Eu tenho que ligar para Wagner, minha caixa de mensagens estava ficando cheia. Nem quero saber no que tudo isso vai dar. Entro no banheiro, fecho a porta sento no vaso e teclo o seu número. Não quero ninguém ouvindo a nossa conversa.
O telefone chama e ele atende ao primeiro toque.
-Você está bem? - ele grita do outro lado da linha.
-Estou e você?
-Por que não respondeu às minhas mensagens? Já estava para ir até aí.
-Não, não venha! - eu disse um pouco mais alto do que o normal.
-Por que?
-Nada, só acho que não é hora para você aparecer por aqui.
-Como foi o trabalho?
-Foi bem, conseguimos terminar.
-Que bom, e aquele indivíduo já foi embora?
E agora, o que eu faço? Minto? Se ele descobrir que menti, talvez jamais confie em mim novamente. Não estou fazendo nada de errado, ele é só meu amigo, penso. Então, as palavras saem da minha boca.
-Na verdade, não.
-Como não? Olha a hora! O que ele ainda está fazendo aí? - ele pergunta, aos gritos.
-Meu pai o convidou para dormir e para um churrasco que haverá amanhã, aqui em casa. - minhas palavras foram cortantes. Depois de um longo e dilacerador silêncio, perguntei:
-Oi! Você ainda está ai?
Sua voz saiu fria:
-Você está me dizendo que ele vai dormir aí com você e que ele conheceu o seu pai, coisa que você ainda não me deu a oportunidade, e que amanhã ele vai passar o dia com você? - ele parecia anestesiado, parecia outra pessoa.
-Não é bem assim - eu digo - Primeiro, ele não vai dormir comigo, ele vai dormir na sala. Segundo, não o apresentei para o meu pai, simplesmente aconteceu. Terceiro ele vai passar o dia com a minha família, não apenas comigo.
-E, evidentemente, não posso ir a esse churrasco, não é mesmo? - ele fala com um tom cada vez mais frio, do outro lado.
-Não acho que seja conveniente.
-Então, ele vai estar com você, minha namorada, e eu não posso fazer nada a respeito?
-Amor, entenda! Não foi escolha minha.
-Entender? Como você quer que eu entenda uma coisa dessas.
-Me desculpe, por favor!
-Fique bem D! - ele disse do outro lado da linha em um tom que eu desconhecia e desligou o telefone.
Eu tento ligar novamente, mas agora cai direto na caixa postal. Eu sei que o magoei, mas não tive culpa. Minha mente grita "tem sim, querida! Você poderia ter enfrentado o seu pai e dispensado o garoto!" É verdade, eu poderia, mas sou muito fraca para isso.
Tomo um banho frio, tentando esfriar também a cabeça e quando saio, envio-lhe uma mensagem: "Querido W, me desculpe. Eu entendo você. Mas não tive opção! Espero que esteja bem. Quando ligar o celular me liga. Da sempre sua D".
Saio do banheiro e volto para sala. Quando chego, estão todos lá. Minha mãe, sentada do lado do meu pai, Eduardo no computador e Thiago sentado, conversando com eles. Ele me olha, se encolhe no sofá e diz:
-Vem Ann, senta aqui comigo!
Quando me sento, ele passa o braço sobre os meus ombros. Eu tento sair, mas não há muito o que fazer. Ficamos conversando um pouco. Meu pai realmente parece ter gostado dele. Falam sobre futebol, Fórmula 1, essas coisas que a maioria dos homens gostam.
-Está ficando tarde, vou me deitar - essa foi a minha desculpa, pois precisava ir para o quarto e tentar ligar para Wagner. Ele não respondeu às minhas mensagens.
-Está bem, querida, boa noite! - eles disseram.
-Quando me levanto para sair, Thiago já esta de pé. Ele me abraça carinhosamente, beija o meu rosto e me dá um sorriso.
-Boa noite Ann, tenha bons sonhos e obrigado por me deixar ficar.
Como eu posso querer ficar longe dele? Ele é meu amigo e é tão meigo. Wagner pode até ficar bravo, mas se ele quiser ficar comigo vai ter que aprender a confiar em mim. Então, o abraço de volta, retribuo o beijo e o sorriso.
-Boa noite Thi, é bom ter você aqui - digo, pois, é verdade, gosto da presença dele. - Tenha bons sonhos também.
-Terei, amore! - ele diz - Terei!
Sorrio novamente e sigo para o quarto. Thiago volta para sala para continuar a conversa com meus pais. Os deixo para trás, pois, preciso falar com Wagner.
Ligo várias vezes, mas o telefone toca e ninguém atende. Começo a ficar preocupada e, de repente, uma voz "mole" atende o telefone.
-Alô! Querida D? - ele fala, mas sua voz sai mole, como se ele estivesse derretendo. Ele está bêbado.
-Onde você está? - eu digo.
-Com uns amigos - ele diz.
-Amigos? Você bebeu?
-Só um pouquinho - ele diz rindo .
-Por quê?
-Você sabe por que, meu bem. Eu sou homem e você não está aqui.
Ouço um barulho do outro lado da linha, parecendo o início de uma discussão e, em seguida, parecia que o telefone havia sido derrubado no chão. De repente uma voz diferente, diz:
-Com quem eu falo? - era uma voz de mulher, fiquei atordoada.
-Eu que pergunto? Quem está falando?
-Sou Elizangela - ela diz - E você quem é?
É ela, eu penso, a "amiga"! Meu coração entra em fúria.
-Eu sou a namorada dele, ou pelo menos era há algumas horas atrás! - e desligo, sem esperar pela resposta. Estou tão nervosa... Que raiva!
Não consigo dormir só por saber que ele está com outra mulher. Meu coração aperta, meus olhos começam a lacrimejar e quando dou por mim, já estou aos prantos. A casa está silenciosa, acho que todos já foram dormir. Resolvo ir à cozinha, beber um copo de água.
Saio do quarto, percorro o caminho até a cozinha em silêncio e vejo Thiago dormindo no sofá. Ele está com os pés para fora. Passo correndo, pois, não quero que ninguém veja que estou chorando. Entro na cozinha pego um copo, encho de água e me sento no chão. Não consigo parar de chorar. De repente, vejo um vulto enorme na minha frente. Se fosse outro dia, teria gritado de pavor. Mas hoje eu sabia quem era.
-Oi! Você não devia estar dormindo seu sono de beleza? - ele diz.
-Não consigo dormir - digo tentando parecer normal, mas minha voz me denuncia.
Ele acende a luz. Olha para o meu rosto, inchado de chorar. Ele me abraça forte.
-O que houve? Você está bem?
Agora a represa se rompe de vez e soluço aos prantos em seus braços.
-Calma, tá tudo bem... Vem, eu te levo pra cama.
Ele me toma em seus braços e me agarro em seu pescoço. Ele me carrega até minha cama. Coloca-me deitada e senta-se ao meu lado, no chão.
-Quer conversar?
-Acho que não, já está ruim o suficiente.
-Você sabe que pode confiar em mim, não sabe?
-Eu sei, mas é que tá doendo.
-O que ele fez com você? Ele brigou por eu estar aqui, te falou alguma besteira? Eu mato ele.
-Não foi isso. Ele ficou louco quando soube que você iria ficar aqui. Até entendo ele, afinal, nem o apresentei ainda para o meu pai e você já até ficou amigo dele. - Thiago abre um sorriso - Eu sei que ele tem motivos para estar com raiva de mim, mas... - eu começo a chorar novamente
-Mas o que, Ann, o que ele fez?
-Ele está com outra, ele está com ela, e ainda por cima está bêbado. - Ele o que?
-Eu tentei ligar para ele, mandei mensagens e ele não atendeu. Depois de muito tempo, ele atendeu e sua voz estava estranha, logo percebi que ele havia bebido. Fiquei nervosa com isso, mas aí, uma mulher tirou o telefone dele e, quando eu perguntei quem era, ela disse que seu nome era Elizangela. Eu sei quem ela é. É a
"amiga" dele. - agora eu estava aos prantos.
Ele se levantou sentou na beirada da minha cama, me puxou para o seu colo. Aconchegou-me nos seus braços e disse:
-Eu sinto muito, não queria ver você sofrer por minha causa. Se quiser, eu ainda posso ir embora.
-Não! A culpa não é sua. Você não fez nada de errado. A culpa é dele. Como ele pode? - lágrimas rolam incessantemente.
-Vai ver foi um mal entendido, por que não liga para ele?
-Não vou ligar!
-Ele não te ligou depois?
-Desliguei o telefone.
-Entendo, mas não se preocupe. Amanhã vocês vão resolver tudo isso. Vai ficar tudo bem.
Ele me abraça forte. Ainda estou no seu colo e, de repente, um aconchego imenso invade meu corpo. Meu rosto vai em direção ao dele, nossos lábios quase se tocam. Então, ele me põe de volta na cama.
-Eu não entendo! - digo - Você me queria hoje à tarde.
-E ainda quero, amore! Mas não porque você está com raiva dele. Tenha uma boa noite e até amanhã. Se precisar, sabe onde me encontrar, sinta-se como se estivesse em casa! - ele diz com um sorriso.
Mesmo com todos os pensamentos horríveis, ambos rimos. Como aquele rapaz lindo, cavalheiro, podia estar gostando de mim? "Burra!" - eu penso - "você escolheu o cavaleiro errado". Vejo-o sair do meu quarto.
Viro para o lado, agora mais calma e ligo meu celular. Tem inúmeras mensagens na minha caixa postal. Começo a ouvi-las.
-"Deusa! Sou eu, me atende!"
"Deusa! Sou eu de novo, liga esse celular, me liga!"
-"Deusa! Perdoe-me, não é o que você está pensando!
Me liga".
Não quero mais ouvir. Apago todas as outras mensagens, me ajeito na cama e deixo o sono me levar.
Fazia tempo que não sonhava com meu cavaleiro.
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A Deusa do Mago - Uma história de Amor
RomanceAnna é uma garota ingênua, gordinha e sonhadora. Ao mudar de colégio ela se depara com Wagner, juntos eles vão viver uma emocionante história de amor, entrega. Com ele ela descobrira o primeiro amor. o primeiro beijo, a primeira decepção. A primeira...