CAPÍTULO 6 - O REENCONTRO

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Hoje o dia demorou a passar, acho que nunca me senti tão ansiosa para que passasse logo. Nunca tive vontade de me arrumar para ir à escola, sempre achei inútil, afinal nenhum garoto jamais olhou pra mim. Mas hoje me sinto diferente, mais viva, como se algo dentro de mim estivesse tomando forma.
Vou para o banho, lavo meus cabelos louros, longos e cacheados, coloco um macacão jeans, uma camiseta regata. Nesse momento lembro que meus seios são muito fartos para a minha idade. Logo, acho conveniente colocar uma camisa por cima.
Passo um perfume suave, com uma fragrância de "menina moça". Corro batom pelos lábios, abro alguns botões da camisa, afinal, meus seios são fartos, mas bonitos. Sigo para o colégio, rumo ao meu segundo dia de aula.
Subo a escadaria para o segundo andar, algo dentro de mim me aflige e meu inconsciente esbraveja comigo: "o que pensa que está fazendo? Acha que ele vai olhar para você? Não seja ingênua! Olha quantas garotas lindas tem ao seu redor. Não seja ridícula, tenha um pouco de amor próprio, feche essa camisa, pois ele nem vai te olhar..."
Minhas mãos começam a tremer. Enquanto subo, olho atentamente para chão, sabendo que por muito pouco, eu posso acabar tropeçando e arruinando o resto da noite. Então sob os meus olhos abaixados, vi surgir um par de pés, obstruindo a minha passagem. Ao erguer os olhos em protesto, sou contemplada com lindo sorriso e dois olhos brilhantes em uma jaqueta preta. Lá está ele, meu cavaleiro da Távola redonda. Fui envolta num abraço quente e um beijo carinhoso.
-Olá! Preparada para mais um dia de aula? Você está linda!
Mal posso sentir o meu corpo. Só consigo sentir suas mãos em volta de mim, o calor do seu corpo aquecendo as minhas costas molhadas pelo cabelo ainda úmido. "Vai boca, responde! Ele tá falando com você!" Depois de alguns segundos que parecem eternos, abro um sorriso, olho nos seus olhos que ainda se fixam nos meus e, enfim, consigo pronunciar algumas palavras:
-Claro! E você? Como foi sua noite?
-Ótima, sonhei com uma Deusa!
Nesse momento, meu mundo gira em altíssima velocidade e sinto que vou desfalecer. Ele me aperta um pouco mais em seus braços me mantendo em pé. Tudo nele me fascina: seus olhos, sua boca, seu jeito, seu toque. - Está tudo bem? Você ficou pálida, de repente.
Numa fração de segundo meu inconsciente se exaspera: "Pare de ser mole, não fique criando ilusões, você não faz parte dos sonhos dele, sua ingênua! Está muito longe de ser uma Deusa".
Recoloco-me sobre meus próprios pés, tento esboçar um sorriso, mas meus olhos estão marejados. Agradeço a gentileza de ter me segurado, digo que estou bem e sigo para a minha sala.
Antes de entrar, ele olha nos meus olhos, dá aquele sorriso que me derrete e diz:
-Nos vemos no intervalo!
Entro sem olhar para trás, pois, não quero minha mente brincando e nem brigando comigo. Vou sentar-me em meu lugar. Quando estou me sentando, vejo Thiago sentado na carteira à frente, com seu olhar cativante e um sorriso encantador. Ele levanta, me dá aquele seu abraço de urso, um beijo carinhoso e me cumprimenta lindamente:
-Boa noite, minha mais nova amiga!
Percebo que no abraço acabei sujando a gola de sua camisa com o meu batom. Acho que devo deixar de usar batom, senão essas manchas se tornarão constantes, concluo em meus pensamentos.
-Muito boa noite, meu mais novo amigo!
Cumprimento-o, retribuindo com outro sorriso.
Thiago me olha de cima a baixo e me diz, com certo ar de ironia:
-Acho que tem alguém querendo roubar corações, essa noite!
Dou um leve sorriso, sem ter muita ideia do que ele está falando.
O professor de matemática entra na sala se apresentando. Seu nome é José Ribeiro, um quarentão, forte, moreno, sorriso fácil, alegre e brincalhão. Para o meu gosto, brincalhão até demais! Vejo-o trocar várias vezes olhares quentes com algumas alunas. Elas só faltam babar na mesa.
Ele passa um exercício para fazer em dupla e é claro que meu mais novo amigo urso senta-se ao meu lado. Conversamos, tentando resolver o problema, até que o sinal toca. Ainda não terminamos e o professor informa que podemos entregar na próxima aula. Faço menção de levantar para sair para o intervalo, mas Thiago está empolgado com o exercício e quer logo terminá-lo.
Eu quero ver meu cavaleiro, mas algo dentro de mim diz que ele deve ter muitas outras garotas com quem conversar, garotas mais bonitas, mais inteligentes, então me encolho e deixo-me ficar.
Faltam cerca de 5 minutos para o término do intervalo. Finalmente, acabamos o exercício! Thiago fica muito contente com o resultado.
Oh! Meu Deus, outro CDF! Penso e dou uma risadinha baixa. Ele se levanta e diz:
-Vou ao banheiro antes que o sinal toque!
Mas antes de sair, ele me agarra em outro abraço e diz:
-Formamos uma dupla e tanto, não é mesmo, my friend?
Nesse momento, vi logo abaixo dos braços fortes de Thiago uma jaqueta preta, parada na porta da nossa sala, nos olhando. Tento me desvencilhar do meu querido Urso, mas já é tarde. O sinal toca, e só posso ver uma sombra preta, que segue pelo corredor.
Eu não pude prestar muita atenção nas outras aulas, minha mente está em polvorosa, e me pergunto sem encontrar a resposta: O que ele veio fazer aqui? Será que veio me ver? Só pode ser, afinal, ele disse: "até o intervalo"...
Eu sou muito burra, devia ter ido vê-lo. Novamente meu subconsciente se manifestou: "você acha que é a única nessa sala? Olhe quantas garotas lindas existem ao seu redor. Ele não veio ver você!".
Vou embora naquela noite e não vejo mais o meu cavaleiro. Acho que meus instintos estavam certos e ele deve ter outras coisas melhores a fazer, outras garotas mais bonitas e interessantes para conversar.
Vou para casa calada. Sinto-me sozinha, como se algo dentro de mim acabasse de se estilhaçar. Nessa noite choro sozinha, mas nem mesmo sei por que.
Sonho novamente com o meu cavaleiro, mas dessa vez ele parece triste.

A Deusa do Mago - Uma história de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora