CAPÍTULO 18

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Segunda-feira, 06 de abril. O dia está chuvoso. Fico feliz, pois hoje verei meu cavaleiro! Levanto da cama e vou para cozinha tomar café. Encontro mamãe lavando a louça.
-Bom dia, mãe.
-Bom dia, dormiu bem?
-Muito bem. Mãe, será que eu poderia ir a uma festa neste sábado?
-Festa? Onde? Que horas?
-Ainda não sei mãe. Será aniversário da sobrinha do Wagner e ele gostaria que eu fosse. É festa de criança mãe, acho que será durante o dia. Algum problema se eu for?
-Vou convencer seu pai, fique tranquila. Eu levo você.
-Obrigada, mãe. Fico te devendo uma. - ela sorri.
-É, então está ficando sério mesmo, você já tá sendo apresentada para a família dele. Vá com calma, vocês são jovens ainda.
-Eu sei mãe. Fica tranquila, você pode confiar em mim.
-Eu sei que posso. Mas se continuar ficando sério, acho que ele deve ter uma conversa com seu pai.
-Ai mãe, não me lembre disso.
Ela sorri.
A noite chega, a chuva deu uma trégua, é hora de ir para o colégio. Tento ficar o mais bonita possível. Ele nos encontra na porta da escola. Olho para ele e divago em pensamento: "acho que ele não tem medo do perigo". Meu pai lança um olhar fuzilante e me sinto uma criança novamente. Wagner tenta me abraçar, mas pego a sua mão. Olho para o meu pai, entro rápido colégio adentro, quero apenas fugir desse olhar.
Quando entramos, a primeira coisa que faço é lhe perguntar:
-Tá achando que é gato? Você não tem sete vidas!
Ele sorri e responde:
-Não adianta temer, pois é inevitável e, em algum momento, teremos que expor ao seu pai o nosso namoro.
-Sim, eu sei, mas por enquanto vamos evitar, está bem?
-Tudo bem, mas mesmo que ele não me aprove eu não quero e não vou abrir mão de você, certo?
-Fico pensando se papai vai aprovar nosso relacionamento quando se tornar oficial. Wagner é meigo comigo, mas tem um gênio forte e seria bem capaz de enfrentar o meu pai e isso seria um desastre. Se bem conheço meu pai, ele não vai querer ninguém que possa enfrentá-lo.
-Não estou dizendo para abrir mão, só para ter cautela.
-Está bem. - ele diz - Estava com saudades! - nos beijamos.
-Não mais que eu! - Outro beijo, agora mais intenso.
-Falei com minha mãe. Vou a sua festa no sábado.
-Sério? Que bom! Você me faz muito feliz.
-É bom saber! - sorrio - O que eu devo vestir?
-Por mim poderia estar só de toalha. - ele sorri.
-Ah é? Acho que vou assustar a todos. - retribuo o sorriso.
-Assustar? - risos - Acho que você colocaria alguns casamentos à prova. Você é linda!
-Sem graça! - digo.
Ele me abraça.
O sinal toca e seguimos para a minha sala. Antes de me deixar, ele me abraça bem na porta, me dá um beijo, como se estivesse dizendo "você é minha", e lança um olhar para o fundo da sala. Ele me entrega um envelope, dessa vez é bem pequeno e vermelho. Vejo a sua caligrafia.
Retribuo o beijo, em seguida ele me solta e vou me sentar.
Abro o envelope, encontro um lindo cartão. De um lado tem o personagem do Garfield e do outro a sua namorada. Em frente a ele está escrito, "Você está aí, eu estou aqui!". Quando viro o cartão na parte de trás está escrito "Um de nós dois está no lugar errado! Eu te amo". Eu dou um sorriso. Tão romântico o meu cavaleiro, penso.
A professora de Física entra e começa a passar a matéria na lousa. Dou um cutucão no meu amigo urso. Ele se vira com um olhar triste, dou-lhe um sorriso.
-Você está bem? Pergunto - Boa noite pra você também! Digo em tom de ironia.
-Não tão bem quanto você parece estar. - ele diz.
-O que foi? Fiz alguma coisa?
-Não. Você não fez nada.
-Então, por que está me tratando assim?
-Bobagem, vem aqui me dá um abraço e o meu beijo. - ele sorri.
Levanto e dou um abraço apertado, beijo o seu rosto. Acho que hoje é ele quem precisa ser abraçado. O professor nos olha e manda a gente sentar. Sorrimos e nos sentamos. Logo um bilhete voa para a minha mesa.

Ann, as coisas estão sérias entre você e aquele cara? Thiago

Viro o bilhete e respondo:

Não sei dizer, acho que sim. Eu vou conhecer a família dele no sábado. Ann

O bilhete não voltou e ele ficou quieto o resto da aula. O sinal toca, vou levantando para sair, mas ele me segura pela mão.
-O que foi? Você tá bem?
-Na verdade não. Mas não quero te aborrecer.
-Posso te perguntar algo?
-Claro, o que quiser.
-Você gosta dele? Quero dizer, gosta de verdade?
-Acho que sim!
-Acha?
-Não sei, ele me faz feliz. Nunca ninguém me olhou desse jeito.
-Vocês estão namorando?
-Mais ou menos. Acho que será oficial quando ele conversar com o meu pai. --Mas acho que para ele estamos namorando.
-E quando será isso?
-Talvez no meu aniversário, daqui uns dias. Mas estou tentando evitar o confronto.
-Então você não tem certeza se quer que ele fale com seu pai?
-Na verdade não é bem falta de certeza. Tenho medo da reação do meu pai. Eu sou a única menina em casa. Então... Aliás você está convidado para a minha festa.
-Estou?
-Claro, você é meu amigo. Adoraria que você fosse, afinal, não é todo dia que se faz 15 anos.
-Amigo? Acho que não poderei ir.
-Por que não?
-Compromisso.
-Mas eu ainda nem disse a data, como pode saber se vai estar comprometido nesse dia.
-Intuição.
-Sem graça! Será daqui a duas semanas.
-Vou ver o que posso fazer. Você lembra que neste sábado a gente marcou de fazer o trabalho de história na sua casa?
-Caramba!!! Eu me esqueci. E agora? Eu marquei de ir à festa com ele.
-Quer desmarcar? Ficaremos sem tempo de entregar o trabalho.
-Não! Eu vou ver que horas é a festa e vejo se a gente consegue fazer o trabalho antes ou depois dela, está bem?
-Por mim, tudo bem.
-Pode deixar. Tenho que ir. Volto daqui a pouco.
Dou um sorriso, ele solta a minha mão, muito a contragosto. Corro para fora e encontro Wagner quase entrando na sala. Penso comigo: "ainda bem que ele não nos viu, chega de ceninhas de ciúmes".
-Por que demorou?
-Estava resolvendo uma coisa.
-Resolvendo o que? Com quem?
-Sabe, esqueci algo importante. Para este sábado já havia marcado um trabalho lá em casa. Esqueci completamente.
-Não vai à festa comigo, então?
-Vou, é claro, mas gostaria de saber o horário, pois tenho que voltar a tempo para fazer o trabalho.
-Será cedo, festa de criança, deve começar lá pelas 9h da manhã e ir até a hora do almoço. Será que eu posso te ajudar no trabalho?
-É em dupla. Não precisa.
-Em dupla?
-Sim!
-E posso saber quem formará a dupla com você?
-Você sabe. Meu amigo "urso" - digo bem baixinho para ver se ele não fica bravo.
Seu olhar me fuzila, seu rosto muda de expressão. Da alegria anterior para uma fúria intensa.
-Quem? Acho que não entendi direito, você pode repetir, por favor?
-Pare com isso. É apenas um trabalho. E será na minha casa, não tem perigo.
-Não gosto nada disso.
-Eu preciso fazer o trabalho.
-E não pode escolher outra pessoa?
-Não. Ele é meu amigo, eu gosto dele.
-Mas eu não! E não acho que ele queira ser só seu amigo.
-Para de bobeira, você vai ficar aí brigando comigo ou vai me dar um beijo?
-Sua expressão relaxa um pouco, mas não muito.
-Ele sabe que estamos namorando?
-Digamos que eu lhe informei das suas pretensões.
sorri.
-Pretensões? Eu não tenho pretensões. Você é minha namorada! Alguma dúvida em relação a isso?
-Não oficialmente ainda. - dou-lhe um sorriso, mas ele parece ter ficado muito bravo.
-Então, você acha que só porque ainda não falei com seu pai, nosso namoro não tem valor?
-Não, não é isso.
-Então, é o que? Se quiser, falo com ele hoje ainda.
-Não! Por favor. Eu só disse que estamos juntos, mas que você ainda não falou com meu pai. Mas ele sabe que estamos juntos.
-É bom que ele saiba mesmo, ele é grande, mas não são dois!
Dou uma risada, pois me lembrei do sonho em que Dom Quixote lutava com o moinho.
-Fique tranquilo, irei com você à festa e volto depois do almoço para fazer o meu trabalho, não se preocupe.
-Posso te ajudar. Eu posso ficar lá com vocês e, certamente, serei muito útil.
-Não precisa. E pare de ciúmes. Faremos o trabalho apenas nós dois, você não confia em mim?
-Em você eu confio, mas não confio nele.
Dou um sorriso, enrosco meus braços no seu pescoço, ficamos ali nos beijando até que o sinal toca novamente.
-Adorei o cartão!
Ele apenas sorri. Volto para a sala de aula e Thiago parece me esperar.
-Tudo resolvido para sábado? - ele pergunta, com um meio sorriso.
-Tudo certo. Encontramo-nos sábado, as 13h00, na minha casa, pode ser?
-Então, vai à festa?
-Tenho que ir. Mas fique tranquilo, pois, vai dar tempo de fazer o trabalho.
-Não é com o trabalho que estou preocupado.
-Então, com o quê?
-Deixa pra lá! Vamos assistir à aula. - ele vira para frente, enquanto eu pego os meus livros.

A Deusa do Mago - Uma história de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora