CAPÍTULO 8 - A DESCULPA

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Mais um dia longo, está quase na hora de sair para o colégio, mas diferentemente de ontem, hoje não tenho vontade de me arrumar. Sei que estou sendo ingênua, então tomo o meu banho, me enfio em uma calça jeans qualquer, visto uma camiseta, passo meu perfume e vou para o colégio. Nada além do que a velha e boa Anna que todos conhecem e que ninguém admira.
Subo as escadas e fico triste ao notar que ele não está lá. Algo dentro de mim arde, quase queima, como se as últimas esperanças de uma tola adolescente estivem sendo atiradas numa fogueira. Meus olhos marejam.
Apresso o passo para chegar à sala, não quero desmoronar ali. "Menina tola, eu avisei", diz a voz dentro de mim.
Entro na sala como um relâmpago em dia de chuva, sento-me em meu lugar, estou tão absorvida pelo sofrimento desse momento que nem me lembro do meu amigo urso, que agora me olha com um olhar sério.
-Aconteceu alguma coisa? O que você tem?
-Nada! Apenas devaneios de uma garota boba!
Ele dá um sorriso lindo e diz:
-Cadê meu beijo e abraço do dia?
Logo se levanta, me puxa para seu lado e me abraça como se eu realmente estivesse precisando de um abraço. Acho que ele sabe que eu realmente preciso.
A aula começa. Filosofia, uma novidade para mim. Sempre achei que gostaria, mas acho que nesse momento minhas frustrações estão grandes demais para eu gostar de qualquer coisa. No meio da aula, Thiago se vira e diz:
- Desculpa, já ia esquecendo... Deixaram isso sobre a sua mesa pouco antes de você chegar, eu guardei com medo de que você não viesse. Olha!
Nesse momento, ele me entrega um pedaço de papel. Ao abrir, meus olhos brilham, minha boca seca e a chama em meu coração apagada há pouco tempo, viu surgir uma nova brasinha, pequena, mas calorosa.

Querida D,
Fiquei esperando por você no intervalo de ontem. Acho que você tinha coisas melhores para fazer do que conversar com um cara chato como eu! De qualquer forma senti sua falta!
Beijos,
Wagner

A princípio, imagino que aquele recado não é para mim, não fosse a coincidência do intervalo e de quem o enviara. Mas querida D? Nossa, será que nem o meu nome alguém é capaz de guardar direito? Devo realmente ser insignificante.
Mas fico feliz com o resto da mensagem. Ele sentiu minha falta, parece-me impossível. De qualquer forma, nesse intervalo saberei a verdade. Estou disposta a colocar minha consciência de lado e acreditar por um momento que é real.
Não sei se pela ansiedade, mas dessa vez o sinal para o intervalo demorou a tocar. Irei até ele, devolverei o bilhete e direi que o encontrei, mas não sei a quem entregá-lo.
O sinal toca. Estava me levantando, quando dentro de mim a minha querida amiga má não para de falar: "vai passar vergonha, fazer papel de boba, não vá, aceite o que você é".
Tenho que criar coragem, então, fecho a porta da minha consciência e me coloco de pé. Vou avançando a caminho da porta quando ele surge à minha frente.
Lá está ele, o meu cavaleiro com seu escudo negro. Quando me vê, abre um sorriso largo e encantador, que retribuo instintivamente e com a mesma intensidade.
-Oi! Você está disponível nesse intervalo, ou vou ter que te disputar com o seu namorado?
-Como?
-Achei que íamos conversar ontem, mas você não veio. Ele é ciumento? Não deixa você ter amigos?
-Não entendo?
-O rapaz alto, abraçado a você ontem...
-Ah - um sorriso escapou dos meus lábios - ele não é meu namorado. Apenas meu amigo "urso".
-Não parecia apenas um amigo, acho que ele gosta de você!
-Não, isso não é possível.
-Por que não? - perguntou-me com um olhar inocente.
-Os garotos não gostam de garotas como eu, só sou boa como amiga. Para namorar eles preferem as magrinhas e bonitas - esse pensamento doeu dentro de mim.
-Isso não é verdade, minha cara. Você é muito namorável! - ele abre um imenso sorriso. - E é muito bom saber que você não tem namorado!
-Acho que esse bilhete é seu! - entrego-lhe o pedaço de papel. - Não sabia para quem entregar, vim devolver!
-Era para você! Você não notou?
-Desculpe, mas acho que você esqueceu meu nome, pois é Anna ou, se quiser, Ann. Quando li D, achei que não era comigo.
Ele dá um imenso sorriso, quase uma gargalhada. Sinto como se eu estivesse sendo boba ou coisa assim. Ele me devolve o bilhete, me dá um abraço longo e apertado, um beijo demorado na bochecha e aproveita para dizer ao meu ouvido:
-Acho que para mim, você será para sempre a minha D.
Meu corpo arde com a proximidade. Dou um sorriso, sem saber direito o que aquilo quer dizer, mas pela forma com que ele falou, pelo seu sorriso e, sobretudo, pelo seu olhar, só posso concluir que seja algo muito bom.
É bom sentir sua proximidade, o seu respirar junto ao meu ouvido, então, devaneio em pensamentos.
O sinal toca novamente e é hora de voltar para a aula. Ele olha para mim com aquele olhar que me derrete, se aproxima novamente e me dá um beijo um pouco mais perto do que deveria, e diz:
-Nos vemos na saída, foi muito bom falar com você, minha cara. É bom saber que ele não é seu namorado.
Ele vai pelo corredor em direção a sua sala e eu fico observando meu cavaleiro derrotar o moinho. Antes de entrar em sua sala ele olha novamente para mim e, lendo os seus lábios, posso ver que diz:
-Você é muito namorável, minha D.!
"Cupido bobo, pare de criar ilusões!"
Volto para a aula com uma felicidade que não conhecia. Tento me entreter com as lições e as discussões, esperando que a aula acabe. O sinal toca e quando olho, ele está novamente à porta da sala. Sorrindo como nunca.
Levanto-me para ir a sua direção, mas sou detida por um par de braços de urso, que me tomam em sua volta, um beijo estalado na minha bochecha e, então eu ouço:
-Até amanhã, minha amiga linda! Tenha uma boa noite!
Eu sorrio de volta, tentando me desvencilhar.
-Até amanhã, Thiago! Tenha uma boa noite você também!
Olho apressada para a porta, com a triste certeza de que meu cavaleiro não estará mais lá, mas, para a minha felicidade, estou enganada. Ele permanece ali, à minha espera, encostado no batente da porta, mas seu lindo sorriso já não está mais em seu rosto.
-Olá novamente! - ele disse.
-Oi!
-Acho que você está se subestimando.
-Como?
-Acho que alguns garotos, assim como eu, também acham você muito namorável! - ele disse.
Eu sorrio, mais que o habitual.
Ele me oferece o braço para que possamos descer a escadaria. Aceito de imediato e, de repente, me sinto segura e envolvida, como uma dama salva por um cavaleiro, me sinto a Rapunzel, jogando as tranças para que seu príncipe suba à sua torre.

A Deusa do Mago - Uma história de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora