Você foi gentil, droga

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Resisto à necessidade de olhar para a esquerda. Ou Simone está em sua mesa, testemunhando esse momento, ou ainda não chegou. A tensão de não saber é sufocante.

– Jantar? O que acha de jantarmos mais tarde? Mal não vai fazer, certo?

– Claro. – Concordo só para vê-lo ir embora.

Ele exibe um leve risinho quando me entrega as margaridas, e eu consigo sorrir.

Lentamente dou meia-volta.

No passado, esse teria sido um momento de triunfo. Já sonhei acordada com algo assim.

Mas, quando vejo Simone sentada em sua mesa, separando seus documentos em algumas pilhas, sinto vontade de rebobinar o tempo.

Estamos jogando um jogo novo. Embora eu desconheça as regras, sei que acabei de errar feio. Deixo as margaridas no canto da mesa e tiro o casaco.

– Oi, tudo bem? – Pacheco cumprimenta Simone, que solta o corpo na cadeira naquela pose que a faz parecer uma chefe.

– Você não trabalha mais aqui.

Simone definitivamente não quer saber de cortesias.

– Dei uma carona a Sory e pensei em passar aqui para ter certeza de que não estou pisando no seu calo.

– O que quer dizer com isso?

Os olhos de Simone brilham como uma faca afiada.

– Veja, sei que você é muito protetora com a Soso, mas eu tenho sido legal com ela, não tenho?

Só consigo gaguejar:

– Si-sim, claro. – Minha voz saiu baixa e rouca.

Meu Deus, Simone vai matar ele.

Para um cara que está diante de alguém do ego do tamanho do da Simone, Rodrigo demonstra uma coragem impressionante.

E tenta outra vez:

– Quero dizer, você sem dúvida tem algum problema. Foi uma idiota completa ao telefone na sexta-feira.

– Ela tinha acabado de vomitar na própria roupa. Eu já estava enfrentando problemas suficientes para agir também como secretária dela.

– Sua irmã mais velha e protetora é um assunto sobre o qual ainda precisamos conversar. – Rodrigo lança para mim.

– Falem mais baixo! – sussurro – A porta do senhor Bolsonaro está aberta.

– Bem, ninguém é bom o suficiente para minha irmãzinha.

A voz de Simone está carregada de sarcasmo, mas ainda assim me sinto

diminuída. Esta é a pior das manhãs.

– E você está certa. Eu não trabalho mais aqui, então tenho liberdade para sair com a Soraya, se eu quiser. – Pacheco olha para mim e para minha mesa e arqueia as sobrancelhas. – Veja só. O romance não está morto.

Simone fecha a cara e cutuca a unha do polegar.

– Dê o fora daqui antes que eu o expulse.

Rodrigo beija minha bochecha e tenho quase certeza de que fez isso porque há um público aqui. Foi um movimento mesquinho de sua parte.

– Telefonarei mais tarde para falarmos sobre o jantar, So. E nós dois provavelmente teremos que voltar a conversar, Simone.

– Tchau, cara – Simone diz com uma voz superfalsa.

E nós duas vemos Pacheco entrar no elevador.

O senhor Bolsonaro dá uma bufada exagerada em sua mesa e finalmente

Jogo do amor - ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora