aliviar o peso que ele carrega.

– Raphael, eu só quero entender. O que rolou lá dentro? Se algo está te machucando, deixa eu ajudar.

O olhar dele encontra o meu, e por um instante, sinto que ele não sabe muito bem o que dizer ou como me dizer. A boca abre e fecha algumas vezes, os dentes rangem um no outro, e a respiração parece contida e pesada no peito.

– É só que... — fico observando cada movimento dele. O jeito que ele tira as mãos da cabeça e as junta no colo, o jeito que ele encara o chão, completamente perdido. – O Paulistão já vai começar né!? Nossa rotina vai ficar diferente, difícil... Vamos ficar muito tempo longe um do outro. — me encara ao terminar de falar.

– Mas amor, é assim mesmo... Não dá pra gente ficar juntos o tempo todo. — coloco minha mão sobre às dele.

– Amor... — solta uma risada pelo nariz. – Você me chamou de amor. De novo. — os olhos meio marejados entregam uma emoção que eu não esperava ver de Raphael nesse momento.

Ele parece estar na beira de um abismo emocional. Não é o momento para esconder sentimentos. Nossas trocas de olhares falam mais que palavras, porém ainda sim, sinto que ele anseia por uma confirmação.

– Por que a surpresa? Você não é meu amor? — ele me olha, bastante surpreso, talvez confuso, e agora seus olhos se enchem de lágrimas de verdade. – Eu amo você, Raphael Veiga.

Meu Deus.

Que alívio. Que sensação de tirar um peso enorme das costas.

A troca de olhares entre nós dois se intensifica, como se estivéssemos nos conectando de uma maneira mais profunda. É incrível perceber como a simples expressão de um sentimento pode transformar toda a atmosfera ao nosso redor.

𝐏𝐈𝐋𝐀𝐍𝐓𝐑𝐀 - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora