A Deusa do Mago - Uma história de Amor

CAPÍTULO 43 - A CONSTATAÇÃO

O dia de trabalho está sendo longo e cheio de balancetes. Se aparecer mais um número na minha frente hoje, acho que acabarei surtando! Como vou estudar no horário de almoço, optei por nem sair para almoçar. Vou me esconder na saída de incêndio, lá não vão me interromper e, quem sabe, assim consiga estudar um pouco.
Desliguei o celular, não posso ficar de conversa, pois, tenho que correr atrás do tempo perdido.
Fecho a porta e me sento na escada. Não demora muito para alguém abrir a porta. Marcinho fica parado, me olhando.
-O que foi? - pergunto.
-Eu que pergunto? Vi quando você veio pra cá. O que está fazendo aqui sozinha? Está tudo bem?
-Preciso estudar! Já fui muito mal numa prova ontem.
-Quer ajuda?
-Achei que você não quisesse falar comigo.
-Deixa pra lá. Já me conformei.
-Que bom! Toda ajuda é bem vinda.
-O que está estudando?
-Redes de computadores.
-Nossa! Não entendo nada sobre esse assunto, será que serei de alguma ajuda?
-Você pode me sabatinar?
-Isso eu consigo! - ele sorri.
Entrego-lhe meu caderno, então, ele olha para a aliança no meu dedo.
-Não pensei que ficaria tão sério! - ele diz.
Olho para a minha mão e digo:
-Nem eu!
-Vamos estudar.
-Obrigada!
Meu horário de almoço acaba, meu estômago está vazio e roncando, estou com fome, mas precisava estudar.
Marcinho olha pra mim, sorri e pergunta:
-O que foi isso? Tem um "alien" dentro de você?
-É fome! Não tive tempo de almoçar. - dou uma risada.
-Está com fome?
-Não se preocupe, comerei algo no fim do expediente.
-Ainda faltam 4h, até lá você já terá desmaiado!
-Não precisa se preocupar. Estou bem. Vamos trabalhar?
Seguimos para nossas salas.
Estou terminando alguns relatórios e o meu ramal toca.
-Financeiro, Anna, boa à tarde! - atendo.
-Anna.
-Pois não, Sr. Luiz.
-Tem uma encomenda para você aqui embaixo, posso mandar subir?
-Claro! Obrigada.
-Não encomendei nada... Será que Wagner me mandou mais flores?
Quando as portas do elevador se abrem, vejo o entregador, que está com um uniforme do China in Box. Foi Marcinho, concluí.
Ele me entrega um Box padrão de yakissoba especial. Vou pegar a minha carteira, mas ele informa que já foi pago. Agradeço, volto para a minha sala e ligo para o ramal de Marcinho:
-Márcio, pois não! - ele atende.
-Não precisava!
-Eu sei que não. Mas eu quis.
-Obrigada!
-Pelo almoço? Não foi nada. É sério. Qualquer dia desses, você retribui.
-Não apenas pelo almoço, mas por tudo!
-Você ainda gosta de yakissoba?
-Adoro e o cheiro está ótimo!
-Bom apetite, Ann.
-Obrigada, mais uma vez!

O expediente termina e Marcinho me espera no elevador, com um sorriso. Descemos e, quando estamos fora do prédio, agarro-o e dou-lhe um abraço e um beijo no rosto. Não gosto de liberdades dentro do meu local de trabalho, ainda mais com um colega. Mas já não estamos mais trabalhando por hoje.
-Que foi isso? - ele pergunta sorrindo.
-Você salvou o meu dia! - respondo.
-Tenho que lembrar-me de salvá-la mais vezes, então!
-Bobo! Obrigada mesmo!
-Acho que é a primeira vez, desde que nos conhecemos, que ganho um abraço... Nossa! O que um almoço na faixa não faz, não é? - ele diz em tom de brincadeira.
-Mas não foi um almoço qualquer... Eu amo yakissoba!
-Dá pra ver. Cadê a cola? - ele pergunta.
-Não dá pra colar na faculdade.
-Não estou falando disso! Achei que seu namorado estaria aqui fora, como todos os dias.
-Pedi para ele não vir hoje, ele me atrapalha estudar.
-Ainda tem muitas provas nessa semana? - ele pergunta.
-Uma por dia, no mínimo.
-Isso é bom.
-Bom? Você é louco? Já estou ficando doida!
-Lógico que é bom, pelo menos ele vai te dar uma folga essa semana! - ele ri.
-É mesmo...
-Não fique triste, eu ajudo. E ainda pago o almoço! - ele dá uma gargalhada.
-Só você mesmo... Está tentando me ganhar pelo estômago?
-Por quê? Funciona? - ele pergunta.
-Não é o meu ponto mais fraco. - digo.
-Não? E qual é, posso saber?
-O meu coração, seu bobo!
-Hum! É bom saber!
-Tenho que ir Má. Ainda vou estudar um pouco mais. Obrigada pela ajuda de hoje.
-Não foi nada mesmo. Eu até gostei, aprendi a fazer até um cabeamento -completo de rede! - ele sorri.
-Mesmo assim, obrigada.
-Vai lá, antes que você se dê mal em outra matéria - ele fala se, despedindo.
-Nem me lembre disso! - dou lhe outro beijo e vou para a faculdade.
Quando chego, vou logo para o mural, ver o resultado da prova de ontem. Não quero nem ver! Sei que fiquei de dependência. Procuro meu nome e lá está... Nossa! 3,5! Caramba!!! Adeus aos sábados com Wagner.
Vou para a sala e sento-me para estudar mais um pouco. Já se passaram cerca de quarenta e cinco minutos, desde que cheguei.
Gabriel chega, me olha e senta-se no seu lugar. Sua fisionomia não é das melhores. Na correria, até esquecime de olhar sua nota, então, levanto-me e volto ao mural. Procuro seu nome e a sua nota foi 0,0. Como ele pôde errar tudo? Impossível!
Volto para a sala e penso em seguir direto para o meu lugar, mas, quando estou em frente a ele, paro, puxo uma cadeira e sento-me ao seu lado. Ainda temos quase uma hora para o início da aula.
-O que aconteceu? - pergunto, olhando para ele.
-Sobre?
-Sobre a sua nota. Você nunca tirou um zero, como pode errar tudo? Nem eu errei tudo.
-Não fiz a prova, entreguei-a em branco.
-Por quê? Você não estudou?
-Estudei.
-Então?
-Apenas não estava com cabeça para prova, ontem. - Por quê?
-Você não sabe? - ele pergunta olhando para a minha mão.
-Foi por causa disso? Não pode ser. Poxa, Gabriel! Não sei se você lembra do motivo pelo qual terminamos, mas, caso você não se lembre, reavivarei a sua memória: Foi porque a faculdade é muito importante para você e sua família, e eu fui considerada uma distração. Então, não se apegue a mim, esse aqui é o seu sonho. Você é um dos melhores alunos.
-Por que está preocupada? Você não precisa mais se preocupar comigo! - ele diz.
-Acima de tudo, sempre fomos amigos, "Ga". Como não me preocuparia? -Como vai dizer para os seus pais que você está de DP?
-Não sei. Quanto você tirou? - ele pergunta.
-3,5.
-A suja falando do mal lavado! - ele diz - Você está de DP também, gracinha.
-É verdade, não havia pensado nisso. Vamos ter que estudar aos sábados.
-Tem uma coisa boa nisso tudo. - ele diz.
-Não vejo nada de bom em ficar de DP!
-Faz tempo que a gente não se vê nos sábados, agora será inevitável.
-É verdade, sinto falta. Até que a gente se divertia, não é?
-Também sinto. Na verdade sinto muito, por muitas coisas.
-É passado, Gabriel. Mas entendo você, de verdade, mesmo às vezes achando que você foi um babaca! - dou risada.
Ele me olha sério.
-Você acha que fui um babaca?
-E você não acha? - sorrio novamente.
-Pensando bem, acho que sim! Mas não tem volta, tem?
-Nesse momento, acho que não, desculpe-me.
-Não precisa pedir desculpas, a culpa não é sua. É minha. Amigos, ao menos?
-Nunca deixei de ser sua amiga, Ga. Foi você quem se afastou.
-Não dá para ficar perto, você sabe.
-Eu sei, mas também não precisa se afastar tanto!
-Vou tentar. Podíamos estudar juntos para a DP, o que acha?
-Acho uma boa ideia, minhas notas caíram bastante desde que você se afastou de mim. Vai ser bom ser contaminada novamente!
-Com o que? - ele ri.
-Com o vírus dos CDF's! - caímos na gargalhada.
Dou-lhe um beijo no rosto e levanto-me para ir para a minha mesa.
-Espere! - ele diz - O quê?
-Senti falta desse beijo.
-Sinto falta de você, Ga, mesmo que não acredite.
-Eu acredito. Senta aqui perto de mim, quem sabe te contamino na prova de hoje. - ele diz, sorrindo.
-Isso seria bom! - digo e sento-me na carteira ao lado dele.
A aula começa, a prova é entregue, ele me lança alguns olhares e um sorriso bonitinho durante o período. Até que a prova foi fácil dessa vez. Ou será que fui contaminada? Penso e um sorrisinho bobo aparece. Ele me olha e sorri.
O tempo se esgota, as provas são entregues e somos dispensados, mas ainda é cedo. Faltam quase duas horas para papai chegar. Acho que vou ligar e avisar que vou de metrô.
Estou ligando para o meu pai e Gabriel para ao meu lado.
-Como foi na prova?
-Foi realmente fácil. - digo.
-Sério? Então, fiz efeito? - ele pergunta, brincando.
-Acho que sim. Espera, estou ligando para o meu pai.
-Porque está ligando pro Miguel?
-Ainda é cedo, vou avisar que irei de metrô.
-Nada disso, eu te levo.
-Não precisa, Ga.
-Faço questão! Não vou deixar você sair daqui sozinha, agora à noite.
-Acha que é uma boa ideia?
-Por quê? Está com medo de mim? Você nunca teve.
-Medo? Claro que não!
-Então, pronto! Vou levá-la.
-Está bem! Mesmo assim, tenho que avisar o meu pai.
Ligo para casa e tenho a nítida impressão de sentir uma certa alegria na voz do meu pai, quando disse que Gabriel me levaria para casa.
-Então, ele vai trazer você, ficarei tranquilo, então.
-Está em boas mãos.
-Pai, pode parar.
-Parar o quê? Não estou fazendo nada!
-Até daqui a pouco, pai.
-Até!
Seguimos até o carro de Gabriel. Ele caminha ao meu lado e, quando nos aproximamos, ele corre a abrir a porta para que eu entre. Ga nunca foi um cara cavalheiro, muito menos romântico! Nosso relacionamento sempre foi básico, sem muito mela-mela, como dizem.
-Por favor. - ele diz, assim que abre a porta.
-Ei, você conhece o Gabriel? - digo em tom de brincadeira.
-Não gostou?
-Gostei, só não parece você.
-Por quê?
-Porque, em quase dois anos que nos conhecemos, essa é a primeira vez que você abre a porta do carro para mim!
-As pessoas mudam, sabia?
-Estou vendo!
Então, entro e me sento.
-Quer ouvir música?
-Claro!
Gabriel aciona o controle do rádio, escolhe um CD, depois passeia pelas faixas. Ele está procurando uma música em específico, quando a encontra e a melodia toma o ar.
-Você sabe que música é essa? - ele pergunta
-É daquele filme, "Armagedom"?
-Essa mesma! Chama-se "I Don't Wanna Miss A
Thing".
-Eu gosto. - digo
-Sabe a tradução dela?
-Meu inglês é péssimo! - digo rindo.
-Posso traduzir pra você?
Se quiser.
Então ele recomeça a música e vai traduzindo:

"I Don't Wanna Miss A Thing" significa Eu Não Quero
Perder Nada - ele diz
Bonito.
I could stay awake just to hear you breathing
Eu poderia ficar acordado só para ouvir você respirar
Watch you smile while you are sleeping
Ver o seu rosto sorrindo enquanto você dorme
Far away and dreaming
Enquanto você está longe e sonhando
I could spend my life in this sweet surrender
- Eu poderia passar minha vida inteira nessa doce
entrega
I could stay lost in this moment forever
Eu poderia me perder neste momento para sempre
Well, every moment spent with you Is a moment I treasure
Todo momento que eu passo com você é o máximo

Então, ele me olha. E não parece mais o mesmo Gabriel que conheci, está diferente. Então, ele continua:

I don't wanna close my eyes - Não quero fechar meus olhos
I don't wanna fall asleep - Não quero pegar no sono
'Cause I'd miss you, babe
Porque eu sentiria a sua falta, baby
And I don't wanna miss a thing
E eu não quero perder nada
'Cause even when I dream of you
Porque mesmo quando eu sonho com você
The sweetest dream will never do
O sonho mais doce nunca vai ser suficiente
I'd still miss you, babe
E eu ainda sentiria a sua falta, baby
And I don't wanna miss a thing
E eu não quero perder nada

Não sei o que dizer, então, me calo e fico ouvindo sua voz. É um misto de amor, tristeza e melancolia. Tenho vontade de chorar, mas não acho que devo. E ele segue:

Lying close to you
Deitado perto de você, sentindo o seu coração bater
Feeling your heart beating
E imaginando o que você está sonhando
And I'm wondering what you're dreaming - Imaginando se sou eu quem você está vendo
Wondering if it's me you're seeing
Então eu beijo seus olhos e agradeço a Deus por
Then I kiss your eyes and thank God we're together And I just wanna stay with you In this moment forever, forever and ever
estarmos juntos Eu só quero ficar com você
Neste momento para sempre, para todo o sempre.

Minha vontade é sair dali, a música é linda ele cantando seria o céu, em outros tempos. Mas hoje não, hoje sinto pena por ele ter acordado somente agora.

I don't wanna miss one smile - Não quero perder um sorriso
I don't wanna miss one Kiss - Não quero perder um beijo
Well, I just wanna be with you - Bem, eu só quero ficar com você
Right here with you, just like this
- Aqui com você, apenas assim
I just wanna hold you close - Eu só quero te abraçar forte
Feel your heart so close to mine
Sentir seu coração perto do meu
And stay here in this moment
E ficar aqui neste momento
For all the rest of time
Por todo o resto dos tempos

A música termina e ele permanece em silêncio, não sei o que dizer. Então, fazemos o trajeto até a minha casa, cada um em seus próprios pensamentos. Quando chegamos à rua de casa, ele para um pouco antes do meu portão.
-Ann?
-Sim, Ga.
-Me perdoa?
-Pelo quê?
-Por ter desistido tão fácil.
-Esquece, Ga! As coisas acontecem sempre por alguma razão, um dia a gente descobrirá qual é.
-Sabe, me arrependo. Não estou pedindo pra você repensar nada, entenda, não é isso. Apenas queria que soubesse.
-Eu sei. Ano que vem a gente se forma e tudo vai ser diferente, você vai ver. As cobranças sobre você vão diminuir.
-Você sabe, não gosto de ser "pai-trocinado".
-Ga, posso pedir algo?
-O que quiser.
-Nunca mais use esse termo, "pai-trocinado", eu odeio!
-Sério? Pensei que achasse engraçado. - ele diz.
-Não, não acho. Sempre que penso nesse termo, lembro-me porque terminamos.
-Tudo bem. Esse termo morre aqui.
-Obrigada pela carona.
-Não tem por que. Gostou da música?
-Muito linda, sempre gostei da melodia, mas nunca havia ouvido a tradução.
-A ouço muito, lembra-me você.
-Tenho que ir, Ga. Já está tarde! Levanto cedo e, daqui a pouco, até o FBI vai estará atrás de você.
Ele sorri.
-Ann, você é sempre palhaça.
-Nem tudo mundo muda, não é? - dou uma risada.
Dou-lhe um beijo, ele abre a porta do carro novamente para que eu saia e me dá um abraço apertado.
-Não vou mais ficar longe, mas promete que não vai se afastar de mim por causa do seu namorado?
-Prometo.
Então, até amanhã, Ann.
-Até amanhã, Ga. Tenha uma boa noite e vê se chega inteiro em casa. Faz-me um favor?
-Claro!
-Me liga quando chegar em casa?
-Por quê? - ele pergunta.
-Só pra saber que você chegou bem, vou me sentir culpada se não chegar.
-Não se preocupe. Mas darei um toque assim que eu chegar.
-Obrigada. Até.
-Até, Ann!
Abro o portão e Gabriel entra no carro, ele assente com a cabeça, liga o carro e vai embora.
Quando entro em casa, meu pai está com um sorriso glorioso no rosto.
-Boa noite! - digo.
-Boa noite querida! Gabriel não quis entrar?
-Não pai, está tarde e eu trabalho, lembra? Vou me deitar.
-Está bem, querida. Mas, está tudo bem entre você e o outro?
-O outro tem nome pai, é Wagner. E sim está tudo bem, tive prova e precisava estudar. Foi só uma carona pai, pode tirar esse sorriso do rosto. - Começa assim querida.
-Vou tomar um banho e deitar papai, estou cansada.
-Boa noite.
-Boa noite papai.