CAPÍTULO 32 - O REENCONTRO

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Com trabalho e faculdade não há semana que custe a passar, quase não tenho tempo pra nada. Muito trabalho e estudo, então, tudo passa voando.
Hoje é sábado. Estou no meio do ano letivo, cheia de provas, estudos e ainda tenho um encontro com meu antigo cavaleiro. - o pensamento me vem e a minha Deusa interior dá um saltinho.
"Quem está sendo boba agora?" - pergunto para ela. "Contenha-se, passado é passado!" Na verdade, nem sei por que aceitei o convite. Como diria a minha mãe, um é pouco, dois é bom, mas três é sempre demais. Ele já teve as suas duas chances.
Mas ele insistiu tanto, como resistir?
O dia passa lento. Meus pais viajaram e estou em casa sozinha. Começo a tomar um banho. Abro o frasco de xampu e me lembro daquela propaganda: "muita coisa mudou, mas os meus cabelos..." - E começo a rir, debaixo do chuveiro.
Depois de um belo banho, bem demorado, sinto-me uma nova mulher. Acho que ele vai ter uma surpresa, pois, não tenho mais aquele semblante de anjinho, de quando nos conhecemos. Vou até o quarto escolher minha roupa. Visto uma calça branca, de sarja e uma blusinha verde água, que realça a cor dos meus olhos. Tem um zíper na frente, que abre até em baixo, isso é bom, posso controlar o tamanho do meu decote. Coloco um colete jeans, uma botinha preta. Seco os cabelos, e me espanto com o seu comprimento. Está enorme! Acho que está na hora de cortá-lo. Agora a minha maquiagem é mais sexy, não uso mais gloss, como antigamente.
Gosto de realçar o verde dos meus olhos, então, vou para o espelho, pego o delineador preto, faço o contorno dos olhos e capricho no rímel para dar volume aos cílios. Acho que ficou bom. Passo um batom nude. Nada além
disso, não gosto de nada muito pesado, acho que maquiagem carregada envelhece.
Olho-me no espelho, acho que, num contexto geral, até que ficou bom. Olho para o relógio e já está quase na hora de sair. Moro a três quilômetros do shopping, vou a pé, pelo menos dará tempo de pensar no que vou dizer.
Desço a rua de casa, entro na avenida e sigo em frente por cerca de vinte minutos. Poderia ser mais rápido se eu apertasse o passo, mas, além de precisar de tempo para pensar, não quero chegar lá toda suada, como se tivesse acabado de sair da academia.
Chego ao shopping. Vou até o elevador e, enquanto ando, vou olhando as lojas. Acho que estou tentando enganar a minha Deusa interior. Ela aparece deitada num divã, apenas esperando para entrar em cena. Acho que quando o encontrar, ela talvez surte, pobre coitada. Há alguns anos atrás, seria ela quem estaria gritando comigo.
"Quero ver quem é a tola agora" - digo pra ela. Em seu divã, muito da mal educada, ela me mostra a língua.
Quando entro no corredor que dá acesso aos elevadores, vejo um homem encostado na parede e, mesmo depois de cinco anos, sei muito bem quem é. Ele está diferente. Não tem mais aquela aparência de menino, agora é um homem, com seus vinte e dois anos. Seu rosto está limpo, mas posso ver a sombra cinza de quem tem uma barba bem fechada. Não usa mais franja sobre a testa, está mais alto, mais forte. Acho que realmente cinco anos mudam muitas coisas.
Parece meio impaciente. Será que acha que não vou aparecer? Quando ele nota a minha presença, sinto que seu corpo se contrai. Olhamo-nos por alguns segundos, sem trocar uma só palavra. Acho que ele está analisando as mudanças do tempo. De repente, seu semblante muda e ele dá um sorriso. "Nossa! Tinha esquecido como esse sorriso me cativa". Sorrio de volta. - Oi, minha Deusa!
-Olá Wagner, quanto tempo!
-Muito mais do eu que gostaria.
-Você está diferente... - digo.
-E você está ainda mais linda do que me lembrava.
-Fico feliz que não tenha ficado decepcionado.
-Como poderia me decepcionar?
-Cinco anos não são cinco dias, não é?
-Essa frase é minha! - ele ri.
-É mesmo, tenho a péssima mania de roubar os bordões alheios! - dou um sorrisinho.
-Nossa!
-O que?
-Você não sabe quanto tempo esperei para ver esse sorriso novamente.
-Acho que faço ideia. - digo.
-É verdade, acho que faz ideia mesmo!
-Bem, para onde vamos? - pergunto.
-Por aqui. - ele dobra seu braço e o estende a mim. A cena me parece muito familiar. É como voltar no tempo, mas não posso me deixar enganar, não somos mais dois adolescentes e não acredito mais em contos de fadas.
Aceito seu braço e, como de costume sinto que me puxa um pouco mais para perto dele. Uma corrente elétrica de alta tensão passa por entre nossos corpos. Faz muito tempo que isso não acontece e minha Deusa interior grita em seu divã: "Acho que faz tempo demais!". Então, ele me olha e pergunta:
-Algum problema?
-Não. Apenas pensamentos.
-Estou neles?
-É o que parece, não é mesmo?
-Bom saber que está pensando em mim. Espero que sejam lembranças boas.
-Por enquanto são. Espero que a noite termine assim.
-Não vamos brigar, combinado?
-Não vim para brigar.
-Quero apenas explicar as coisas que aconteceram, pois, nunca tive a chance, lembra?
-Foi por isso que vim.
-Então, se anime! Vamos tomar um chopp?
-Você já pode beber? - digo dando uma risada.
-Pelo jeito você ainda é mesma boba de sempre!
Olho para ele e mostro a língua.
-Certas coisas, nem o tempo é capaz de mudar. - digo. Agora ambos rimos.
Entramos em um barzinho.
-Vamos lá para cima? - ele diz apontando para o mezanino.
-Por quê? Não está bem aqui embaixo?
-Até estaria, gostaria muito de exibi-la para todos, mas acho que podemos acabar encontrando alguém conhecido e não gostaria que ninguém interrompesse a nossa conversa, acho que temos muito que dizer um para o outro.
-Tudo bem.
Então, ele me dá sua mão e conduz-me escada acima. Nesse momento, lembro-me de quando juntos subimos a escadaria do colégio pela primeira vez. Meu pensamento voa longe.
-Terra chamando! - ele brinca.
-Desculpe-me.
-Você costuma ficar divagando em pensamentos?
-Não! Mas também não é sempre que nosso passado volta.
-É verdade, temos muitas coisas para relembrar. - ele diz.
-Mas temos muitas coisas que devem continuar esquecidas! - digo e ele me olha com um olhar que já conheço.
Ele solta a minha mão e puxa uma cadeira. Minha Deusa interior grita: "Olha, ele continua um cavalheiro!", então, digo em pensamento: "Algumas coisas nunca mudam". Sento-me, ele puxa uma cadeira em frente a minha e agora olha nos meus olhos.
-Nossa! Você não imagina o quanto sonhei com esse momento! - ele diz.
-Sério?
-Você não tem ideia! Você nunca pensou em mim?
-Claro.
-Por que nunca me procurou? - ele diz.
-Lembra, ainda moro no mesmo lugar. Quem foi embora foi você.
-É verdade. Mas, depois de tudo, não sabia se você gostaria que te procurasse.
-E o que mudou?
-Não sei. Quando encontrei o Eduardo essa semana, uma luz de esperança acendeu dentro de mim. Mas quando não quis dar seu telefone, achei que você estava namorando.
-E estava, lembra?
-Ainda bem que "estava", não está mais! - ele sorri.
Isso importa?
-Claro! Se você estivesse namorando, com certeza hoje não estaria aqui e todas as minhas esperanças estariam perdidas.
-É verdade. Mas acho melhor as suas esperanças pararem aí! - digo.
-Você nunca ouviu dizer que enquanto há vida, há esperança? - ele me pergunta, sorrindo.
-O que você está tentando? Acha que pode me comprar com esse sorriso? - sorrio de volta.
-Será que posso?
-Vai ter que tentar bem mais que isso!
-Temos a noite toda! - ele ri - Bem, você ainda tem que fazer o seu interrogatório, lembra?
-É mesmo! Havia esquecido.
-O que quer saber?
-Bem, vamos lá, então. Como está a sua família, sua mãe, seu pai, seus irmãos? Sua sobrinha já deve estar uma mocinha, quantos anos agora, uns seis?
-Você realmente quer falar sobre a minha família? - ele sorri.
-Tenho que começar por alguma coisa, não acha?
-Certo. Estão todos bem. Ficaram muito sentidos quando nós terminamos. -Eles gostavam mesmo de você, mas afinal, quem não gosta?
-Posso te dar uma lista de nomes se quiser! - sorrio.
-O que mais gostaria de saber?
-O que você tem feito da vida?
-Para ser sincero, depois que terminamos fiquei revoltado. Quando saí do colégio, resolvi abandonar tudo, parei com os estudos e resolvi tentar esquecer.
-Então, não terminou o colegial?
-Faz um ano que voltei, termino esse ano, entrei no supletivo.
-Que bom que voltou, mas é uma pena que tenha perdido tanto tempo.
-Também acho, mas como você disse, eu precisava amadurecer.
-Homens! Vocês deveriam crescer mais rápido! - digo rindo.
-É, eu sei. Mas se tem uma coisa boa é que aprendi com os meus erros.
-Aprender é sempre bom. Então, você tem uma namorada? - eu digo.
-Nossa! Boa pergunta! Achei que você não tocaria no assunto... - ele ri - -Pensei que você estava achando que, depois que terminamos, eu havia virado celibatário.
-Quem está sendo bobo agora, hein? - sorrimos.
-Bem, depois de dois anos vivendo a minha própria crise existencial, conheci alguém. Eu precisava dar um rumo para a minha vida, então, depois de um tempo juntos ficamos noivos e, depois, ela foi morar lá em casa.
-Puxa, você é oito ou oitenta!
-Na verdade, acho que sou intenso. Há algum tempo que rompemos e ela segue a vida dela.
-É uma pena.
-Nesse momento não acho que tenha sido. Mais perguntas?
-Acho que por ora é o suficiente.
-Bem, queria falar sobre o futuro, mas acho que para chegar a esse assunto, primeiro tenho que resolver alguns assuntos pendentes desses cinco anos. -Pode ser?
-Tem certeza que quer remexer no passado?
-Acho necessário.
-Que assim seja, então!
-Vou dar a minha visão do que aconteceu, espero que você ouça sem ficar brava ou querer ir embora, depois gostaria de saber a sua versão. -Combinado?
-Tudo bem.
-Primeiro: sempre amei você e quero que isso fique bem claro. No dia em que tudo aconteceu, tive uns problemas em casa, o que me fez atrasar pra te encontrar na entrada do colégio. Quando cheguei, faltava pouco para o sinal tocar e sabia que você já devia estar na sua sala. Estava super feliz, estávamos tão bem, principalmente por que aquele, como é mesmo que eu o chamava? Lembreime, aquele "indivíduo", como era mesmo o nome dele?
-Thiago. - digo rindo.
-Isso! Achei que aquele indivíduo havia se tocado que ficar longe de você era a melhor coisa a se fazer e, quando cheguei à porta da sua sala, então, o vi. -Ele parecia um polvo, mantendo seus tentáculos todos em cima de você. Em princípio, pensei em ir até lá e quebrar a cara dele, mas algo me deteve.
-O que?
-Você.
-Eu?
-É. Você!
-Como assim, eu?
-Pensei em ir até lá. Nossa! Certamente, iríamos parar numa delegacia. Mas olhei para você e o que me doeu foi ver que você estava adorando, então fiquei ali, assistindo àquela cena por muito tempo, uns dez minutos, talvez. -Ele te agarrava, te enchia de beijos e você ria, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Era como se você fosse namorada dele e não minha.
-Não foi bem assim, você entendeu tudo errado. Quando tentei explicar, você simplesmente sumiu
-Como poderia ficar ali? Estava com ódio, queria acabar com ele e o pior foi não saber o que dizer a você.
-Te procurei, liguei, mas você não atendia. Depois tem aquela mulher, a "amiga".
-Quando saí de lá, estava completamente desorientado, cego de ódio, então, saí sem rumo, não sabia para onde ir, não sabia com quem conversar. -Cheguei em casa, entrei para o quarto, bati a porta. Queria ficar sozinho. Foi, então, que alguém entrou. A Eli, minha amiga, havia ido ver a minha mãe naquele horário porque imaginou que eu não estivesse em casa e, de fato, eu não deveria estar mesmo. Ela gosta da minha mãe e não me sinto no direito de interferir na relação delas, apenas procurei me afastar porque estava namorando você e a presença dela já havia causado problemas para nós. -Perdoe-me, mas naquele momento não deu para pensar nisso tudo, pois eu estava me corroendo de tanta raiva.
-Como pode?
-Então, quando ela viu o meu estado, tentou conversar comigo, mas não foi possível porque eu estava dando socos nas paredes para botar para fora toda a minha raiva. Ela viu o meu desespero e me chamou para sair, para esfriar a cabeça, tentar esquecer a cena que eu havia presenciado, mas, principalmente, para que mais ninguém me visse daquela forma. Naquele momento, realmente precisava muito esquecer o que vi. Então, saímos, bebemos e coloquei todos os meus medos e frustrações para fora. Ela apenas me ouviu. Mas em certo momento, já estava bêbado e, depois de tudo que contei, ela acabou ficando com muita raiva de você. Confesso que ela tentou de tudo para ficar comigo, mas recusei. Estava bravo, muito bravo, mas não era ela quem eu queria. Queria apenas e tão somente você.
-Então, por que ela me ligou no meio da noite? Disse que você estava dormindo com ela.
-Precisei ir ao banheiro, você sabe, muitas cervejas, bexiga cheia e cerveja é um diurético, então, quando voltei, vi que ela falava ao meu celular. A princípio não pensei que fosse justamente com você e nem poderia imaginar. -Quando percebi o tom e o teor da conversa, a minha reação foi instantânea e tirei o telefone dela, mas já era tarde demais. Você já não queria me ouvir e eu não sabia o que ela havia lhe dito. Quando você desligou, fiquei com mais raiva ainda. Deixei-a lá no bar e nunca mais nos falamos, pois, ela tirou de mim aquilo que eu mais amava. Ela conseguiu tirar você de mim! - Depois de tudo, você ficou dias sem aparecer no colégio, não atendia as minhas ligações, não respondia às minhas mensagens. Fiquei apenas tentando imaginar o que ela poderia ter lhe dito para que você se isolasse de mim, não apenas de mim, mas de tudo.
-Você poderia ter ido até a minha casa.
-Como eu poderia? De que forma seria recebido por você e pela sua família? -Havia errado uma vez e você já havia me perdoado, então, como poderia te pedir perdão novamente? Como agravante, ainda teve aquela garota da sua sala, a Cristiane, era esse o nome dela, não era? Soube que ela inventou horrores a meu respeito e foi falar para você.
-É verdade, ela era a minha espiã. Estava sempre de olho no que você estava fazendo. Mas você poderia ter tentado.
-Teria mudado a sua decisão?
-Sinceramente, acho que não. Aquilo tudo acabou comigo na época.
-Tinha também aquele indivíduo. Nossa! Ver você entrando e saindo do colégio todos os dias com ele era como uma faca sendo cravada no meu peito. Tentei me aproximar, mas achei que você estava melhor sem mim.
-Melhor sem você?
-Sim, você parecia estar tão bem. Então decidi deixar você em paz, mas não suportaria ficar ali, apenas olhando aquele indivíduo te conquistar. Vê-lo com você, realmente me mataria, então, resolvi ir embora. No último dia, quando fui me despedir de você, ainda havia em mim uma fagulha de esperança. -Achei que se você percebesse que eu ainda te amava, talvez você pudesse voltar. Mas quando te pedi um último beijo e você me negou - lembra? - entendi que o melhor que eu poderia fazer era mesmo ir embora.
-Claro que me lembro, mas não poderia começar tudo de novo. Entende?
-Entendo. Mas as minhas esperanças morreram ali. Então, fui embora e tentei esquecer, mas nunca consegui. Você foi o meu primeiro amor, o mais puro. Você teve o melhor de mim, algo que nunca fui capaz de dar a ninguém, antes ou depois de você.
-Primeiro? Então tiveram outros.
-Nesses cinco anos conheci diversas pessoas, mas nunca consegui esquecer você completamente. Você, certamente, teve outros amores, não é mesmo?
-Alguns.
-Entre eles, aquele indivíduo?
-O Thi? Não, nós sempre fomos amigos! Acho que agora você poderá entender que jamais existiria algo entre nós. Depois que o fiz entender que nada aconteceria entre nós, além de uma grande amizade, acredito que as suas próprias visões se clarearam. Creio que ele achava que gostava de mim porque eu conseguia fazê-lo sentir-se bem, pois ele não costumava se sentir "à vontade" com "garotas", mas comigo era diferente. Mas ele estava lutando contra sua natureza. Eu não fazia parte da sua opção sexual, se é que você me entende! Naquele dia, ele me disse que estava namorando e que me apresentaria seu namorado.
-Ele era Gay? - Wagner pergunta com espanto
-Não era. Ele é. Mas nem ouse fazer piadinhas, pois ainda é meu melhor amigo.
-Nunca poderia imaginar, em pensar que tudo acabou por causa de um G...
-Não ouse! - digo - Bem, você contou seu lado de tudo isso, então, está pronto para ouvir o meu?
-Acho que sim.
-Tudo bem, então, vou começar: Naquele dia, havia decidido que tinha que fazer as pazes com o Thi, pois, já estava mais do que na hora de resolvermos essa pendência, afinal, ele era meu amigo, estava ao meu lado quando você não estava e não era justo que eu perdesse a amizade dele por causa do seu ciúme. Já estávamos há muito tempo sem nos falar, nem mensagens de texto ele me enviava mais. Passou a sentar-se longe de mim e isso estava acabando comigo. Nós éramos amigos, caramba! Então, quando cheguei ao colégio e você não estava, pensei que seria o momento mais oportuno para ir falar com ele, pelo menos não brigaria ou magoaria você. Quando cheguei à sala ele já estava lá, então, fiz uma brincadeira com ele. Nesse tempo em que não conversamos, ele me mandou algumas mensagens de texto e foram as poucas vezes em que trocamos algumas palavras. Ele dizia que estava tentando me esquecer e que, com o tempo, voltaríamos ao que éramos: AMIGOS, mas que, enquanto isso, ele estaria contabilizando todos os beijos e os abraços que deixou de ganhar de mim durante esse tempo. Quando decidi que aquele dia seria decisivo para a reconciliação da nossa amizade, simplesmente cheguei, abracei-o e comecei a dar-lhe os beijos que estava devendo. A princípio, pensei que ele ficaria bravo, mesmo assim, decidi arriscar. Mas ele entendeu e, então, fizemos as pazes. Ele decidiu que voltaria para perto de mim, pegou suas coisas e voltou para sua carteira. Mas
não era apenas eu quem estava em débito de abraços e beijos, ele também me devia, por isso que ele estava abraçado comigo e me enchendo de beijos. Foi apenas uma grande brincadeira entre dois amigos que estavam com saudades um do outro. Quando vi você parado na porta da sala, sabia que você havia entendido tudo errado, mas você não me deixou explicar nada. Você me deu as costas e foi embora e não consegui te alcançar. Você não atendeu às minhas ligações e eu entrei em pânico, não sabia o que estava acontecendo com você. A aula terminou e tive que ir pra casa, mas demorou muito, até que eu conseguisse dormir. No meio da madrugada o meu celular tocou e pensei que fosse você. Atendi, querendo me explicar, mas lá estava ela, a sua "amiga". Ela me disse que se falasse ou chegasse perto de você, ela mesma acabaria comigo. Inicialmente, pensei que fosse mentira ou algo parecido. Pensei que ela pudesse ter roubado o seu celular, mas ouvi a sua voz chamando por ela e isso acabou comigo. Ela disse que vocês estavam dormindo juntos. Eu não poderia aguentar aquilo, ainda mais quando você falou ao telefone e pude perceber que estava bêbado, então, para mim, aquilo foi o fim. Fiquei alguns dias em casa, pois, não podia olhar para você e não pensar em tudo o que ela disse. Troquei o número do meu celular porque não queria te ouvir. Depois de alguns dias de ausência, precisei voltar ao colégio. -Você teve uma semana para me procurar em casa, mas você não veio. Não queria mais sofrer, então, decidi que tudo aquilo acabaria. Quando as aulas reiniciaram após as férias, todos os dias te via de longe, sem me aproximar. A -Cris sempre me informava o que você andava fazendo e com quem você estava. Mas Thiago não queria mais me ver sofrer por sua causa, então, decidiu que deveria "blindar-me" para que você não pudesse chegar perto de mim. Eles eram testemunhas do quanto eu estava sofrendo, mesmo depois de tanto tempo. Os dias foram se passando e fui deixando que as coisas permanecessem assim. Quando me disse que ia embora, não queria, mas sofri. Mesmo sabendo que não estávamos juntos, podia ao menos ver você todos os dias. Quando me pediu um último beijo, tive que me segurar para não me jogar nos seus braços. Precisei ser muito forte para não me entregar, pois, não aguentaria passar por tudo aquilo novamente, afinal, eu era apenas uma menina.
-Me desculpe, estraguei tudo, não é mesmo?
-Acho que sim. - digo com certo pesar.
-Depois de ouvir tudo isso, depois de ver que tudo não passou de uma série de enganos, será que você poderia me perdoar? - Wagner me pergunta, consternado.
-Perdoar? Não tenho que te perdoar. O tempo passou, levou tudo embora, tristeza, mágoa, tudo.
-Amor? - agora ele me olha nos olhos.
-Acho que sim.
-Eu preciso conferir se isso é verdade. - ele diz.
Então, ele arrasta sua cadeira e a posiciona ao meu lado. Agora estamos realmente muito próximos. Posso sentir o calor de sua respiração. Ele olha nos meus olhos, aproxima-se, tento me esquivar, pois, antevejo o que vai acontecer. Mas minha Deusa interior grita, assistindo de camarote, em seu divã: "Fique".
Ele coloca a mão no meu pescoço para evitar minha tentativa de fuga, se aproxima e me beija. Como se fosse nosso primeiro beijo, começamos devagar, mas depois ele me invade e sinto meu corpo se perder. Nossas bocas se encaixam perfeitamente - penso - com nenhum outro jamais foi assim. Ele passa sua outra mão pela minha cintura e me puxa para ainda mais perto do seu corpo. Não sei dizer por quanto tempo ficamos assim.
Quando ele para de me beijar, mas ainda me segurando junto a ele, olha nos meus olhos e diz:
-Não vê, minha Deusa? Sempre foi você!
Fico em silêncio, não sei como reagir a isso. É como se eu voltasse aos meus quinze anos, mas não sou mais aquela menina boba, não posso ser. Mas sou... Eu o quero! - Você vai ficar calada? Quer ir embora? Perdoe-me! Eu não...
Então, agora sou eu que agarro em seu pescoço, e como não sou mais aquela menininha inocente de anos atrás, puxo-o mais forte e dou-lhe um beijo daqueles que esperam anos para serem dados. Não quero parar. Faz tanto tempo...
Quando paro e ele me olha, parece embriagado. Mas dessa vez não é o chopp que o deixou tonto, Dessa vez fui eu!
-Minha Deusa, você voltou! Há tanto tempo que te espero. Pensei que jamais teria a oportunidade de ser feliz novamente.
Sem saber o que dizer, apenas lhe dou um sorriso e voltamos a nos beijar.

A Deusa do Mago - Uma história de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora