Não consigo prender direito o cinto de segurança. Estou tão agitada que é
como se estivesse passando por uma fase de abstinência de alguma droga.
Estou na metade do caminho quando um pensamento louco se cristaliza: eu mal vejo a hora de ir trabalhar amanhã.
...
Hoje a camisa dela é da cor de um pires de creme.
Aja naturalmente, Sory. Entre como uma mulher sensual. Nada de ficar sem jeito. Vá.
Ela olha para mim, meus tornozelos tremem e eu solto a bolsa. A tampa do pote onde trago meu almoço se abre e um tomate rola pelo chão. Relaxo as mãos e os joelhos e meu salto agulha se prende no cinto solto do casaco.
– Droga! – exclamo enquanto tento me arrastar.
– Vá com calma. – Simone se levanta e se aproxima.
– Cale a boca.
Ela solta meu casaco e recolhe meu almoço antes de estender a mão para mim. Hesito por um instante antes de aceitar, permitindo que Simone me ajude a levantar.
– Posso rebobinar o filme e refazer minha entrada?
A porta do senhor Bolsonaro está aberta; as luzes, acesas. Leila costuma chegar mais tarde. Provavelmente ainda está na cama.
– Como foi sua noite, Soraya? Parece cansada.
Meu estômago afunda em consternação com o tom impessoal de Simone até
eu olhar seu rosto e perceber que seus olhos estão iluminados como o de quem está aprontando alguma travessura.
Se o senhor Bolsonaro estiver bisbilhotando, não vai ouvir nada fora do comum.
Esse é um jogo novo e perigoso, o Jogo do Aja Naturalmente, mas vou arriscar mesmo assim.
– Ah, foi boa o suficiente, acredito.
– Legal. Hum. Fez alguma coisa especial?
Ela está com o lápis na mão.
– Fiquei no sofá.
Simone se mexe em sua cadeira e eu olho para seu colo próximo a um colar de lacinho fofo.
– Olhos de assassina em série – balbucio para ela.
Sento-me na beirada da minha mesa, pego o Lança-Chamas, meu batom mais vermelho e começo a desliza-lo por meus lábios, usando a parede mais próxima como espelho.
Simone olha para as minhas pernas com uma luxúria tão exposta que quase chego a molhar a calcinha.
– E você, Simone, o que fez à noite?
– Eu tive um encontro. Pelo menos acho que foi um encontro.
– E como ela era?
– Pegajosa. Realmente se jogou em cima de mim.
Dou risada.
– Ser pegajosa não é um traço atraente. Espero que tenha se livrado dela.
– Acho que me livrei, de certo modo, sim.
– Isso vai ensinar uma boa lição a essa mulher.
Começo a ajeitar os cabelos para prendê-los em um coque alto antes de ajeitar meu vestido. É um vestido de lã creme, elástico e quente, e admito que o escolhi para combinar com a camisa dela.
Ela gosta de bibliotecárias cheias de frescuras? Hoje é isso que vai ter.
Ela observa minhas mãos. Eu observo as dela. Os nós de seus dedos estão pálidos.
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Jogo do amor - Ódio
RomanceSoraya e Simone são completamente opostas, mas obrigadas a trabalharem juntas elas aprendem a conviver na base do jogo do amor ou ódio... Uma convivência que leva ambas a descobrirem sentimentos que antes não eram sequer possíveis e que transforma a...