Ressaca moral com felicidade

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De manhã, telefono para Leila e explico que não estou de ressaca, mas enfrentado alguns probleminhas pessoais e que chegarei atrasada. Muito gentil, ela me diz para tirar o dia de folga e descansar.

– Descanse e termine sua candidatura à vaga porque, querida, o prazo termina amanhã.

Estou perdendo o dia da camisa amarelo-claro. É a cor do quarto de um bebê quando seu gênero ainda é surpresa.

É a cor da minha alma covarde.

Ontem à noite, depois que Simone me deixou, seu rosto se repuxava com culpa e pesar mas, mesmo assim, eu me arrumei e comecei a aproveitar a noite com Pacheco.

Temos algumas coisas em comum. Seus pais têm uma fazenda como hobby, então revelar que cresci em meio a morangos não atraiu todo aquele sarcasmo costumeiro.

Isso me animou a conversar mais sobre assuntos que eu conversaria normalmente. Dividimos histórias da vida rural. Divertimo-nos durante horas, rindo como velhos amigos, tão confortáveis quanto um par de chinelos surrados.

Eu deveria estar feliz e animada. Deveria estar dando os toques finais em minha candidatura à vaga. Deveria estar pensando em um segundo encontro. Mas acabo fazendo o que não devia. Deitada na cama e com os olhos fechados, revivo aquele beijo.

"Moranguinho, se estivéssemos flertando, você saberia."

Talvez ela tenha se esquecido de que eu sou Soraya Thronicke, a Moranguinho que adora agradar aos outros. Talvez eu tenha me transformado em algo diferente por causa dessa mulher. Um espaço fechado, maquiagem distinta, vestido curto e perfume fresco... Em um momento dominado pela insanidade, fui objeto de sua luxúria durante o tempo necessário para percorrer do décimo andar ao subsolo. E ela definitivamente foi o meu fundo do poço.

Eu precisava testar uma teoria na qual venho pensando há algum tempo.

Qual teoria? E quanto tempo é "algum tempo"? Se eu fui uma espécie de experimento humano, ela poderia ter pelo menos a decência de me comunicar suas conclusões.

Quando penso em seus dentes mordiscando meu lábio inferior, sinto a região entre minhas pernas latejar. Quando penso em sua mão na parte de trás da minha coxa, tenho que encostar ali para sentir onde seus dedos se abriram. E aquela rigidez no corpo dela? Fico um instante sem respirar. E me pergunto qual teria sido meu sabor em sua boca. A sensação que transmiti.

Às 15h, ainda estou de pijama, paralisada pelo prazo da minha candidatura, e é então que a campainha me dá um susto.

Meu primeiro pensamento é que Simone está aqui, veio me arrastar para o trabalho. Mas logo descubro que é um entregador trazendo flores. Um enorme buquê de rosas vermelhas. Abro o pequeno envelope e o cartão diz três palavras: Você é sempre linda.

Não está assinado, mas nem precisaria estar. Já posso imaginar o rosto de Marina se suavizando enquanto ela entrega a Pacheco um post-it com meu endereço e murmura: "Para todos os efeitos, nunca fiz isso para você". Até as funcionárias do RH quebram as regras em nome do amor.

Envio uma mensagem de texto para ele: "Muito obrigada!!"

Ele responde quase imediatamente: "Eu me diverti muito. Adoraria vê-la outra vez."

E eu envio: "Sem dúvida!"

Levanto-me, apoio as mãos na cintura e olho para as flores. A inflada em meu ego não poderia ter vindo em um momento melhor.

Concentro-me outra vez no computador. Esse trabalho vai ser meu. E Simone vai dar o fora da empresa.

– Vamos resolver logo isso. – Falo comigo mesma.


















Oi moranguinhos, quero saber a opinião de vcs através das estrelinhas. Considero como incentivo para continuar. 😙

Jogo do amor - ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora