O ÚLTIMO CAPÍTULO DE UMA HISTÓRIA SEM FIM - CARTA DO MAGO

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Assim que Ann decretou o fim do nosso relacionamento, atravessei a rua e fiquei parado, olhando fixamente para o portão. Vi quando entrou em sua casa e, por algum tempo, fiquei apenas observando e torcendo para que a minha Deusa percebesse que o nosso amor era lindo demais para ter um fim e resolvesse voltar atrás, mas isso jamais aconteceu. Com o passar do tempo, a esperança foi se transformando em tristeza e não houve outra coisa a fazer, além de ir embora. Com lágrimas percorrendo o meu rosto, lentamente fui me afastando, mesmo não querendo acreditar no que estava acontecendo.
Muitos dias se passaram e, depois de várias tentativas frustradas, finalmente consegui falar com a minha Deusa ao telefone. Sua voz já não possuía mais a mesma doçura e a minha voz também já não lhe causava mais alegria. Diante de tamanha frieza e sem saber o que dizer para que tudo pudesse ser retomado, e o sofrimento encerrado, consegui apenas concatenar algumas poucas palavras para fazer-lhe o seguinte questionamento:
-"Você está melhor sem mim, minha Deusa?"
Sem pensar, sequer, por meio segundo, ela foi categórica e enfática ao afirmar que sim, estava muito melhor sem a minha presença em sua vida. Emudeci e fiquei completamente apático com a sua resposta. Precisei de alguns segundos para voltar a falar, foi quando "profetizei" que nos veríamos apenas mais três vezes e depois eu disse "adeus".
Desliguei o telefone e passei dias repensando em tudo que vivemos, tudo que sentimos e, depois de muito analisar, duas certezas conflitantes passaram a coexistir em minha mente: A primeira certeza era de que a minha Deusa não havia sido sincera ao dizer que estava melhor sem mim, pois eu conhecia muito bem o seu jeito de falar.
A segunda era que ela precisava me esquecer para ser feliz...
Diante deste paradoxo, alguns dias depois, decidi que precisava dar-lhe um presente e era algo que somente eu poderia fazer...
Respirei fundo e telefonei para a minha Deusa:
-Olá, Ann! Como você está?
-Estou bem e você? - dessa vez seu tom é ameno.
-Estou ótimo! - respondi, enfatizando alegria.
-Que bom! Sempre quis ver você feliz... Algum motivo especial para tamanha felicidade?
-Nada de mais, Ann... As coisas no trabalho estão indo bem, tenho feito bons negócios, tudo está em paz e tenho me sentido verdadeiramente feliz!
Interpretei o papel do homem feliz como um perfeito ator, mas com imensa dor no coração, pois o que estava fazendo era algo análogo ao suicídio da minha própria alma.
Então, a minha Deusa chorou ao "saber" que eu estava feliz.
Não sei o que aconteceu depois, mas pude crer que, se não houvesse o sentimento de culpa pela minha tristeza, não existindo mais os conflitos familiares e por imaginar que eu estivesse feliz, minha Deusa poderia seguir em paz o seu caminho de conquistas e felicidade.
Quanto a mim, fiquei sozinho por dois longos anos, me ressentindo todos os dias do fato de ter perdido a minha Deusa. Até que um dia decidi que já estava na hora de amar novamente, então, resolvi me dar uma nova oportunidade e, finalmente, sair do enclausuramento.
Conheci uma pessoa e começamos a conversar. Iniciamos uma amizade com a intensão de logo namorar. Passamos dias e noites conversando, nos conhecendo e, quando tudo se encaminhava para um beijo, ela me perguntou qual era o apelido carinhoso que eu usava para tratar a minha ex-namorada. Eu apenas disse: "Deusa".
Nesse momento ela se calou, refletiu um pouco e depois falou:
-Como pode alguém chamar outra pessoa dessa forma? Isso é uma loucura!
-Entendo sua indignação, mas nunca foi loucura. Sempre foi amor!
Por mais que eu tenha tentado ser delicado em relação ao meu tom de voz, o peso dessa resposta foi o suficiente para que nada mais acontecesse entre nós.
Depois disso, decidi que não procuraria mais por um amor e entendi que o amor que senti pela minha Deusa é único, sem semelhança com nenhuma outra forma de amar que eu pudesse vivenciar novamente.
As pessoas que entraram e saíram da minha vida após esse entendimento, foram e ainda são grandes parceiras de jornada, em que a troca é constante, deixando um pouco de si e levando um pouco de mim. Esses amores foram cuidadosamente cultivados através do respeito, da admiração, do humor, do caráter, de uma verdadeira soma de fatores.
Assim, me casei, separei, namorei, terminei, casei-me novamente. Vivo bem, pois tenho uma grande parceira de jornada e pretendemos trilhar lado a lado pelo resto de nossos dias.
Mas, acredito que existam duas grandes questões a serem respondidas para maior entendimento dos leitores:
1ª) O que faz dela uma Deusa?
Essa resposta, para mim, é muito fácil...
O simples fato de existir foi o suficiente para que eu a visse dessa forma, assim que olhei em seus olhos pela primeira vez!
2ª) O que faz de mim um Mago?
Nada! Em um mundo de amores descartáveis, talvez a magia consista apenas em amar tanto e de tal maneira, com tamanha intensidade, que seja impossível mensurar... Amar alguém muito mais do que a si próprio. E, talvez, condenar-se a viver tão somente esperando pelo dia em que a eternidade traga de volta o que a vida terrena tirou.
Se algum dia você, leitor, for capaz de amar dessa mesma maneira, então, conhecerá os segredos da magia que circunda e permeia os caminhos da alegria, da tristeza, da felicidade, da solidão, do desespero e do amor, todos esses sentimentos, onde, sem dúvida alguma, o mais precioso é o amor.

A Deusa do Mago - Uma história de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora