Quando saio do carro, espero que eles façam o retorno e estejam longe, antes de eu entrar. Os olhos de Wagner estão me fuzilando. Quando entro, ele me olha e fala com muita ira:
-Onde você estava?
-Por que chegou tão cedo? - é a única coisa que eu consigo pensar nesse momento.
-Não muda de assunto, você deveria estar em casa.
-Sabe que não deveria andar de carro, onde você foi?
-Ao shopping. - digo.
-Com quem?
-Com amigos.
-Amigos? Que amigos? Quem era o cara no volante?
-Um amigo. - digo nervosa.
-Esse amigo não tem nome?
-Para você não.
-Como você pôde?
-Pude o quê? Só fui dar um passeio, não tem nada demais.
-Você abriu mão da sua segurança para dar um passeio com o seu "amigo" - ele diz com fúria.
-É.
-O que está acontecendo, Deusa? O que você pretende? Eu não admito que você saia com amigos, ainda mais neste estado. Não vou admitir isso! - ele diz aos berros.
Quando olho para a janela da sala, vejo que quase toda a minha família está nos olhando. Eles têm medo de que ele parta para cima de mim. Acho que essa é a hora de tomar uma decisão. Vai doer, eu sei, afinal, o amo, mas não posso mais fazer a minha família passar por essas situações.
Então, digo:
-Você não tem que admitir nada. Não é meu dono, não tenho de pedir permissão.
-É assim?
-Sim, é exatamente assim!
-O que quer? Quer terminar comigo, é isso?
-Essa é nossa melhor opção! - digo, mas meu coração se quebra. Preciso acabar com tudo isso rápido. Preciso sair daqui ou não vou conseguir manter o que acabo de dizer, se ele não for embora agora. Oro para que ele não tente me abraçar ou reverter a situação.
Mas, por algum motivo, ele não faz. Ele olha profundamente em meus olhos, como se houvesse roubado todas as suas esperanças, e diz:
-Se é isso que você quer, minha Deusa, eu vou embora.
Ele tira sua aliança e a entrega para mim. Por favor, jogue-as no mar ou em água corrente - ele diz - faça apenas mais isso por mim.
Quando ele está saindo, vou até ele para me despedir. Não sei se por força do hábito, ou se porque dá ultima vez ele me pediu um último beijo, mas o beijo nos lábios.
-Adeus, Wagner.
-Até breve, minha Deusa.
E ele se vai.
Fico parada, olhando e tentando entender tudo o que se passou naquele momento. Será que tomei a melhor decisão? Não sei, mas algo dói demais. Sinto vontade de chorar, de sair correndo...
Sou retirada dos meus pensamentos, por minha mãe, que estava na janela nos olhando, enquanto brigávamos.
-Ann? O que aconteceu?
-Terminamos, mãe. - digo e as lágrimas correm.
-Foi melhor assim, Ann. Não acha que já não dava mais?
-Eu o amo, mãe.
-Eu sei, mas vai esquecê-lo. Estávamos todos aqui preocupados que ele lhe fizesse alguma coisa na hora da raiva. - ela diz.
-Eu sei, mãe. Foi por causa de tudo isso que tomei essa decisão. Mãe?
-O que, Ann?
-Como ele soube?
-Ele ligou Ann, queria falar com você. Primeiro dissemos que você estava no banho. Ele ligou depois de meia hora e não havia o que dizer, então, falamos a verdade. Ele chegou aqui cedo, Ann. Ficou horas do lado de fora, fumando um cigarro atrás do outro. Ficamos com muito medo por você.
-Eu sei, mãe. Por favor, me desculpe.
-Está tudo bem, Ann. O que importa é que você está bem.
-Será que estou, mãe?
-Vai ficar.
Vou para o meu quarto, preciso chorar. Mais tarde ligo para Alê. Eles devem estar preocupados.
-Ann? Você está bem? - ela diz, com voz preocupada.
-Estou sim, terminamos. - digo com a voz embargada.
-Como assim, terminaram?
-Eu terminei com ele, Alê.
-Sério! Mas você está bem?
-Não, estou triste, muito triste.
-Conheço alguém que vai amar essa noticia! - ela diz rindo.
-Só você para me fazer rir num momento desses,
Alê!
-Posso contar pra ele? - ela diz empolgada.
-Pode.
Então, ela desliga. Cinco minutos depois meu telefone toca, é Fábio.
-Ann?
-Oi, Fábio.
-Você está bem?
-Dentro do possível.
-Ele te machucou? Nós teríamos acabado com ele, você sabe!
-Não precisava. - digo tentando rir - Ele não me machucou.
-O que a Alê me disse é verdade? - ele pergunta e sei que está com um sorriso no rosto.
-É sim.
-Então, o caminho está livre?
-Não quero pensar nisso agora.
-Tudo bem, Ann.
-Obrigada, Fá. Vou desligar e tentar dormir um pouco.
-Tudo bem, Ann. Ligo para você amanhã.
-Vou esperar.
Desligo e vou para cama. Essa noite realmente está sendo terrível. Lembro-me de tudo o que vivemos, de tudo que passamos até aqui... Tenho vontade de ligar, dizer que foi um erro e que o amo muito, mas não posso... Não dessa vez!
A semana foi terrível. Não fossem as ligações diárias de Fábio e as meninas da faculdade que, gentilmente, vieram terminar meu TCC em casa, seria insuportável. Acho que se não fosse por elas, não me formaria daqui a uma semana.
Às vezes o telefone de casa toca, mas nunca me deixam atender. Pelo jeito, também nunca é para mim.
Amanhã é sábado e Fábio virá me visitar. Ele está cheio de esperanças.
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A Deusa do Mago - Uma história de Amor
Roman d'amourAnna é uma garota ingênua, gordinha e sonhadora. Ao mudar de colégio ela se depara com Wagner, juntos eles vão viver uma emocionante história de amor, entrega. Com ele ela descobrira o primeiro amor. o primeiro beijo, a primeira decepção. A primeira...