CAPÍTULO 77

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A vida, às vezes, nos prega peças. Nem sempre o que desejamos, nem o que queremos, é o que ela quer. Às vezes temos que sacrificar nossa felicidade por algo maior. Foi o que fiz.
Quando deixei meu cavaleiro, estava deixando para trás um amor puro, ingênuo, verdadeiro. E sei que mesmo procurando por toda a vida, não vou encontrar ninguém que me faça sentir de novo o que já senti.
Não tenho mais noticias do meu cavaleiro desde o último telefonema, acho que desta vez foi adeus. Faz nove meses que eu e Fabio estamos juntos. Ele quer que fiquemos noivos. Vou ao shopping para dar uma olhada nas alianças.
Enquanto caminho, estou com a cabeça abaixada, procurando meu celular na bolsa. De repente, alguém está parado na minha frente. Não preciso erguer os olhos para saber quem é. Sinto sua presença, sua energia.
-Oi, Deusa! - ele diz sem se aproximar muito.
-Oi, Wagner.
-O que faz aqui?
Não posso dizer-lhe que vim comprar alianças de noivado.
-Passeando.
-Eu sabia que te encontraria aqui hoje. - ele diz.
-Sério? Como?
-Sonhei com você essa noite.
-Faz tempo que não te vejo! - digo.
-Mas eu vejo você! - ele diz.
Então, ele começa a contar todas as vezes que ele me viu, sem que eu o tenha visto. Não sei se isso me deixa feliz ou se me assusta.
-Tenho de ir. - digo.
-Faltam apenas mais duas vezes... - ele diz.
-Duas vezes para quê?
-Para que complete as últimas três vezes em que ainda nos veremos. - ele diz.
-Não acredito nisso!
-Não precisa acreditar.
-Vou embora. Esse encontro me deixou triste.

O dia seguinte é um sábado. Fábio e eu vamos até o shopping para comprar as alianças. Dessa vez vamos de ônibus. Saímos de casa, atravessamos a avenida e estamos no ponto, esperando. Fábio faz sinal para o ônibus, mas este não para. Logo atrás vem uma lotação com o mesmo destino. Ele faz sinal novamente, a van para e entramos.
Quando me sento, Fábio me abraça mais forte. Levanto os olhos para ver o que acontece, então, meus olhos cruzam os seus. Sentado a nossa frente, cara a cara está Wagner. O frio sobe pela minha espinha. Se ele quisesse, moeria Fábio em segundos. Mas ele não se move. Apenas nos olha.
-Oi, Ann!
-Oi... - sequer pronuncio seu nome.
-Segunda vez... - é a única coisa que o ouço sussurrar até desembarcamos. No shopping, ele segue seu rumo.

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Fábio e eu namoramos dois anos, antes de casarmos. Ele é um cara legal. Compramos um apartamento, somos bem amigos e quase não me lembro mais do meu cavaleiro. Não fosse um dia em que estávamos no shopping, lanchando no Mc Donalds e sinto que alguém não para de me olhar.
Fábio se vira e diz:
-Viu quem está ali?
-Não. Quem?
-Seu ex-namorado. - ele diz.
Viro-me e o olho, dessa vez ele não me encara. Essa é a terceira vez - pensei.
Entre casamento e namoro, meu relacionamento com Fábio durou exatos sete anos. Não sei se crise dos sete anos existe, mas, da mesma forma que começou, terminou. Não houve briga, não houve traição. Isso me magoou muito, sofri demais.
Era como se a vida me pregasse uma nova peça. Só que, desta vez, não só eu sofri. Minha família amava muito Fábio e ninguém conseguiu entender o que aconteceu, assim como eu também não sabia explicar.
Em meio ao sofrimento, conheci meu atual marido, muito diferente de todos que já passaram pela minha vida, ele é introvertido, sério, nada romântico, mas ele me amou mesmo quando eu não me amava. Nós não namoramos. Ele veio morar comigo desde o primeiro encontro. Em um mês ficamos noivos. Após seis meses planejamos um filho. Um mês depois eu estava grávida.
Meu filho é mais que minha vida. É minha razão de viver. Eu e meu marido nos casamos quando meu filho já tinha cinco anos e ele sempre pedia para que nós nos casássemos.
Hoje estamos há mais de dez anos juntos, formamos uma família feliz. Amo meu filho, amo meu marido.
Logo que me separei, pouco depois de estar grávida do meu filho, Wagner reapareceu, mas minha vida já estava em outro rumo e não dava para dar a volta e retomar tudo. Falamo-nos um tempo. Ele me contou tudo o que passou desde que nos separamos.
Contou-me que logo quando casei, ele surtou, conheceu uma pessoa, logo se casou, não deu certo e que ela me culpava por tudo.
Às vezes me pergunto por que, depois de vinte e dois anos, ainda é especial? Por que é inesquecível?
Alguns dizem que nossa história acabou. Outros apostam que não. Ele diz que ainda nos encontraremos, talvez não nessa vida, mas, certamente na eternidade.
Quando penso no motivo pelo qual, para ele, serei sempre sua Deusa e, para mim, ele será sempre meu cavaleiro, acho que sei a resposta. Nós nos amamos na inocência... Cada um de nós teve do outro o que se pode ter de mais puro em alguém. Não era desejo carnal apenas. Foi um encontro entre almas. Ele enxergou o meu ser antes que qualquer outro, antes até do que eu mesma poderia me enxergar. E eu o vi de forma única e tive a plenitude do seu amor, como nenhuma outra jamais o terá.

Fim?

A Deusa do Mago - Uma história de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora