033. TERAPIA.

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Raphael Veiga

Fico feliz que você tenha se resolvido com a Lorena. — Lara fala enquanto me entrega a última mala pra colocar no carro. – Mas isso não significa que eu vou passar pano pro o que você fez.

– Já vai me dá sermão uma hora dessa? — aperto a chave pro porta malas fechar. – Eu já pedi desculpas pra ela.

– Mas se você fizer de novo, as desculpas não vão valer nada.

– Você não confia em mim? — bufo.

– Como ficante, não. — ela sorri.

Às vezes, parece que as pessoas pegam uns recortes da minha vida e fazem um drama de novela mexicana. Mas, olha, a verdade é que tô tentando entender meus sentimentos, sem querer magoar ninguém no processo. A vida não vem com manual, e a galera esquece que eu tô meio perdido nesse enredo também. Então, se pintar umas críticas, que sejam por entenderem a confusão, não por acharem que sou o vilão da história.

– Que tal buscar uma ajuda psicológica? — Lara sugere apoiando os braços na porta do meu carro.

– Por que? Eu não sou maluco. — dou risada.

– Psicólogo não é só pra maluco Veiga. — revira os olhos. – A terapia vai te ajudar a entender mais seus sentimentos.

– Não sei, Lara. Ir a um psicólogo parece um pouco demais, não acha? — hesito enquanto seguro o volante.

– Veiga, todos nós precisamos de ajuda em algum momento. Não é sinal de fraqueza, é cuidar de si mesmo. — ela responde com seriedade.

– Mas, e se descobrirem que tenho problemas sérios? — expresso minha preocupação.

– A terapia é confidencial, Veiga. Você decide o que compartilha. Pode ser libertador abrir-se para alguém neutro. — Lara explica.

Um silêncio constrangedor paira entre nós, e eu olho para as luzes distantes da cidade tentando organizar meus pensamentos. A sugestão da Lara fica no ar como uma possível saída, mas a idéia de me abrir para um desconhecido me deixa desconfortável.

— Cara, sei lá. Falar com um psicólogo parece meio fora da casinha, né? — solto um suspiro enquanto mantenho meus olhos nela.

Lara ri, como se minha reação fosse previsível demais.

— Veiga, nem todo mundo que vai ao psicólogo é doido. Às vezes, é só questão de botar pra fora o que tá bagunçado aqui dentro. — ela aponta para a cabeça. — Não custa nada tentar, mano. Pode ser mais de boa do que você pensa.

Impressionante como Lara consegue entrar na mente da gente. Isso explica muito porque Richard e Piquerez são dois pau mandados.

– Tá bom Lara, você me convenceu, ano que vem vou procurar um psicólogo.

– Se você quiser, eu mesma procuro uma pra você. — responde com uma certa empolgação.

– Não, obrigado. — sorrio com os olhos. – Deixa que pelo menos isso eu faço.

– Então tá. — dá de ombros. – Agora vai, até mais tarde.

– Até, não esquece de buscar Lorena não. — ligo o carro.

– Relaxa, não vou esquecer da sua mulher. — faz careta.

Minha risada ecoa no carro enquanto dou partida.

Fiquei tão aliviado quando Lorena aceitou o convite pra passar o ano novo comigo. Já que Helena viajou pra passar com os amigos da faculdade, eu não queria que ela ficasse sozinha, ou fosse com Helena e se sentisse deslocada.

𝐏𝐈𝐋𝐀𝐍𝐓𝐑𝐀 - 𝐑𝐀𝐏𝐇𝐀𝐄𝐋 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀.Onde histórias criam vida. Descubra agora