Agora estou no País de Simone. Sento-me em sua cadeira e vejo tudo através dos olhos dela. Sua cadeira é tão alta que meus pés não tocam o chão. Afundo-me um pouco mais na superfície de couro. Parece um gesto completamente obsceno. Mantenho um olho constantemente atento ao elevador e uso o outro para examinar a mesa em busca de pistas.
Sua mesa é uma versão organizada da minha. Post-its azuis e transparentes. Um lápis apontado junto às suas três canetas. Em vez de batom, ela tem uma caixinha de balas de hortelã. Roubo uma e a guardo no bolso minúsculo e até então inutilizado da minha saia. Imagino-me na sessão de laxantes de uma farmácia, tentando encontrar uma pílula que se pareça com as balinhas, e dou risada. Puxo a gaveta. Está trancada, assim como o computador. Quase uma base militar. Muito bem, Tebet. Tentei adivinhar sua senha. Talvez ela não me odeie tanto assim.
Não há nenhum porta-retratos com a imagem do marido ou de um ente querido. Nenhuma fotografia de cachorro feliz ou de um momento em uma praia tropical. Duvido que goste tanto de alguém a ponto de enquadrar esse amor. Durante um dos ataques de Simone, Gordo do Pinto Pequeno certa vez falou com sarcasmo: "Você está precisando transar, doutora Tebet".
Simone respondeu: "O senhor está certo, chefe. Eu bem sei o que uma seca pode fazer com alguém." E disse isso olhando para mim. Sei qual foi a data. Registrei tudo no meu diário do RH.
Sinto um formigar na narina. A colônia de Simone? Os feromônios que ela lança por seus poros? Que nojo. Abro sua agenda e percebo uma coisa: um código marcado a lápis, bem fraquinho, percorrendo as colunas de cada dia. Sentindo-me como James Bond, puxo o celular e tiro uma única fotografia.
Ouço cabos de elevador em movimento e me levanto com um salto. Avanço até o outro lado de sua mesa e consigo fechar a agenda antes de as portas se abrirem e ela aparecer. Sua cadeira continua girando levemente, conforme noto de canto de olho. Flagrante.
Olá Moranguinhos, espero que tenham ficado curiosos com o enredo, deixa a estrela e um comentário para eu saber sua opinião.
Obrigada por lerem!
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Jogo do amor - Ódio
عاطفيةSoraya e Simone são completamente opostas, mas obrigadas a trabalharem juntas elas aprendem a conviver na base do jogo do amor ou ódio... Uma convivência que leva ambas a descobrirem sentimentos que antes não eram sequer possíveis e que transforma a...