É sábado, o dia está bonito lá fora. Acordo um pouco mais tarde, meu sonho foi acolhedor. Vou até a cozinha e vejo que mamãe está terminando um bolo que tem um cheiro delicioso. Abro um sorriso e digo:
-Bom dia! Que cheiro bom.
-Bom dia! Estou fazendo um bolo. Seu irmão tem trabalho de escola para fazer em casa e vai trazer um amigo, acho que é trabalho em grupo ou algo assim.
-Amigo? Que amigo?
-Não sei, nem sabia que seu irmão tinha amigos. Pra mim também é novidade.
Meu coração é um misto de medo e alegria. Será?
Mas por que ele não me disse nada?
-Você sabe que horas eles vão chegar?
-Acho que daqui a pouco.
Corro para o banheiro para tomar um banho e estar, no mínimo, apresentável. Tomo um banho quente, lavo os cabelos - adoro o cheiro do xampu -, me enrolo na toalha e vou direto para o quarto. Quando estou no corredor, tomei tamanho susto que quase derrubo a toalha, pois, à minha frente estava ele, me olhando como se Afrodite estivesse no meu lugar.
Empalideço e quase desfaleço de imediato. Penso em correr para o meu quarto e de lá não sair nunca mais, mas meus pés não querem obedecer. Fico petrificada como uma estátua, congelada pelo medo, pela vergonha... São tantos sentimentos que, sequer consigo distinguir qual se faz mais latente neste momento.
Ele me olha em silêncio, como se estivesse hipnotizado. De repente, ao perceber que parei até de respirar, ele diz:
-Calma, respire! Precisa de ajuda?-Desculpe! - é a única coisa que eu consigo dizer antes de correr para o quarto e deixá-lo ali, parado, sem entender nada.
Agora em meu quarto, sentada em minha cama, procuro me recuperar do que acabara de ocorrer. O que faço agora? Fico aqui e espero ele ir embora? Ajo como se nada tivesse acontecido? Disfarço toda a vergonha que estou sentindo e vou até lá?
Tento decidir o que fazer, quando batem na porta e digo:
-Pode entrar!
-Você não vai sair desse quarto hoje? - minha mãe questiona - Vou cortar o bolo!
-Já vou, estou terminando de me trocar.
-Está bem, estamos te esperando!
Não tem jeito, vou ter que encará-lo em algum momento, portanto, melhor que seja agora ou terei que ficar remoendo isso dentro de mim até segunda-feira.
Crio coragem, ponho um shorts jeans, uma camiseta preta da Minnie, faço um rabo de cavalo, respiro fundo e vou em direção à sala.
Quando estou na porta, consigo vê-lo de costas conversando com Eduardo. Paro, penso se devo mesmo ir até lá. Mas agora é tarde, ele se vira e eu posso ver um sorriso lindo em seu rosto.
-Olá! Você demorou.
Com a voz trêmula, respondo:
-Eu, eu, eu... Estava pensando no que fazer com a vergonha que estou sentindo.
-Vergonha do que?
-Depois de me ver daquele jeito, achei que você pudesse se arrepender de alguma coisa.
-Me arrepender? O que vi me deixou ainda mais certo do que quero.
-Não seja bobo!
Ele sorri. Eduardo fica olhando como se nada da nossa conversa fizesse o menor sentido.
-Precisam de ajuda? - sempre fiz os trabalhos do meu irmão, pois ele, decididamente, odiava a estudar.
-Claro! Seja bem vinda. - os dois me respondem ao mesmo tempo.
Quando me aproximo e paro ao lado deles, sinto seu braço em volta da minha cintura. Um arrepio percorre o meu corpo. As ideias ficam meio confusas e paro por um momento. Ele se aproxima do meu rosto para me beijar. Fico estarrecida, completamente congelada. Clamo em pensamento: "Aqui não, por favor!" Então, ele posiciona seus lábios em meu rosto e me agracia com um beijo singelo, porém demorado.
"Ufa! Muito obrigada!" - agradeço ao céu, em pensamento.
Antes de se afastar, ele diz bem baixinho ao meu ouvido:
-Você está radiante, te amo cada vez mais! Isso é pra você. - e me entrega um envelope e o retribuo com um sorriso.
Minha mãe entra na sala e posso sentir o seu olhar sobre nós dois. Ela traz um lindo bolo de chocolate e o coloca sobre a mesa.
-Ann? Pode me ajudar com os pratos?
-Claro, já vou.
Corro até a cozinha. Minha mãe fica apenas me olhando. Não consigo distinguir se ela está me analisando ou se ela está apenas sorrindo.
-O que foi? - pergunto-lhe.
-Nada. Tem alguma coisa que eu deveria saber?
-Não sei! O que acha que deveria saber?
-Não posso afirmar com certeza, mas senti um certo "clima" lá na sala.
Fico corada e tento desconversar:
-Não sei do que você está falando.
-Tem certeza? Você sabe, sou sua mãe e você pode sempre confiar em mim.
-Eu sei mamãe! E, como não sei ao certo o que lhe responder, considere que estamos nos conhecendo melhor. - Sei! Melhor quanto?
-Ah! Mamãe, você sabe. Melhor você não contar nada para o papai, pois tenho medo da reação dele.
-Seu pai não é um monstro, querida. Ele é apenas um pouco ciumento.
-Eu sei mãe, mas tenho medo de que ele nos tire do colégio por causa disso, ou que reaja de forma ainda pior!
-Não falarei por enquanto, mas em algum momento ele terá que ficar sabendo, entende?
-Entendo e sei que você está certa, mas não agora, pode ser? Ainda não estou preparada.
-Está bem, pode ficar tranquila. O rapaz até que é bem bonitinho! - ela me diz e sorri
-Mãe!
-O que? Você não notou? - ela solta uma gargalhada.
-Está bem, mãe! Assim, realmente você me deixa sem graça.
-Para com isso e deixa de ser boba. Acho que ele gosta de você.
-Por que diz isso?
-Você não viu o olhar dele pra você? Parecem duas chamas.
Fico corada novamente. Pego os pratos, os talheres, mas quase os deixo cair, pois minhas mãos tremem incessantemente. Minha mãe diz:
-Calma! Agora leve isso tudo para a sala. Vou pegar o refrigerante e os copos. Depois chamarei seu pai para ir ao mercado. Talvez, assim você consiga parar de tremer e aproveita um pouco o sábado.
-É uma ótima ideia. Muito obrigada! - agora, mais tranquila, volto para a sala.
Assim que me vê novamente, ele me lança um olhar intrigado.
-Aconteceu alguma coisa? Por que demorou? - ele diz baixinho.
-Ela já sabe.
-Que bom! O que ela disse?
-Que você é bonitinho! - respondo-lhe baixinho.
Ele dá um sorriso.
-Que bom. E o seu pai? Ele já sabe?
-Não, ainda não. Acho que é melhor esperar mais um pouco.
Eduardo olha para nós e pergunta:
-O que vocês tanto cochicham?
Wagner olha para ele sorrindo.
-Acho que seremos cunhados!
Nesse instante, fico corada pela terceira vez hoje.
-Que legal! Por que não me contaram antes?
-Ann está muito insegura. Sua irmã não quer que seu pai saiba por enquanto, ela tem muito medo, por isso evitou falar sobre isso até mesmo com você, mas agora você já sabe. - responde Wagner.
-Entendo. O velho é bravo mesmo! Mas fiquem tranquilos, vou tentar amansar a fera pra vocês.
-Não, nada disso. Já falei com a mamãe. Vou esperar mais um pouco antes de contar.
-E o que vai fazer? Mês que vem será o seu aniversário, lembra? 15 anos! É lógico que vão fazer festa. Você não vai levar seu príncipe para a valsa?
-Caramba! Não havia pensado nisso. Tudo é tão novo na minha vida, que havia me esquecido! Todo ano, no meu aniversário, reunimos a família para uma festa. Nada grandioso, mas é sempre muito bom. Venho de uma família grande, unida e muito acolhedora. Não é preciso muita coisa para que um simples almoço vire uma festança.
Mas dessa vez vai ser diferente. Sou a única menina da casa, e completo 15 anos. Sou uma debutante. É lógico que será especial. Meu pai vai dançar a tão famosa valsa, que demonstra que deixo de ser uma menininha e começo a me transformar em uma mulher.
-Por que não me disse que será seu aniversário? - ele pergunta.
Respondo-lhe sorrindo:
-Eu verdadeiramente havia esquecido. Não sei se você sabe, mas ultimamente minha cabeça anda muito ocupada com certo cavaleiro.
Ele dá um sorriso e diz:
-Que ótimo! E ele vale a pena? - outro sorriso
-E como vale! - agora sou eu quem cai na risada.
-Tenho que reservar um terno ou devo considerar que não serei convidado?
-Não será um baile de gala, apenas um churrasco em família. Gosto de reunir a família e os amigos mais próximos, portanto, não será necessária nenhuma formalidade. É óbvio que está convidado, mas ainda não sei o que direi ao meu pai.
-Quer que eu fale com ele?
-Melhor não. Até lá resolverei essa situação.
-Está bem, mas espero poder dançar uma valsa com você.
Com um toque de cinismo e um sorriso malicioso, respondo:
-Vou ver o que consigo fazer por você, mas antes preciso conferir se tem algum espaço vago na minha agenda!
Ele agora vem na minha direção, me abraça com força, me beija como um vampiro sedento por sangue. Assim que me solta um pouco, encosta no meu ouvido e diz:
-Acho que terá que desmarcar alguns compromissos nesse dia, pois preciso que reserve algumas horas só pra mim!
-Acho melhor vocês dois se concentrarem nesse trabalho ou, no próximo ano, estaremos todos na mesma sala. - completa Eduardo.
-Tá bom, desculpe! Onde foi que paramos? Não querem um pedaço de bolo antes?
Os dois assentiram. Fui até o bolo, cortei alguns pedaços e servi. Passamos o resto da tarde entre trabalho, beijos, abraços, risadas. Foi o melhor sábado da minha vida até hoje. Abro o meu envelope, e lá está mais uma linda prova de amor do meu lindo cavaleiro.
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A Deusa do Mago - Uma história de Amor
RomanceAnna é uma garota ingênua, gordinha e sonhadora. Ao mudar de colégio ela se depara com Wagner, juntos eles vão viver uma emocionante história de amor, entrega. Com ele ela descobrira o primeiro amor. o primeiro beijo, a primeira decepção. A primeira...