-Já está ficando tarde, melhor você ir embora. Daqui a pouco meu pai chegará para me buscar.
-Não queria ir. Se pudesse passaria o resto dos meus dias ao seu lado. - ele diz.
-Teremos muito tempo. É apenas o começo.
-Já que é assim, então, irei. Promete que vai ficar bem?
-Claro que vou ficar bem, sempre fico!
-Então, estou indo, mas antes, quero o meu beijo de despedida.
Um longo beijo. Ele me solta.
-Até amanhã, minha Deusa - ele diz.
-Amanhã nos falamos, então - digo.
-Nos falamos? Não, amanhã venho te ver.
-Vou ficar mal acostumada desse jeito e não posso ficar matando aula, não estou mais no colegial.
-Não precisa de nada disso! Não preciso passar a noite toda com você, se bem que isso seria maravilhoso, mas algumas horas e já ficarei feliz. Não vou mais perder a oportunidade de estar perto de você. - ele diz.
Isso sem contar o fato de que, pelo jeito, há muitos gaviões em volta da minha presa. - ele diz sorrindo. - Está com medinho, é? - digo rindo.
-Medo? Não! Mas como diz o ditado "quem ama cuida!" - ele me beija novamente e vai embora.
Mais alguns minutos e já será o horário de saída da faculdade. Fico em frente à entrada, aguardando meu pai. Os alunos começam a sair. Gabriel para ao meu lado, enquanto seguro o meu buquê e diz:
-Boa noite!
-Boa noite, Gabriel! Pensei que você estivesse ficando surdo! - dou-lhe um sorriso, mas ele não sorri.
-Pensei que eu significasse "algo mais" para você.
-Do que você está falando? Cai na real, "Ga" - era assim que eu o chamava, "Ga".
-Sinto falta de você me chamando assim, "Ga". - Foi você quem me deixou, lembra-se?
-Não tive opção, eu te disse isso.
-Sempre se tem duas opções, Gabriel. A vida é feita de sins e nãos, idas e voltas, baixo e cima, tudo sempre tem dois lados e a escolha é sempre nossa. -Você fez a sua.
Ele me olha com um olhar triste.
-Como se fosse tão simples assim. Você não sabe de nada.
-Minha vida nunca foi fácil, Gabriel. Acordo todos os dias para correr atrás de tudo o que quero. Batalho, porque sei o que quero e quem quero ser. São as minhas escolhas. Também tenho pais e eles nem sempre concordam com as minhas escolhas. Mas, mesmo assim, sou eu quem as faz, não para afrontá-los, mas porque sou eu que vou ter de viver com o resultado delas. - digo. Ele me olha novamente, enquanto volto a dizer:
-Sou alguém que prefere correr o risco de errar a não ter a ideia do que poderia ter sido.
Meu pai estaciona do outro lado da rua.
-Boa noite, Ga. Fique bem - dou-lhe um beijo no rosto e tive a impressão de ter visto seus olhos marejados, mas não tenho certeza. Atravesso a rua e entro no carro.
Quando entro, meu pai está olhando para o buquê nos meus braços.
-Fizeram as pazes? - meu pai diz, já sorrindo. Acho que meu pai realmente gosta de Gabriel.
-Não pai! Não fizemos - digo.
-Então, por que das flores?
-Não são dele, pai!
-Não? Tem mais alguém de olho em você na faculdade?
-Não pai, não que eu saiba.
-É do trabalho, então?
-Não pai, não é do meu trabalho.
-O conheço?
-Sim pai, você o conhece.
-Quem é, então?
-Ainda não pai, quem sabe outra hora.
Meu pai me lança aquele olhar de quem não está nada satisfeito com o meu silêncio. Acho que, neste momento, o seu pensamento deve ser "quem não deve não teme".
-É tão ruim assim?
-Não pai, não é ruim. Ao menos eu acho que não. Mas, por ora prefiro me reservar. Se as coisas derem certo, te contarei, está bem?
-Tudo bem. Vamos para casa.
-Por favor.
Voltamos em silêncio. Chegando em casa, coloco minhas flores em um vaso sobre a cômoda do quarto. Elas ficarão ali para lembrar-me do meu cavaleiro.
O olhar que Gabriel me deu hoje me fez refletir. Desde que nos separamos, há alguns dias, não pensei que ele estaria arrependido, não dessa vez. Da outra vez em que terminamos, ele voltou tão rápido. Agora que vi a tristeza no seu olhar, fiquei confusa.
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A Deusa do Mago - Uma história de Amor
RomansaAnna é uma garota ingênua, gordinha e sonhadora. Ao mudar de colégio ela se depara com Wagner, juntos eles vão viver uma emocionante história de amor, entrega. Com ele ela descobrira o primeiro amor. o primeiro beijo, a primeira decepção. A primeira...