CAPÍTULO 24 - O PEDIDO DE DESCULPAS

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Não tenho notícias de Wagner durante todo o dia, acho que realmente é o fim. Mas fim do que, se mal começamos?
Vou para o colégio, mas não tenho vontade de vê-lo. Sei que ele estará lá, me esperando. Tento fazer outro caminho para a sala, mas é inútil. Ele está lá, parado na porta.
Então, olho-o, como se meu cavaleiro realmente tivesse virado sapo. Sinto-me como a Cinderela que, quando descobre seu amor, tem que sair correndo, deixando o sapatinho, mas no meu caso, ela, a "amiga", o achou e roubou de mim o meu príncipe.
Ele me olha, se aproxima e tenta me dar um beijo. Desvio o rosto e seus lábios tocam-me entre minha bochecha e minha orelha. Ele me olha, com olhar de súplica.
-Podemos conversar? - ele diz.
-Você acha que temos alguma coisa para falar?
-Eu gostaria de me explicar. Se depois disso você não me quiser mais, juro que te deixarei em paz.
-Tudo bem, vou deixar meu material na sala e já volto.
Entro na sala, enquanto ele me espera na porta. Thiago está no seu lugar, quando me vê ele abre um sorriso, me dá um abraço e um beijo rápido. Ele olha para a porta com olhar de reprovação, mas não diz nada.
-Você dormiu bem?
-Dormi sim, obrigada! Vou até lá conversar com ele, ver o que ele tem a me dizer.
-Não deixe ele te enrolar, está bem? Você é muito especial para alguém te fazer sofrer.
-Pode deixar. Se não entrar para a aula, não fique bravo, no final eu volto para pegar meu material.
-Você vai cabular aula?
-Não sei o quanto pode demorar essa conversa.
-Se ele te fizer chorar de novo, vamos ter um problema.
-Ele não pode me magoar mais do que já fez.
-Mesmo assim teremos um problema.
-Pode deixar, meu salvador. - dou uma risadinha e ele sorri de volta, então eu deixo meu material e saio da sala.
Quando chego à porta, Wagner está me olhando torto, mas não diz nada. Ele pega minha mão e me leva até a quadra. A quadra é bem grande, pensei, nunca vim até aqui. As luzes estão apagadas, mas vejo a arquibancada, na verdade é um grande escadão de concreto.
Aqui ninguém vai nos ver e poderemos conversar melhor - ele diz. Enquanto caminhamos, fico pensando: "se fosse outro dia, certamente estaríamos andando abraçados e eu estaria sentindo o calor do seu corpo. Agora estamos aqui caminhando de mãos dadas como meros amigos."
Chegamos à arquibancada e ele pede para que eu me sente. Assim faço e ele inicia:
-Deusa, sei que nada pode justificar o que eu fiz. Agi como um perfeito idiota. -Deixei-me levar pelo meu ciúme, estava com muita raiva.
-Você estava com raiva de mim? - interrompo-o - Não de você! Estava com raiva pela situação. Imagine só: tenho que deixar a mulher que amo ir embora, em pleno sábado, enquanto ela poderia estar comigo. Isso ocorreu logo após eu declarar para ela que faço o que for preciso, que ela é o meu mundo, meu universo. Então, tenho que permitir que tudo isso aconteça, para que ela vá encontrar outro homem. Como se não bastasse, tenho absoluta certeza de que esse "outro homem" quer, simplesmente, tomá-la de mim. -Consegue imaginar tudo isso? - ele faz uma pausa e depois fica em silêncio, esperando por minha reação.
-Você sabia que eu tinha um trabalho a fazer, não menti para você. Poderia, mas não menti.
-Eu sei, mas quero que você entenda que eu já tinha aceitado o fato de que ele passaria a tarde com você, mas quando você disse que ele dormiria na mesma casa que você, que seu pai o havia convidado, a ira tomou conta de mim. Eu fiquei desnorteado. E o pior de tudo foi saber que você concordou com tudo isso.
-Eu não concordei, meu pai o convidou e ele aceitou, o que eu poderia dizer?
-Não sei, mas penso que talvez esse fosse o momento ideal para você dizer ao seu pai que você tem um namorado e que esse convite não era uma boa ideia.
-Para o meu pai, você sabe, só quando vocês conversarem é que ele vai achar que eu tenho um namorado, enquanto isso ele ignora qualquer coisa a esse respeito.
-Por isso mesmo! Já quis conversar com ele, mas você não deixou. O que quer que eu pense? Minha namorada não me apresenta para o pai dela, mas o apresenta àquele indivíduo.
-É óbvio que os apresentei. Meu amigo vem à minha casa fazer um trabalho comigo, meu pai entra e você acha que eu não os apresentaria? E essa apresentação não poderia ser de outra forma, que não representasse aquilo que realmente existe: Nós somos amigos e foi assim que o apresentei para o meu pai. Como um amigo.
-Então, por que ele tinha que dormir lá?
Eu sabia a resposta, meu pai queria me afastar de Wagner e achou em Thiago uma excelente oportunidade para isso. Mas prefiro me calar, não quero piorar as coisas. Sei que eu não gostaria de estar no lugar de Wagner, sei que com ele as coisas são diferentes e meu pai jamais dará a liberdade para que Wagner durma em nossa casa.
-Eu não sei. Acho que meu pai gostou dele. Eles ficaram amigos.
Sua expressão fica ainda pior.
-Então, seu pai e aquele indivíduo são amigos agora?
-Acho que sim!
-Então, posso também supor que seu pai deve acreditar que você não tem mesmo um namorado?
-Será que tenho? Nem sei mais.
-Por que diz isso?
-Por quê? Você ainda me pergunta por quê? Você quer saber o meu lado da história, então?
-Claro!
-Ótimo! Imagine, então: ligo para o meu namorado, sem saber bem como vou dizer tudo o que tenho que dizer. Imaginei que você não ficaria nada feliz com a ideia de ele dormir lá em casa. Mas aí você briga comigo e desliga o telefone. Depois de horas ligando pra você e, depois de inúmeros recados, você atende ao telefone, completamente bêbado e quer saber o que foi pior? - nesse momento não consigo conter as lágrimas, que já percorrem meu rosto - O pior foi ouvir a voz dela! Como ela se chama mesmo?
-Quem?
-A bruxa má?
-Bruxa? - ele sorri, mas seu sorriso logo desaparece quando ele vê que estou aos prantos.
Ele tenta me abraçar, mas não permito, não quero sua piedade. Então, ele para.
-O nome dela é Elizangela. - ele diz.
-É essa mesmo. Acho que bloqueei o nome dela na minha mente. É ela a tal "amiga", não é mesmo?
-Não vou mentir para você, ela e eu já tivemos um breve relacionamento, há tempos atrás. Mas há muito que acabou e hoje somos realmente amigos.
Amigos? Você briga comigo e vai afogar as mágoas com uma ex-namorada, que hoje você acha que é sua "amiga", fica bêbado com ela e, sabe lá Deus, o que mais vocês fizeram.
-Para! Não fizemos nada, não poderia, pois amo você. Apenas estava triste e não dava para ficar em casa, pensando que você estava toda feliz na sua casa, com aquele indivíduo. Saí para espairecer e, quando passei em frente ao bar, ela estava lá. Ela me conhece bem e percebeu que eu não estava nada bem. Ofereceu-me uma cerveja, começamos a conversar, a mágoa estava doendo demais e, quando dei por mim, já havia bebido algumas. Então, você ligou. Fiquei tão contente que você ligou, pois, queria conversar com você, mas estava bêbado e as palavras estavam desconexas na minha cabeça. Ela pegou o telefone para ver quem era e, quando ela tentou explicar, você já tinha desligado.
-Não quero ouvir isso!
-Liguei para você inúmeras vezes, queria muito te falar, mas você não atendeu. Deixei vários recados na sua caixa postal, você não ouviu?
Não todos. Estava com raiva e magoada.
-Eu disse que ela era só uma amiga e que te amava demais.
-Não sei se posso acreditar nisso.
-Não pode acreditar? Como assim, não pode acreditar? - ele se ajoelha à minha frente - O que você precisa para acreditar que eu amo você? O que eu preciso fazer?
-Você não precisa fazer nada.
-Então, acredite em mim, quando digo isso, pois é a verdade!
-Não posso. Não consigo.
-Me perdoe. Se quiser, grito para o mundo, para seus pais, para quem for. Eu -amo você, Ann.
-Preciso pensar, acho que preciso de um tempo.
-Tempo? Eu não quero tempo. Não vou te dar tempo algum. Você é minha e não vou abrir mão de você. Não vou
deixar você chorar as mágoas com aquele indivíduo. Não vou te jogar para os braços dele.
-Pelo menos ele não me faz chorar! - digo sem pensar.
Agora seu olhar flameja, mas não calor de amor. É de ódio.
-Sinto muito se te fiz chorar. - ele diz com um tom agressivo e com certa indignação - Realmente sinto muito! Não queria e não foi de propósito, mas espero que você entenda que também estou sofrendo com tudo isso. Meu domingo foi um verdadeiro inferno. Tive que me segurar para não ir até a sua casa. Quis ir lá e arrancar você dele, quis quebrar a cara dele, mas, se não fiz nada disso, foi por você, foi porque amo você!
-Entendo tudo o que passou, mas não acho que isso justifique ir atrás da sua ex-namorada. Primeiro: você nem deveria estar bebendo, pois, não sei se você se lembra, mas tem apenas 17 anos e nem deveriam vender bebidas a você.
-Eu sei, acho que esse foi o primeiro porre que eu tomei na vida. Não estou tentando justificar os meus erros. Sei que errei, admito. Mas gostaria que você entendesse que foi um erro, e já aprendi. Juro que nunca mais farei isso novamente. Gostaria muito que você acreditasse em mim, não aconteceu nada entre mim e ela. É você quem eu quero!
Ele tenta me abraçar novamente e, dessa vez, não me afasto. Ele me envolve em seus braços, sinto seu corpo esquentar o meu, pois estou realmente gelada e só agora percebo que o tempo está bem frio.
-Você está congelando! Vai ficar doente. - ele tira a blusa, coloca sobre mim e eu agradeço.
Volta a me abraçar, beija minha cabeça e sente o cheiro do meu cabelo. Ficamos ali, abraçados, em silêncio. Não sei se posso perdoá-lo, mas, nesse momento, esse é o único lugar no mundo em que quero estar.
-Eu senti sua falta! - digo.
-Você não sabe o quanto senti a sua! - e me beija.
Ouço tocar o sinal para o intervalo, mas, sequer me movo. Quero apenas ficar ali, sentindo o aconchego daquele momento. O sinal toca novamente e os alunos voltam para a aula, mas não quero voltar, então, continuamos ali.
Não conversamos muito, não há muito a dizer. Acho que é melhor deixar as coisas se resolverem por si só, ele errou, mas errei também. Então, estamos perdoados.
Toca o sinal do término da aula. Agora tenho que soltá-lo, pois preciso buscar meu material. Sei que vou encontrar Thiago me esperando. Sei que ele vai ficar magoado. Não sei se quero encará-lo, mas não tenho muitas opções.
Penso em pedir para que Wagner suba no meu lugar e pegue meu material, mas, pensando melhor, acho que seria realmente mais fácil adiar esse confronto. Ele sobe comigo até a sala. A maior parte dos alunos já saiu, mas Thiago está lá, sentado.
-Fique aqui - eu peço - Eu já volto!
-Tem certeza?
-Tenho sim, por favor!
-Tudo bem, não quero mais brigar.
-Obrigada!
Entro, sabendo que ele vai ficar me olhando da porta. Quando me aproximo, Thiago se levanta. Ele tenta me abraçar, mas peço para ele sentar-se.
-Oi!
-Oi! Você está bem? Fiquei preocupado! Achei que você voltava rápido, o que houve?
-Nada. Estou bem, nós só conversamos.
-E?
-E já nos resolvemos.
-Não acredito! Você o desculpou?
-Sim, eu também errei! A culpa não foi só dele.
-O que? Onde foi que você errou? Ele te convenceu que a culpa foi sua e não dele?
-Não, não foi assim. Mas eu entendo que não deve ter sido fácil para ele.
-Então, ele grita com você, sai com uma "amiga", se embebeda e agora volta como um lobo em pele de cordeiro e, simplesmente, você o perdoa e fica por isso mesmo? É isso?
-Não foi bem assim. Mas espero que você entenda, decidi que vou dar-lhe uma segunda chance. Só não quero que fique triste comigo, você é importante pra mim e eu amo você.
-Ama? Não. Você não me ama! Acho que sou conveniente, afinal, você pode ter um amigo que se preocupa com você, alguém que enxugue as suas lágrimas quando ele as faz cair.
-Não é isso! - digo - Agradeço muito o fato de você estar lá comigo, quando minhas lágrimas caíram. Mas nunca enganei você. Você sempre soube que tenho namorado.
-Namorado? Então, ele agora é seu namorado? Achei que ele só seria seu namorado quando tivesse o consentimento do seu pai. E, para sua informação, não acredito que ele esteja disposto a lhe dar esse consentimento.
-Como? Andou conversando com o meu pai sobre isso?
-Deixa para lá. Espero que ele te faça feliz, para o bem dele! - nesse momento, Thiago se levanta e sai da sala como um raio. Não tenho nem tempo de me despedir. Ele passa por Wagner e dá um esbarrão com o ombro nele. Os dois trocam um olhar fulminante, parecendo o início de uma briga, mas ele segue em frente e Wagner vem em minha direção.
-Está tudo bem?
-Está sim. Eu só acho que ele esperava que eu não te perdoasse.
-Tenho certeza de que ele estava rezando por isso.
-Para! Já disse, ele é meu amigo e gosto dele.
-Tudo bem, disse que não quero mais brigar e não vou. Acho melhor irmos, seu pai deve estar esperando.
-Vamos!
Ele me leva até o carro. Antes, meu pai ainda o cumprimentava com um balançar de cabeça, mas hoje nem olha na sua direção. Despedimo-nos e eu entro no carro.
O resto da semana passa rápido, estou muito entretida com a minha festa. Thiago está sentando algumas carteiras longe de mim essa semana. Acho melhor não forçar a barra, pois o tempo se encarregará de resolver mais essa questão.

A Deusa do Mago - Uma história de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora