– Fico o tempo todo na expectativa de que sua irmãzinha invada o restaurante a qualquer momento e te arraste para fora daqui. É como se você tivesse que ir embora cedo porque amanhã tem aula ou algo assim – Pacheco conta enquanto levo uma colherada de sorvete de limão à boca.
– Tenho certeza de que ela está esperando em algum carro aí fora, pronta para atropelar você. – Minhas palavras não saem exatamente em tom de piada.
A garçonete se aproxima para perguntar se desejamos mais alguma coisa. Repetimos que tudo estava delicioso.
Tudo é impressionantemente perfeito.
Talhas de mesa xadrez e velas. Música romântica e eu usando um lindo vestido e batom vermelhos.
A única coisa que me impede de cochilar é o leve frio na barriga quando penso no quase inevitável beijo que está por vir esta noite.
– Preciso perguntar. Você está... solteira? Disponível? Senti um clima. Você e ela não...?
– Sim, não. Não! Clima nenhum! Clima nenhum, certeza. Estou solteira.
E aí repito essas palavras algumas vezes mais para mim mesma.
Rodrigo não parece convencido. Acho que exagerei, sério.
Um golpe de pânico invade meu ser.
Se alguém suspeitar que Simone e eu estamos envolvidas de algum jeito, haverá repercussões.
Em termos de reputação.
Em termos de RH.
Em termos de dignidade.
Me lembro dos olhares e cutucões entre algumas mulheres depois do jogo de paintball e estremeço pensando que a coisa pode ter fugido do controle.
– Muita gente já ficou com muita gente lá na empresa. Janja e Lula... Nossa, aquilo foi um desastre – Rodrigo conta com um sorriso malvado.
Ele curte uma fofoca, já percebi.
Arqueia a sobrancelha na esperança de que eu tenha algum escândalo suculento para dividir, mas eu aceno uma negação.
– Ninguém conversa comigo no trabalho. O pessoal pensa que eu vou contar tudo para os chefes.
– É verdade que a Simone concluiu o primeiro ano da faculdade de Medicina?
– Não sei. Mas os pais e a irmã dela são médicos.
– Sempre vivemos esperando que ela deixasse a JB Leitura para se
tornar proctologista ou algo assim.
Só consigo dar risada.
– Então, você teve algum fim de relacionamento trágico no passado ou
algo assim? – A curiosidade de Rodrigo parece sincera. – Acho que estou tentando descobrir por que está solteira.
– Andei meio sem tempo para sair com homens ou mulheres e não ando me esforçando o suficiente para fazer novos amigos depois que perdi contato com o pessoal da Saraiva, depois da fusão. Meu trabalho tomou conta da minha vida.
Trabalhar para um CEO não é exatamente um emprego que se restringe ao horário comercial.
– Você é bissexual? Estou surpreso. Mas o que era aquela rosa na sua mesa? – Ele arqueia a sobrancelha esperançoso.
– Foi uma brincadeira.
Pacheco espera que eu desenvolva minha resposta. Ao perceber que não vou dar mais detalhes, desiste e muda de assunto:
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Jogo do amor - Ódio
RomanceSoraya e Simone são completamente opostas, mas obrigadas a trabalharem juntas elas aprendem a conviver na base do jogo do amor ou ódio... Uma convivência que leva ambas a descobrirem sentimentos que antes não eram sequer possíveis e que transforma a...