Elevador 👩🏻‍❤️‍💋‍👩🏼

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– Duvido. – Ela parece pairar sobre mim.

Ergue a mão dos lados do meu rosto e eu começo a levantar os braços para proteger o rosto, como se estivéssemos em algum filme de terror de segunda categoria. Acabou. Ela vai me estrangular. Perdeu a sanidade.

Simone me segura pela cintura e me levanta, equilibrando minha bunda em um corrimão que eu até hoje sequer tinha percebido que existia. Meus braços se apoiam em seus ombros e meu vestido desliza até a parte superior das coxas. Quando ela olha para baixo, deixa escapar uma expiração esgotada, que soa como se eu a estivesse estrangulando.

– Me coloque no chão. Isso não tem graça nenhuma! – Meus pés se debatem, mas é inútil.

Não é a primeira vez que uma garota grandona joga seu peso sobre mim. Na terceira série, Paolla Oliveira me colocou sobre o capô do carro do diretor e saiu correndo, dando risada. O fardo das pessoas pequenas... Não há dignidade alguma para nós neste mundo feito para os grandalhões.

– Venha aqui perto um segundo. – Por que ela tá fazendo isso?

– Para quê? – Pergunto com a respiração pesada.

Tento descer, mas ela abre a mão em minha cintura e me pressiona contra a parede. Aperto seus ombros até chegar à conclusão de que seu corpo é formado por músculos fortes debaixo daqueles terninhos.

– Puta merda! – Sua clavícula é como um pé de cabra sob as minhas palmas. Digo a única coisa idiota que me vem à mente: – Músculos. Ossos.

– Obrigada, senhorita Thronicke.

Estamos as duas desesperadas por ar.

Quando pressiono a perna contra seu corpo para me equilibrar, suas mãos envolvem minha panturrilha.

Quando ela coloca a mão em meu maxilar e inclina a minha cabeça para trás, espero que comece a me enforcar. A qualquer momento seus dedos vão começar a apertar e a minha morte vai começar.

Nariz com nariz. Respiração contra respiração. A ponta de um dos dedos está atrás do lóbulo de minha orelha e eu estremeço quando ela desliza.

– Moranguinho... – A palavra doce se dissolve e eu engulo em seco. – Eu não vou te matar. Como você é dramática!

Em seguida, ela pressiona a boca levemente contra a minha.

Nenhuma de nós fecha os olhos. Encaramo-nos como sempre, mais perto do que nunca.

Suas íris são contornadas por castanho e preto. Seus cílios baixam e ela me observa como uma expressão que parece ser de ressentimento.

Seus dentes prendem meu lábio inferior em uma mordida fraca e sou inteiramente tomada por ondas de arrepios. Meus mamilos se contraem. Meus dedos dos pés se curvam dentro do sapato. Acidentalmente toco-o com a língua quando faço uma varredura em busca dos danos, embora não tenha sentido nenhuma dor.

Meu cérebro gira irremediavelmente tentando encontrar explicações para o que está acontecendo e meu corpo começa a recuperar a força.

Quando ela vem em minha direção outra vez e começa a movimentar sua boca contra a minha, abrindo-a suavemente, a ficha cai.
SIMONE . TEBET. ESTÁ. ME. BEIJANDO.

Por alguns segundos, fico congelada. Parece que esqueci como se beija. Tanto tempo já se passou desde que essa deixou de ser uma atividade cotidiana. Parecendo não se importar, ela usa a língua para explicar as regras.

Com sua língua na minha ela explica "O Jogo do Beijo". Ele funciona assim, Moranguinho:

Pressione, recolha, incline, respire, repita. Use as mãos para encontrar o ângulo. Solte-se até sentir o deslizar lento e úmido. Está ouvindo seu sangue pulsar nos ouvidos? Sobreviva com pequenas lufadas de ar. Não pare. Não pense em parar. Deixe um suspiro escapar, afaste-se, deixe o oponente capturá-la com os lábios ou os dentes e relaxe em uma sensação ainda mais profunda. Mais úmida. Sinta suas terminações nervosas ganharem vida a cada toque de língua. Sinta um novo peso entre as pernas.

O objetivo do jogo é fazer isso pelo resto da sua vida. Que se dane a civilização humana e tudo o que ela significa. Agora, esse elevador é nossa casa. Agora, isso é o que fazemos.

Porra, não pare.

Ela está disposta a me testar, então se afasta por um instante. A regra básica foi desobedecida. Puxo sua boca de volta para perto da minha, mantendo a mão fechada no colarinho de sua camisa. Sou uma aluna que aprende rápido e ela é a professora perfeita.

O beijo tem o sabor daquelas balinhas que ela vive chupando. Quem no mundo chupa bala de menta? Experimentei uma vez, mas queimaram minha boca. Ela faz isso para me irritar. Já percebi a diversão em seus olhos ao me ver irritada. Agora eu o mordisco em retaliação, mas isso a faz chegar mais perto de mim, com o corpo rígido, esquentando todos os pontos de contato entre nós.

Nossos dentes se encostam.

Que porra é essa que está acontecendo. Questiono silenciosamente com meu beijo.

Cala a boca, Moranguinho. Eu te odeio.

Se fôssemos atores em um filme, eu estaria trombando com as paredes, botões se abrindo, minha meia arrastão toda rasgada, meus sapatos caindo. Em vez disso, esse beijo é decadente. Estamos apoiados em uma parede banhada pelo sol, chupando sorvete de casquinha, rapidamente sucumbindo ao calor e às alucinações que não fazem o menor sentido.

Aqui, chegue um pouco mais perto, está tudo derretendo. Dê uma lambida no meu e eu sem dúvida vou lamber o seu.

A gravidade me agarra pelo tornozelo e começa a me arrastar pelo corrimão. Simone me ancora ainda mais com a mão na parte traseira da minha coxa. Ao deixar de sentir sua boca por um breve segundo, rosno em frustração. Volte aqui, sua quebradora de regras. Ela é inteligente o suficiente para obedecer.

O som que ela emite em resposta é como um "ahh". O tipo de som que as pessoas deixam escapar quando descobrem algo inesperado e agradável. Aquele som de "eu deveria ter imaginado".

Seus lábios se curvam e eu lhe toco o rosto. O primeiro sorriso que Simone exibiu em minha presença está junto ao meu lábio.

Espantada, eu me afasto. E, em um milésimo de segundo, seu rosto aparece outra vez sério, mas dessa vez enrubescido.

Um chiado duro sai do autofalante do elevador e nós dois nos assustamos. – Está tudo bem aí?

Ficamos congelados. Flagrante. Simone reage primeiro, inclinando o corpo
para apertar o botão no painel.

– Trombei com o botão. – Ela é ótima sob pressão.

Lentamente me coloca de volta no chão e se afasta um pouco. Apoio o cotovelo no corrimão e minhas pernas deslizam como se eu estivesse de patins.

Jogo do amor - ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora