A Deusa do Mago - Uma história de Amor

CAPÍTULO 42 - AS REAÇÕES

Wagner queria muito sair para comemorar o dia, mas hoje tenho prova e não vai dar. Logo que ele vai embora, entro para tentar estudar um pouco, antes que o professor chegue à sala.
Estou me sentindo estranha com essa aliança no dedo, mas como nunca usei uma, vai ver que é assim mesmo. Quando conheci Wagner, éramos muito novos para um compromisso mais sério e, depois dele, meus namoros sempre foram rápidos.
Não aguentava mais algumas coisas depois do que tinha sofrido com Wagner, então, qualquer coisa era motivo para terminar qualquer relacionamento. Se pegasse meu namorado olhando para outra ou, se ligasse e ele tivesse saído com alguém, pronto, era o fim!
Acho que, depois de Wagner, o único relacionamento mais sério que tive mesmo foi com Gabriel, e poderia ter dado certo se as circunstâncias fossem outras. Talvez, se já tivéssemos terminado a faculdade, seus pais não me vissem como uma ameaça ao seu futuro.
Mas isso são apenas suposições e suposições não nos levam a lugar nenhum.
Quando entro na sala, Gabriel está sentado, estudando. Ele realmente é muito inteligente, isso não posso negar. "E lindo também!" - diz minha Deusa interior. Passo por ele e seu olhar vem em minha direção. Faz tempo que ele não me olha, então, acho que deve ser por causa do buquê. Sigo seus olhos, mas eles estão em minhas mãos, mais precisamente em meu dedo. Ele olha fixamente para a minha aliança.
Sigo até o meu lugar. O professor entra na sala. Ele é um carrasco e estou morrendo de medo de ficar de DP. Ele distribui as provas. Dou uma olhada e acho que vou me dar mal. Vou levar a aula toda para responder e é capaz de não dar tempo.
Percebo que Gabriel está inquieto, mas não posso ficar pensando nele, preciso me concentrar. "Mantenha o foco" - minha Deusa diz.
Tento. Faz meia hora que a prova começou e ainda estou na segunda questão. Droga! Se, pelo menos, tivesse mais tempo para estudar...
De repente, um barulho de cadeira arrastando. Levanto a cabeça para ver de onde vem, acreditando ser impossível que algum CDF tenha acabado tão rápido. Por que sou tão burra?
Quando vejo, Gabriel já está em pé. Entrega a prova, me dá um olhar e sai.
Tudo bem, ele é muito inteligente, mas nem "Einstein" resolveria essa prova tão rápido. Olho para o professor, que está com sua prova nas mãos. Seu olhar não é dos melhores. Ele balança a cabeça em sinal de negativo. Acho que Gabriel foi mal na prova. Mas, por quê? Ele é sempre um dos primeiros da sala! Não posso pensar nisso agora. Se eu for mal também, terei que fazer DP aos sábados e esses são os meus únicos dias livres com Wagner ultimamente.
Tento me concentrar, mas acho que a DP será inevitável. O tempo termina e não consegui chegar ao fim da prova.
Sábados perdidos, a DP me espera. Entrego a minha prova.
Chego ao carro e papai me olha. Caramba! Esquecime de tirar a aliança! Estava tão preocupada com a prova...
-O que é isso?
-Isso o que? - digo, fingindo não entender.
-Isso no seu dedo?
-Um anel, não conhece? - dou um sorriso.
-No meu tempo isso era uma aliança. - ele fala sério! - Você não acha que está na hora de falarmos a respeito?
-Não quero chateá-lo com isso.
-Uma hora vai ter que fazer e prefiro não ser o último a saber das coisas.
-Tudo bem papai. Desculpe-me!
-Não disse antes porque pensei que não ficaria tão sério.
-Sério?
-Não assim, Séeeeriiiioooo. Mas, mais sério do que pensei que seria.
-Menos mal.
-Pode me dizer quem é, então?
-Wagner e eu voltamos a namorar.
-Você e quem?
-Wagner.
-Que Wagner?
-A papai, não torne as coisas mais difíceis. Você sabe muito bem a quem me refiro.
-Aquele Wagner?
-Ele mesmo.
-Como assim? De onde ele surgiu? Por quê? E depois de tudo que você sofreu, achei que nunca mais você iria querer ver a cara dele novamente. E também não gosto dele.
-Calma, papai! Ele não é tão mal quanto você pensa. E nós conversamos e nos entendemos. Tudo não passou de um grande mal entendido. Nós éramos crianças.
-Vou ter que ter outra conversa com ele.
-Não papai, nada de conversas. Já sou bem crescidinha e você não precisa ficar lembrando as pessoas sobre a minha virtude.
-Ele te disse isso?
-Desculpe-me, mas ele foi o único que precisou passar por isso, papai. E acredito que ele não tenha esquecido nenhuma das suas recomendações. -Não sei por que você não gosta dele. Quando estava com Gabriel você até apoiava.
-Gabriel é um bom garoto, ele me lembra o Thiago.
-Aliás, não sei por que você e o Thiago nunca namoraram.
-Ele é gay, pai.
-Ele é gay? Ele nunca me pareceu gay.
-Pois é pai, pra você ver como você também se engana. Vai, dá uma chance! -Eu estou feliz!
-Não vou dizer que aprovo. Eu não sou cínico. Mas a decisão é sua. Se algo der errado não sou eu quem vai dormir com ele o resto da vida.
-Nada vai dar errado papai, você me criou muito bem. Sei me cuidar.
-Assim espero, para o bem dele.
-Já ouvi isso antes e faz muito tempo.
Ficamos em silêncio o resto da noite.
Mais tarde, quando vou para o meu quarto, ouço os meus pais discutirem a portas fechadas. Meu pai está bravo, e ficou ainda mais bravo quando descobriu que a minha mãe já sabia a respeito de Wagner. Ele queria saber por que ela não havia contado. Pude ouvi-la dizer que eu já estava bem grandinha e que já podia tomar as minhas próprias decisões. Depois de um tempo eles ficaram em silêncio. Acho que no fim de tudo, vai ficar tudo bem.
Pouco antes de dormir, mando uma mensagem de texto para Wagner e depois desligo meu celular, não preciso de uma conversa de uma hora nesse momento. Não posso perder outra noite de sono e ir mal na prova de amanhã também.

"Querido Sr. W, essa aliança deu o que falar hoje. Meu pai já sabe sobre nós. Amanhã conversamos, vou desligar o celular. Preciso dormir. Fui muito mal na prova de hoje e não posso repetir o resultado na prova de amanhã. Acho que vamos perder uns sábados juntos. Vou ficar de DP. Boa noite! Sua Deusa"

Ligo meu celular assim que acordo. Logo uma mensagem de texto de Wagner chega. É de ontem à noite: "Deusa, me liga assim que acordar. Sempre seu Wagner"

Ligo para ele antes de ir para o banheiro. São 5h20, acho que vou derrubá-lo da cama.
O celular toca uma, duas, três vezes. Penso em desligar e tentar mais tarde. Uma voz sonolenta atende do outro lado da linha.
-Acorde, belo adormecido! - digo rindo.
-Você acorda com as galinhas! - ele diz.
-Isso é verdade. Bom dia! - digo
-Bom dia, Deusa! Como foi a conversa com seu pai, ontem?
-Bem, não foi a conversa mais amistosa que poderíamos ter, mas acho que, entre mortos e feridos, salvaram-se todos! - dou um sorrisinho.
-Que bom! Então, ele aceitou numa boa?
-Não exatamente numa boa, ele ainda tem certas restrições em relação a você, mas aceitou a minha decisão. Ele queria ter outra conversa com você! - sorrio novamente.
-De novo? Jura? Tudo bem, um dia cavaleiro, sempre cavaleiro! - ele diz.
-Não vai ter conversa alguma, não sobre isso, pelo menos. Acho que já estou bem crescidinha e, quando um não quer, dois não brigam. Ele tem que entender que agora qualquer coisa que faça será sempre consensual.
-Consensual?
-Claro! Ou você acha que sou tão ingênua assim que você pode me convencer a fazer algo que eu não queira?
-Não, não acho!
-Então, pronto! Não precisamos falar sobre a minha virtude com mais ninguém, já estou bem crescidinha para saber cuidar dela sozinha!
-Sim, senhorita! - ele ri.
-Bem, agora preciso tomar banho, senão vou perder a hora.
-Está bem. Só mais uma coisa.
-O quê?
-Você foi muito mal na prova de ontem?
-Sim, e acho que ficaremos alguns sábados sem nos ver.
-Isso não é bom.
-Depois resolvemos isso, deixa sair o resultado da prova. Vou te fazer um pedido, mas não fica bravo, está bem?
-Claro!
-Será que você poderia não ir me ver hoje?
-Você não quer que vá te ver? Por quê?
-Não é que não queira ver você. Eu adoraria, na verdade. Mas se eu for mal em outra prova, não sei se darei conta de fazer duas DPs. Quando estou com você, não consigo me concentrar e preciso estudar.
-Tudo bem, eu entendo. Vou aproveitar e resolver as coisas da minha formatura. Você vai ser minha madrinha não vai?
-Vou, é claro. Até lá a gente vê isso também.
-Tudo bem, vai tomar seu banho.
-Está, fica com Deus!
-Você também. - ele diz - Deusa?
-O que?
-Queria ser a sua esponja! - ele diz em tom bem malicioso.
Dou uma risadinha e desligo o telefone. Já estou quase me atrasando.