CAPÍTULO 56 - SAINDO DE CASA

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Já são quase 03h30 da manhã, estamos exaustos. Mamãe bate a porta, mas está tudo silencioso. Será que meu pai está dormindo tão profundamente assim? Edu pega o celular e liga.
-Papai? Onde está? - Edu pergunta - Não. Demorou para acabar e pegamos uma carona. Já estamos em casa. - então, Edu desliga e me olha com uma cara de assustado.
-Que foi Edu, viu fantasma a essa hora da madrugada? - pergunto rindo, sentada na escada.
-Nossa! Papai está uma fera! Como não ligamos, ele foi atrás de nós! - ele diz.
-Por quê? - mamãe pergunta
-Não sei! Você sabe que, além de ciumento, ele não gosta do Wagner, não é mesmo? Não dá pra saber o que passou pela cabeça dele. - respondi para minha mãe.
-Mas ele está longe? - pergunto para Edu.
-Não, acho está quase chegando.
-Que bom. Preciso dormir, estou morta de cansaço!

Papai chega e seu semblante está transtornado. Nunca o vi com tanta raiva em seu olhar. Ele passa por mamãe e Edu e vem direto para mim. Pega-me pelo braço, já gritando, e me arrasta para dentro da sala.
-Aquele cara não tem mais chances aqui em casa! - ele diz gritando e me colocando contra a parede.
Nunca vi meu pai assim, mas o que ele está pensando? Eu nem estava sozinha. Até entenderia se estivéssemos apenas Wagner e eu, mas estavam todos lá. Então, olho-o nos olhos e pergunto:
-Você não acha que sou eu quem tem que decidir isso?
-Cale essa boca! - ele diz gritando.
-Nossa! Meu pai nunca mandou que eu calasse a boca antes. Mas eu não posso recuar, sou maior de idade, dona do meu nariz e não estava fazendo nada de errado.
-Não calo! - respondo.
Pela primeira vez vejo meu pai fechar a mão para me bater e, se ele realmente quisesse, eu não teria como evitar, ele é muito mais forte do que eu e estou encurralada na parede. Então, a raiva toma conta de mim.
-O que é? O que você está pensando? - eu digo - Acha o quê? Que estava transando com o meu namorado, acompanhada de mamãe e Edu? - eu pergunto em tom irônico.
Agora acho que piorei tudo. Vejo sua mão em minha direção e minha mãe começa a gritar.
-Para! Você está louco? Ela não fez nada de errado! - ela diz em minha defesa, mas ele parece não escutar.
Então, fecho os olhos, esperando a surra, enquanto digo:
-Bate papai, mas bate para me derrubar. Porque a hora em que me levantar, sairei por aquela porta e não voltarei mais.
O tempo corre devagar, até que ele me solta. Vou para o meu quarto e não lembro nem de tirar o vestido. Deito na minha cama e todas as imagens do que acabara de acontecer não saem da mim mente.
"Como ele pode?" ,pergunto-me. O que fiz para ele me tratar assim? Isso não é ciúme, é possessão! Não sou o brinquedinho de ninguém. Então, decido que partirei quando amanhecer.
Resolvo não contar a Wagner sobre nada do que aconteceu, pelo menos por enquanto. Depois de muito tentar dormir, o dia amanhece e lá estou, ainda de vestido.
Vou para o guarda-roupas, pego algo qualquer e visto. Pego uma mochila e coloco algumas mudas de roupa e alguns pares de sapatos. Despeço-me da minha mãe.
-Aonde você vai? - ela pergunta.
-Não sei, mãe. Só sei que não dá para ficar aqui. Sei que ele me ama, sei que, no fundo, ele quer o meu bem. Mas, no dia em que ele me bater, mãe, não o perdoarei, então, o melhor é evitar que isso aconteça.
-Vou conversar com ele. - ela diz.
-Mãe, não adianta conversar, você não viu o que aconteceu ontem? Ele estava cego!
-Mas, onde você vai ficar?
-Tem uma moça que trabalha comigo e ela está procurando alguém para dividir o apartamento.
-Não! - ela diz agora em tom de desespero.- Não vou aceitar que você saia de casa para ir morar com uma desconhecida.
-Ela não é desconhecida, mãe. Trabalhamos juntas.
-Mesmo assim, desse jeito sou eu quem vai embora! - ela diz.
-Vai embora nada, mãe. Você sabe que ele ama a todos nós. O problema dele é amar demais. - eu digo.
-Vou ligar para sua avó. - ela diz - Você vai morar com ela.
-Está bem. Se vai te deixar mais calma, vou morar com a vovó.
Depois de uma conversa ao telefone, minha mãe pega a chave do carro, eu pego mais algumas mudas de roupa e partimos para a casa da vovó. Não me despeço de papai e, na verdade, não saberia o que dizer.
Amo meu pai, ele é o meu chão, o meu mundo. Mas nesse momento estou magoada e não quero piorar as coisas. Então, vou embora.

A Deusa do Mago - Uma história de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora