Por que ela mandou as rosas?

174 30 5
                                    

Está bem, você venceu o jogo do beijo, Simone Tebet. Como eu previa.

Uma nuvem de tempestade se forma dentro de mim. Que noite mais tediosa. Que desperdício.

Mas a pior parte?

Se Simone não existisse, esse encontro teria sido bom, segundo os meus padrões.

Perfeitamente agradável.

Já passei por noites mais tediosas e beijos muito piores.

Muito embora a química não fosse a ideal, poderíamos ir construindo algo aos poucos.

Essa foi a única oportunidade em minha história recente, e ela foi arruinada.

Era como se Simone estivesse sentada em uma terceira cadeira em nossa mesinha romântica, observando tudo, julgando tudo.

Me lembrando de tudo o que eu perderia.

Quando olhei para a boca de Rodrigo, implorei para sentir alguma coisa.

Quando chego a ruas desconhecidas, encosto o carro e passo incontáveis minutos brigando com as configurações do GPS, meus dedos desajeitados pressionando todos os botões errados, um pedaço de papel azul entre os meus dentes.

Insulto a mulher do GPS com os piores nomes que me vêm à mente. Imploro para ela parar. Mas ela não para. A insuportável me direciona ao apartamento de Simone.

Não vou ao prédio dela.

Não sou tão patética a esse ponto.

Estaciono em uma rua lateral e olho para o prédio, imaginando qual daqueles quadradinhos iluminados a representa.

Simone, por que você me arruinou?

Meu celular vibra. É um nome que quase nunca vejo na tela.

Mensagem:

Simone Tebet: E aí?

Ignoro.

Tranco o carro e ajeito o casaco enquanto vou andando. Tento pensar em uma forma de responder.

Mas, francamente, nada me ocorre.

Meu orgulho está ridiculamente ferido. Eu devia ter tentado com mais afinco esta noite. Devia ter me convencido um pouco mais. Mas tenho tanto medo de tentar.

Componho uma resposta. O emoji do cocô sorrindo. Resume tudo.

Decido dar a volta no quarteirão de seu prédio, rezando para não ser sequestrada.

Mas não preciso me preocupar demais. A chuva afastou todos os stalkers, até o mais dedicado deles, das ruas. Meus saltos vermelhos ecoam alto enquanto concluo o reconhecimento da área.

É estranho andar e tentar enxergar as coisas pelos olhos de outra pessoa – pior ainda quando se trata do sua inimiga declarada.

Observo as rachaduras na calçada e me pergunto se ela pisa nelas quando anda até o mercadinho de orgânicos.

Quisera eu morar perto de um armazém assim; talvez isso me animasse a não comer tanto arroz com ovo.

Sempre suspeitei que as pessoas aparecem em nossa vida para nos ensinar alguma coisa.

Tenho certeza de que Simone nasceu para me testar. Para me empurrar além do limite.

Para me tornar mais forte. E, até certo ponto, isso tem se mostrado verdadeiro.

Passo por uma vitrine e paro, estudando meu reflexo. Esse vestido é realmente lindo.

Minhas bochechas e meus lábios estão novamente corados, em grande parte por obra do reboco que eu fiz.

Penso nas rosas.

Ainda não consigo entender.

Elas foram enviadas por Simone Tebet.

Ela foi até uma floricultura, por vontade própria, e escreveu quatro palavras em um cartão que virou todo o jogo.

Poderia ter escrito qualquer coisa. Qualquer uma das seguintes opções teria sido perfeitas:

Sinto muito; Peço desculpas; Eu agi errado; Sou uma completa idiota; A guerra terminou; Eu me rendo. Somos amigas agora.

Mas, em vez disso, aquelas quatro palavrinhas.

Você é sempre linda.

A confissão mais estranha vinda da última pessoa que eu poderia esperar.

Permito pensar na ideia que venho evitando tão claramente.

Talvez ela nunca tenha me odiado. Talvez sempre tenha me desejado.





























































Já deixou a estrelinha??? Não??

Então não vai ter continuação hoje 😔

Jogo do amor - ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora