Café ou janta?

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Fairte, Ramez, Renata e Eduarda estão sentados à mesa perto da janela. Todos param de falar quando me aproximo. Aceno como uma boba. Todo mundo parece surpreso.

– Oi!

– Sory! Olá! – Fairte se recompõe e olha para a mesa.

Ah, não há cadeiras livres. E não estamos nem cinco minutos atrasados. Claramente não esperavam que aparecêssemos. Simone está se aproximando, ainda bem.

– Rápido, rápido! – Começo a olhar as outras mesas. – Mais cadeiras – Fairte pede.

Ela compreende perfeitamente. Se Simone chegar e vir que não tem cadeiras para nós, vai ficar muito irritada.

Ramez continua sentado no lugar reservado ao pai da família do noivo e lê seu jornal como se nada acontecesse. Não, espere.

Não é um jornal, é uma publicação médica. Jesus Cristo! Ele não faz o mínimo esforço para demonstrar que reconhece que há outras pessoas no salão.

Há uma grande movimentação e eu consigo pegar cadeiras emprestadas da mesa ao lado. Quando Simone chega com um prato de croissants e uma xícara de chá, todos estamos sentados da forma mais casual possível, tentando entregar os pratos a quem eles originalmente pertenciam.

– Bom dia – todo mundo cumprimenta.

– Oi – ela diz com precaução, ajeitando o prato e a xícara à minha frente. – Peguei os últimos para você.

É um prato repleto de croissants e morangos. Simone usa a mão para acariciar a lateral do meu pescoço.

– Quanta doçura da sua parte. Obrigada.

– Vou pegar uma coisa – avisa antes de sair.

Fairte a observa. Em parte, está entristecida; em parte, bem-humorada. Em

seguida, olha para Ramez.

Ofereço um sorriso a Renata para dizer que não estou mais chateada. Minha pele provavelmente tem aquele brilho pós-orgasmo. Ela sorri para mim em resposta.

– Como está se sentindo, senhora Tebet?

Não penso demais sobre a pergunta, mas as palavras "senhora Tebet" me dão um choque. Talvez eu seja excepcionalmente empática, mas sinto como se uma bomba atômica tivesse sido lançada. As palavras ecoam em meus ouvidos, nas paredes, e vibram em meus ossos.

"Senhora Tebet." Muito primitivo, de fato.

– Um caco. Tão cansada que é como se eu estivesse sonhando. Mas de uma maneira positiva.

Ela oferece um sorriso enorme e olha para a toalha de mesa.

– Senhora Tebet, isso parece tão...

Cobre o rosto com a mão, suspira, ri e fica sem graça. Menos, Renata.

– Nos desculpe esculpe por termos pegado uma mesa menor – Fairte começa a se explicar, mas eu já vou negando com a cabeça.

– Não tem problema. Eu quase tive que arrastar sua filha para trazê-la aqui.

Finjo estar girando uma corda sobre a cabeça e as mulheres explodem em risos. Ramez permanece em silêncio, lendo e comendo.

– Posso imaginar. Você mandando nela, ela bufando e todo nervosinha.

– Não sei por que Simone faz tanto drama com tudo – Eduarda interrompe com delicadeza antes de tomar um gole rápido de seu café.

Tenho a sensação de que é tão ocupada que faz todas as refeições em goladas e engolidas rápidas e escaldantes. Talvez seja uma característica dos médicos: engolir a comida em vez de apreciá-la.

Jogo do amor - ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora