...
– Oi – Pacheco cumprimenta quando saio do elevador.
Está segurando um buquê de margaridas brancas. Minhas emoções se equilibram em uma corda bamba, uma mistura de deleite e constrangimento.
Ele parece estar na corda bamba comigo. Eu teria de estar cega para não notar a surpresa em seus olhos.
Por mais suada e nojenta que eu estivesse na sexta-feira, eu ainda tinha uma aparência melhor do que isso.
Rodrigo disfarça sua reação e me presenteia com as flores.
– Tem certeza de que não é melhor você ficar em casa?
– Pareço estar pior do que realmente me sinto. Será que devo...?
Aponto para o elevador. Ele me olha outra vez. Está usando uma camiseta da turnê do Matchbox Twenty e seus óculos de sol têm uma moldura feia.
Ficamos parados, sem saber o que fazer, olhando um para o outro.
– Você pode colocá-las na sua mesa no trabalho.
– Está bem, farei isso.
Parece uma ideia ruim e eu fico agitada. Se eu subir com as flores, terei de convida-lo para ir comigo.
Saímos na calçada e eu respiro minha primeira lufada de ar fresco em dias.
Preciso dar um jeito nessa situação.
Rodrigo só mostrou consideração por mim agora de manhã. Protejo os olhos do sol.
Talvez eu também possa demonstrar consideração. Talvez a loja de conveniência venda algo que simbolize a paz?
– Preciso buscar uma coisa. Já volto.
Enquanto pago o presente de Simone e um laço bastante caro, vejo Rodrigo pacientemente esperando encostado ao carro.
Enfio o presente na bolsa e atravesso correndo a rua.
Ele abre a porta de sua SUV vermelha e me ajuda a entrar. Vejo-o dar a volta pela frente do carro.
Agora usando roupas casuais, parece mais novo, mais magro e mais pálido.
Enquanto fecha o cinto de segurança e dá a partida, percebo que não o agradeci direito pelas rosas vermelhas. Sou uma garota sem modos.
– Eu amei as rosas.
Olho para o buquê em meu colo.
– As margaridas? – E começa a dirigir.
– Sim, essas são margaridas. Uma boa escolha para alguém que está se
recuperando de um fim de semana de vômitos épicos.
Queria não ter dito algo tão nojento, mas ele dá risada mesmo assim.
– Então. Simone Tebet... Qual é a dela?
– O demônio enviou sua única filha à terra.
Sinto uma culpa estranha.
– Ela tem aquele jeito de um irmã mais velha, toda protetora.
Rodrigo está jogando verde, já percebi.
Não o deixo colher maduro:
– Ah, é?
– Sim, sim. Mas não se preocupe. Vou explicar a ela que minhas intenções são honráveis – diz, lançando um sorriso para mim.
Porém, uma sensação de profundo desapontamento começa a ecoar por mim. Aquela centelha do flerte se apagou em meu peito.
Eu sou como uma irmã mais nova de Simone?
Não é a primeira vez que uma garota me trata como irmã mais nova e frágil.
Um constrangimento antigo também se espalha por mim.
Ela me beijou no elevador e o beijo vai contra essa teoria. Mas nunca mais tentou nada, então talvez seja verdade. Lembro que contei a ela como o beijo no elevador foi gostoso e estremeci.
– Ela não me contou que você tinha ligado. Obrigada por se preocupar.
– Imaginei que ela não fosse passar os meus recados. Mas não importa. Gostaria de sair outra vez com você. Dessa vez, para jantar. Você está com cara de quem precisa de uma boa refeição.
Tenho de apreciar sua perseverança diante de minha esquisitice e aparência atual. Só porque desenvolvi uma fascinação por Simone não quer dizer que eu deva recusar esse convite.
Olho para Rodrigo. Se eu tivesse lançado uma lista de desejos na lareira, ele seria o cara que Mary Poppins teria me trazido.
– Um jantar em algum momento seria legal.
Rodrigo estaciona na zona azul e eu explico que é um visitante. Quando as portas do elevador se abrem, percebo, tarde demais, que ele me acompanhou até o décimo andar.
– Obrigada.
Ele me acompanha e me dá um puxão, me forçando a parar.
– Pegue leve hoje.
Ajeita a gola do meu casaco e seus dedos se esfregam na minha garganta.
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Jogo do amor - Ódio
RomansaSoraya e Simone são completamente opostas, mas obrigadas a trabalharem juntas elas aprendem a conviver na base do jogo do amor ou ódio... Uma convivência que leva ambas a descobrirem sentimentos que antes não eram sequer possíveis e que transforma a...